domingo, 27 de abril de 2014

BRIGA DE FOICE,... NO ESCURO:

PUBLICADO EM 27/04/14
ENTREVISTA
‘Se Lacerda se opuser a mim,
será constrangedor para ele’

Apolo Heringer Pré-candidato do PSB-Rede ao governo do Estado


CARLA KREEFFT
Em meio às pressões nacionais por um acordo entre Eduardo Campos e Aécio Neves para derrotar Dilma, Heringer conta com apoio de Marina Silva para abrir caminho dentro do PSB, consolidar as bases da Rede e, principalmente, ser uma alternativa política em MG.
Por que lançar uma candidatura própria do PSB no Estado num momento em que a direção partidária nacional fala em aliança com o PSDB – um acordo entre Minas e Pernambuco?

A direção da Rede nacional nega que haja esse acordo, e ouviu isso do próprio Eduardo (Campos). Eu acho que não deve ter acordo porque não fica bem um acordo secreto, que a sociedade não tenha conhecimento, nem os militantes do PSB. Ainda mais que o Eduardo vai ser candidato a presidente da República em uma aliança com a Marina Silva. Essa aliança diz que o Brasil precisa de uma alternativa a esse ciclo já viciado de governo do PT-PSDB. Esse acordo não tem lógica matemática: Minas Gerais tem quase 300.000 eleitores a mais que Pernambuco; e não tem lógica política: o PSB tem candidato a presidente da República. O Aécio Neves e o Eduardo, em princípio, estariam disputando a vaga para o segundo turno, e eles se sobrepõem porque cada um quer vencer esse pleito. Eu acho até que o Eduardo Campos e a Marina têm condições de vencer o PT num eventual segundo turno. Já o PSDB vai ter mais dificuldade, pois possui uma grande rejeição.

Você então afirma que vai haver uma decisão nacional pela candidatura própria em Minas?

Eu acredito, e é o que a Rede também acha. Você pode até fazer aliança num segundo turno em função de outras variáveis, mas no primeiro turno os partidos têm que apresentar suas propostas. O espírito da lei eleitoral brasileira em dois turnos é para isso, não é para brincadeira, não é para falsificar resultados em primeiro turno. Ações de partidos com empregos e cargos, isso, para mim, está muito próximo da corrupção. Eu acredito que vai haver candidatura própria do PSB, até os candidatos a deputados têm interesse nisso.

Qual a relação do grupo que constitui a Rede com o próprio PSB? Você acredita que a sua candidatura possa unir esses grupos?

Eu acho que a candidatura pode unir quem defende a candidatura própria e quem é independente, além de criar um novo posto estratégico para quem teve seu lugar excluído no jogo viciado entre o PT e o PSDB. As pessoas que já estão definidas, que já estão comprometidas dentro do esquema eleitoral do PSDB não vão me apoiar – eles apoiam o Pimenta da Veiga. As pessoas que querem candidatura própria podem me apoiar, ainda mais, se, num plano nacional, a Marina e o Eduardo apontarem para essa solução. Marina está levando para o Eduardo uma simpatia, um verniz do novo. Ela tem esse carisma de uma pessoa que veio da pobreza, que teve uma imagem muito positiva. Eu acho que tem que haver reciprocidade nessa aliança. Você não pode ter aliança só com a cara tradicional do PSB. Você tem que ter nessa aliança Estados da Rede também porque isso facilita a campanha da Marina e do Eduardo. Quando alguém disser que eles são profissionais que estão fazendo aliança com PSDB no Paraná e Santa Catarina, eles poderão dizer: “não, lá em Minas, o Apolo já é candidato”. Então, facilita, a campanha deles. Agora, se eles fizerem aliança com o PSDB no primeiro turno, quebrarão o discurso eleitoral que fundou a Rede, que fundou a aliança com o PSB.
Se a gente não cuidar disso, se a gente perder a coerência, fica fácil para o PT atacar e destruir a aliança entre Marina e Eduardo Campos, que é uma aliança cheia de contradições e a gente sabe disso.

Você acha que o PSB acabará tendo uma convenção e decidindo seu caminho?

Eu sou filiado ao PSB e não era ligado a partido nenhum desde 1988. Agora, eu tenho direito de ir à convenção. Só não poderia se houver intervenção. Então, até o final de junho o meu nome vai estar sendo discutido como pré-candidato ao governo de Minas pelo PSB. Tive uma reunião com a Marina em São Paulo, e nós encaminhamos uma agenda com Eduardo Campos e pedimos, o mais rápido possível, uma conversa minha com ele na presença dela. Nós estamos trabalhando o PSB em Minas. Temos algumas pessoas que apoiam isso, uma dela é o Mario Assad, vice-presidente do diretório Estado. Temos antigos membros do PSB apoiando, pessoas que foram excluídas nesse processo que incluiu a intervenção de Anthony Garotinho e da presidência de Walfrido Mares Guia, mas que têm influência do PSB e essa ideologia de independência. É uma luta difícil porque o PSB chegou a ter três secretarias do governo em Minas. Quando tem secretarias, tem empregos, e gera uma série de cumplicidades. Aí, o jogo do poder fala mais alto que o jogo da mudança. Esse é o grande problema do Brasil, que está afetando todos os partidos: eles esqueceram a necessidade do povo por mudança – esse mesmo povo que fez manifestações no ano passado nas ruas – e que é o sentimento generalizado. Eles cuidaram só de sobreviver, e sobreviver. Então o objetivo de manter o poder eclipsou o desejo maior do povo que é o de mudar. Na hora que surgir uma campanha, ocupando esse espaço vazio – porque PT-PSDB acabaram ocupando o mesmo espaço – eu acho que vou ocupar esse espaço imenso e ganhar essa eleição. Eu não acho que eu estou entrando para fazer propaganda de ideias, eu estou entrando pra ganhar a eleição.

Como você espera fazer o convencimento dentro do PSB?

O PSB já está sendo trabalhado pela parte da população que tem apoiado a minha candidatura. Pessoas do interior comentam, e esses comentários chegam ao PSB. Eles estão vendo que as pessoas não querem nem o Pimenta da Veiga nem o Fernando Pimentel. Quem quer mesmo são os militantes, eles estão lutando pela sobrevivência. Por outro lado, eu telefonei para algumas pessoas do PSB que eu conheço, como Daniel Nepomuceno, Maria Elvira, João Grossi, convidando-os para um lançamento mais formal da minha pré-candidatura (hoje). Eu telefonei para o Marcio Lacerda e falei: “nós esperamos sua decisão, seu tempo, e agora esperamos que você não vá se opor à minha candidatura”. Eu sei que ele está apoiando o PSDB, e tenho a impressão de que ele não vai se opor, pois vai ser constrangedor para ele. Já tive duas reuniões com Júlio Delgado. Então, contando também com essa reunião com Eduardo Campos e com a intervenção da Marina. Cobramos uma intervenção mais definida dela junto ao Eduardo Campos. Minas não pode ficar tratada desse jeito, como se fosse um Estado que entra numa negociação como lambuja.

Marina fará intervenção?

Ela ficou entusiasmada com a minha candidatura, vai mandar uma mensagem pra convenção. A Marina fica com dificuldade de fazer uma presença pessoal nesse momento, porque ela e o Eduardo têm um acordo de um não atropelar o outro.

Você está falando que sua candidatura terá propostas bem embasadas de conteúdo. Esse será seu mote?

Todo problemas que eu não entender, vou perguntar: “como é que resolve?”. Tudo o que eu puder, eu vou entrar nos detalhes e fazer a proposta. Não pode haver mais política com jogo mentiroso. Então, tem que ter soluções para os problemas de agricultura, saúde, transporte, educação. Isso vai ser colocado claramente. Um governador de Minas não pode falar: “só vou cuidar do meio ambiente”. Temos um processo econômico: temos que conversar sobre emprego. Podem ter coisas erradas que vão ter que ser conservadas até fazer a transição. Você não pode parar, senão as pessoas derrubam o governo, mas, se você explicar ao povo, ele vai entender e apoiar. É uma luta dura, vai exigir uma luta de vida, é uma missão. Na política nova, os segmentos são legítimos, e a segurança tem que ser forte, porque não se pode conviver com impunidade. E eu defendo os direitos humanos, mas não a impunidade, porque temos que ter a segurança das pessoas. Esse tipo de conversa vai surpreender muita gente, que tem uma ideia minha só de ambientalista e poeta e não é nada disso.