4 DE MAIO DE 2014
PML: FALA DE DILMA FEZ
OPOSIÇÃO FICAR NA DEFENSIVA
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- O jornalista Paulo
Moreira Leite, da IstoÉ, acredita que o pronunciamento da presidente Dilma
Rousseff às vésperas do 1º de Maio "traçou uma linha divisória na
campanha presidencial" e fez com que a oposição "dormisse na
ofensiva e acordasse na defensiva". Na festa da Força Sindical, na
quinta-feira, em vez de anunciar suas propostas, Aécio Neves e Eduardo Campos
tiveram que comentar as propostas da candidata do PT, que anunciou, em sua
fala, o reajuste do Bolsa Família, a correção das alíquotas do Imposto de Renda
e a política de valorização do salário mínimo.
Leia abaixo seu artigo:
A CAMPANHA COMEÇOU
Dilma deixou a mensagem de que o país pode não
estar muito bem com ela mas estará muito pior com seus adversários.
E agora?
O pronunciamento de
Dilma Rousseff, na véspera do 1 de Maio, foi o ato inicial da campanha
presidencial de 2014.
Ao defender o aumento de 10% no Bolsa Família, a correção das
alíquotas do Imposto de Renda e a política de valorização do Salário Mínimo,
Dilma traçou uma linha divisória na campanha presidencial.
Essas medidas pegaram a oposição de surpresa e amarelaram os
sorrisos do PSDB e do PSB no palanque da Força Sindical, no dia seguinte, em
São Paulo. Em vez de anunciar suas propostas, Aécio Neves e Eduardo Campos
tiveram de comentar as propostas de Dilma.
Dormiram na ofensiva e acordaram na defensiva.
Tudo estava pronto para transformar a defesa da lei do Salário
Mínimo, obra do governo Lula, em bandeira da oposição.
A Lei vai expirar en 2015 e, de olho no eleitorado trabalhador, o
deputado Paulinho da Força já tinha apresentado um projeto de lei no Congresso.
Num texto assinado em
companhia de um parlamentar do Solidariedade e de outro do PSDB, Paulinho
reconhece a atuação do governo Lula-Dilma quando diz, no preâmbulo, que
"nesses últimos anos o Brasil vem enfrentando profundas mudanças,
sobretudo no âmbito social". O projeto de lei é favorável a renovação da
lei em vigor.
Era, naquele momento, uma tentativa de deixar o governo na
defensiva. Teria, sem dúvida, apoio popular durante a campanha, não mais do que
isso. O pré-Ministro da Fazenda de Aécio Neves, Armínio Fraga, já deixou claro
que acha o mínimo alto demais.
O pronunciamento de Dilma eliminou essa possibilidade.
O mesmo vale para o Bolsa Família, revalorizado em 10%, e a
correção do imposto de renda, em 4,5%.
A oposição, que sempre bateu no Bolsa-Preguiça ou mesmo
Bolsa-Esmola, agora é obrigada a dizer que os benefícios subiram pouco.
Risos.
Nem é preciso dizer quem ficou perdendo no debate.
Falar em correção integral do IR é uma maravilha para quem está
na oposição – como sabem todos aqueles que já tiveram de fechar contas
públicas, inclusive reservando dinheiro para os lucros dos bancos e dos
especuladores financeiros, e não para a melhoria da vida dos pobres.
Você sabe a verdade secreta: ajuda para os pobres é desperdício e
demagogia. Pacote de bondades. Eleitoreiro,
Para os bem situados, é investimento e justiça. Pacote de bom
senso.
É difícil saber até onde poderia ter ido a correção. Ninguém gosta
de pagar imposto.
Mas é bom entender a lição básica: a turma que denunciar a
"carga tributária" também adora esconder para quem se destinam os
tributos que recolhe. A lógica é simples: Estado mais pobre significa menos
dinheiro para os mais pobres -- mesmo que uma parte dos recursos continue
chegando aos muito ricos.
A confusão no palanque da Força, mais uma vez, confundiu
políticos e jornalistas. Estes descrevem um mundo em que tudo é festa.
Depois que Paulinho causou constrangimento ao falar que Dilma
acabaria na Papuda, até Aécio achou melhor procurar outras companhias.
Chegou a dizer para o secretário geral da Força, João Carlos
Juruna Gonçalves, que ele deveria entrar para a campanha do PSDB. A Força é uma
central que abriga várias correntes políticas.
"Fizemos uma festa democrática, onde os interesses dos
trabalhadores estão acima das convicções partidárias," diz Juruna.
"Nosso compromisso é com os assalariados." Há dirigentes da Força
alinhados com Aécio, como Paulinho. Outro apóiam Eduardo Campos. Juruna fez
campanha por Lula em 2006, por Dilma em 2010 e planeja seguir o mesmo caminho
em 2014.
Ao defender reivindicações ligadas aos interesses dos
trabalhadores e dos mais pobres, Dilma marca o território e obriga a oposição a
buscar votos num terreno desfavorável. O apoio irrestrito de Lula ajuda a
reforçar essa situação.
Como já foi dito, estamos assistindo a reconstrução de políticas
de classe.
Muita gente acha isso feio, anacrônico, pré-histórico. É a mesma
turma que saiu da esquerda, foi para a direita e agora diz que esquerda e
direita não existem mais.
O condomínio Lula-Dilma encara, em 2014, a eleição mais difícil
desde sua chegada ao Planalto, em 2003. Após "profundas mudanças,
sobretudo no âmbito social," como admitia o projeto de lei de Paulinho, a
oposição procura todos os atalhos para recuperar o poder de Estado. Os donos de
jornais nem precisam mais dizer que resolveram ajudar uma oposição muito
fraquinha, como aconteceu em 2010.
Está na cara.
Está na cara.
Eduardo Campos chega a brigar com Marina Silva porque defende a independência
do Banco Central, bandeira reacionária que faria corar o avô Miguel Arraes – e,
provavelmente, o próprio Eduardo Campos há seis meses atrás.
Aécio Neves não teve
receio de anunciar sua "coragem" para tomar "medidas
impopulares" – qualquer pessoa que entende um pouco de geopolítica social
sabe que isso equivale a falar grosso com a Bolívia e afinar a voz diante de
Washington.
No 1 de maio, no entanto, todos queriam mostrar-se
preocupadíssimos como o bem-estar do povo.
A mensagem de Dilma é simples.
O país
pode não estar muito bem com ela.
Mas
estará muito pior sem ela.
Este é o debate em 2014.