247 - O
jornal Estado de S. Paulo, da família Mesquita, publica, nesta terça-feira, uma
informação crucial e que, em tese, poderia retirar o ex-ministro Alexandre
Padilha da fogueira em que foi atirado desde que a Polícia Federal vazou um
trecho da Operação Lava Jato, em que o deputado André Vargas (sem partido-PR)
dispara um torpedo para o doleiro Alberto Youssef, dizendo "foi o Padilha
quem indicou", referindo-se ao executivo Marcus Cezar Moura, contratado
pelo Labogen.
Esta
frase aproximou o ex-ministro e pré-candidato do PT ao governo de São Paulo do
escândalo do laboratório Labogen, acusado pela Polícia Federal de lavar US$ 113
milhões e de tentar entrar, sem dispor de qualificações, no Ministério da
Saúde. Por isso mesmo, na última sexta-feira, Padilha concedeu entrevista
coletiva para negar que tivesse indicado Moura para o cargo, prometendo ainda
interpelar judicialmente o deputado André Vargas.
Pois
bem: nesta terça, o Estado publica uma reportagem sobre o caso depois de ouvir
Leonardo Meirelles, um dos sócios do laboratório. Eis um trecho:
"O
sócio do negócio controlado por Youssef diz que o ex-assessor de Padilha não
chegou por indicação do ex-ministro, mas sim de outro personagem do escândalo
da Lava Jato. Segundo o sócio da Labogen, a indicação de Moura foi feita pelo
fundo GPI Participações, controlado por Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do
governo Fernando Collor (1990-1992). Pedro Paulo, conhecido como PP, é suspeito
de integrar o esquema de Youssef. "Ele (Moura) veio através desse fundo de
investimentos. Não tive nenhuma influência (na contratação) e nenhum contato
com o ex-ministro (Padilha)."
Qual
poderia ser, portanto, a manchete do jornal desta terça-feira do jornal Estado
de S. Paulo? "Sócio do Labogen nega que Padilha tenha indicado
diretor". No entanto, qual foi a escolha editorial da casa chefiada pela
família Mesquita? "Ex-assessor de Padilha era canal com Saúde, diz
Labogen".
O
que justifica essa decisão? O fato de Leonardo Meirelles ter dito que Marcus
Cezar Moura foi contratado para fazer "contatos institucionais" com o
Ministério da Saúde. Ora, se ele foi contratado como diretor de relações
institucionais, exatamente por conhecer a estrutura do órgão, o que se esperava
que ele fizesse? Ressalte-se que, qualquer grande empresa, seja na saúde ou em
outras áreas, possui diretores de relações institucionais, que muitas vezes são
chamados de lobistas, justamente para lidar com os poderes constituídos, seja
no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário.
Portanto,
entre uma notícia relevante, que era favorável a Padilha, e uma irrelevante,
que contribui para a cortina de fumaça em torno do caso, o jornal da família
Mesquita optou pela segunda alternativa. Assim como também fizeram outros
veículos de comunicação, como Folha, Uol e Globo.
Roda Viva
Ontem,
o ex-ministro Padilha foi ao programa Roda Viva, onde teve a oportunidade de
falar sobre o caso. “A única citação que é feita a mim (no relatório da PF) é
por conversa de terceiros, alheios ao Ministério da Saúde. Fiz questão,
inclusive, de interpelar formalmente a própria Polícia Federal para ter acesso
ao relatório completo. E também meu advogado já foi para o Paraná hoje e amanhã
chega a Brasília fazendo uma interpelação direta ao deputado André Vargas,
porque naqueles trechos divulgados pela imprensa ele faz uma citação que não é
verdadeira. Mente quem disse que indiquei o Marcus Cezar”, disse.
Segundo
ele, Vargas o procurou pessoalmente no fim do ano passado, propondo uma
parceria entre o laboratório Labogen e o Ministério da Saúde: “Sou ministro da
Saúde e recebo o vice-presidente da Câmara, inclusive eleito para esse cargo
por outros partidos, entre eles os da oposição. E esse é o papel do ministro.
Se existisse alguma irregularidade (na parceria), filtros que eu criei
impediriam que isso pudesse acontecer”.