29 de março de 2014
Sabotagens
e trapaças
tomam internet
Perfis falsos sobre candidatos são criados e turbinados por artimanhas; Ministério Público cria até força-tarefa para vasculhar
redes sociais
Pedro
Venceslau, Mateus Coutinho
e Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo
Enquanto o Ministério Público
se organiza nos Estados para monitorar as redes sociais dos pré-candidatos,
políticos descobrem um mercado negro virtual que ameaça criar uma guerrilha
subterrânea nas campanhas deste ano. Diariamente surgem no Twitter, Facebook e
Instagram perfis falsos que são usados para atacar adversários ou fazer
propaganda antecipada, o que é vetado pela Justiça Eleitoral.
Veja também:
Quem navega pelo Facebook, por exemplo, encontra pelo menos 20
páginas diferentes com o nome Aécio Neves, mais de 50 com Dilma Rousseff e
outra dezena com Eduardo Campos. Nessa conta estão incluídos perfis positivos e
negativos, sendo alguns bastante agressivos. No YouTube estão publicados centenas
de vídeos sobre o trio presidenciável, sendo que em muitos é impossível
identificar o autor.
"A internet é um poderoso veículo de comunicação, mas está
servindo também para a propagação de atos ilícitos", afirma o procurador
regional eleitoral do Rio de Janeiro, Paulo Roberto Bérenger. Ele comanda uma
força-tarefa, criada na semana passada, para vasculhar sites de políticos em
busca de perfis falsos ou anônimos.
Apesar de a criação de perfis nas redes ser relativamente
simples, dar credibilidade a eles e mantê-los no ar é um processo que exige
investimento.
Programadores e hackers ouvidos pelo Estado sob condição de
anonimato fizeram demonstrações de como é fácil criar um perfil falso no
Twitter ou no Facebook e depois acrescentar centenas de milhares de seguidores
da noite para o dia, simular visualizações no YouTube e adquirir softwares para
despistar o IP (número de registro do computador na rede, o que dificulta o
rastreamento dos usuários).
Cardápio.
Sites como boostlikes.com e authenticlikes.com cobram US$ 550 (R$ 1,2 mil) por um pacote de 50 mil
curtidas.
Já o sansexpand.com cobra US$ 90 (R$ 2o3) por 100 comentários no
Facebook.
O usuário envia 100 pequenos textos em português e indica onde eles
devem ser postados.
Já o site soft-news.net oferece por US$ 150 (R$ 339) um software
chamado blogcomentposter. Ele é usado para criar uma avalanche de comentários
em portais e blogs. O objetivo é influenciar as "buscas relacionadas"
do Google e ligar o nome de alguém a alguma coisa.
"Esse tipo de ferramenta está sendo usada, por exemplo,
para que o Google conecte a palavra Aécio a termos como ‘desvio’ e ‘drogas’ na
busca relacionada. Nossos levantamentos mostram que os comentários ligando
Aécio a essas palavras são muito parecidos, embora estejam postados em vários
lugares diferentes", diz o publicitário mineiro Pedro Guadalupe, dono da
agência Statis.
Especializada em marketing digital, a agência presta
consultoria para a equipe do provável candidato do PSDB à Presidência. Com base
nesse argumento, advogados do tucano entraram na Justiça para pedir a remoção
de diversos links e perfis em sites de buscas e redes sociais da internet.
Eficácia.
"Alguns candidatos
parecem mesmo estar usando robôs e comprando ‘likes’. Essa é uma tática eficaz
para ampliar rapidamente o número de seguidores e está disseminada em todas as
correntes políticas", avalia o sociólogo Sérgio Amadeu, pesquisador de
redes sociais da Universidade Federal do ABC e responsável pela análise de
redes sociais das campanhas dos petistas Fernando Haddad para prefeito em 2012
e Aloizio Mercadante para governador em 2010. Ele diz que essas táticas, já
utilizadas no mercado publicitário, seduzem os políticos, mas não são eficazes.
"Eles apostam que os internautas se impressionam com um número grande de
seguidores. Mas a longo prazo isso não funciona."
Para se "blindar" contra ataques nas redes sociais,
petistas e tucanos estão montando núcleos de "ativistas virtuais".
Entre os dias 18 e 20 de abril, o PT realizará um evento no interior de São
Paulo para treinar seus militantes a atuar no ambiente virtual. Na mesma linha,
os tucanos estão buscando "voluntários" ativistas virtuais em todo o
País para aprender a como agir nas redes sociais.
Os dois lados se acusam mutuamente de disseminar conteúdo
negativo contra os adversários na internet, mas negam que responderão da mesma
forma.
Regras.
O Twitter informou que não
monitora nem edita conteúdos dos usuários, desde que respeitem os termos do
serviço. Dentre eles estão proibições de várias práticas, como a criação de
contas em série, criação de contas com o objetivo de vendê-las, criação de
contas para envio de conteúdo abusivo a outros usuários, envio de spams e
publicação de mensagens repetidas.
O Google disse que remove de seus sites conteúdo ilegal ou que
viole termos de uso da empresa.
O Facebook não se manifestou.
Jogo sujo na rede
Compra de likes
Compra de likes
É possível comprar pacotes de "likes" ou "curtidas" do Facebook em sites especializados. Cada 50 mil curtidas pode sair a um custo de US$ 550
Compra de seguidores
No microblog Twitter, os preços podem ficar mais em conta: é possível "comprar" um pacote de 500 seguidores por US$ 15
Compra de visualizações
No YouTube, 50 mil visualizações feitas por robôs custam US$ 80 dólares
Compra de comentários em blogs
Por US$ 150 dólares, é possível adquirir um software que automatiza o processo de produção de comentários. Isso contribui para a manipulação de sites de busca
Camuflar IP
É possível baixar de graça um programa que camufla o IP (o registro do usuário do computador). Dessa forma, o usuário jamais será rastreado
Perfil falso
É fácil criar um perfil falso no Facebook ou no Instagram para fazer propaganda antecipada ou atacar adversários. Em caso de condenação pelo TSE, o "dono" dá pagina jamais será localizado. E o partido pode alegar que não sabia da iniciativa
Black Hat
Técnica utilizada para enganar mecanismos de busca. Entre elas está o Link Farm, que cria milhares de sites falsos que publicam uma notícia específica para potencializar um tema ou hashtag nas buscas no Google