sábado, 10 de maio de 2014

A INDIGNAÇÃO E A INTEMPERANÇA DE TODOS NÓS ESTÁ MA MEDIDA DE NOSSOS NEGÓCIOS,... FAMÍLIA,... AMBIÇÕES E INTERESSES PESSOAIS. RARAMENTE SE PENSA NO COLETIVO. POLÍTICOS ENTÃO, SÓ EM VANTAGENS LOCUPLETADORAS QUE ADVIRÃO DE SUAS GESTÕES E DESMANDOS...


08/05/2014
O fio está desencapado,
mas uma parte do Brasil dá certo

Este artigo já estava pronto quando ouvi uma frase de um grande amigo, Antonio Kandir, um dos economistas que mais aprecio. Falávamos da situação atual da economia brasileira, e a expressão cabia perfeitamente aqui: "O fio está desencapado". Corri e deu tempo de incluir.
Nunca, talvez, a falta de esperança e o desânimo com o país foram tão grandes como hoje. Nem nas crises de 2008. Aliás, nem mesmo em 1990, quando os brasileiros viram o saldo da sua conta bancária ser confiscado e cada um ficou com aqueles 50 mil (de alguma unidade que já nem é importante).
Atualmente, nas rodas de executivos, associações e círculos sociais, o clima é de decepção. A certeza de que o Brasil tinha deslanchado e era a vez das empresas brasileiras não se confirmou. A insatisfação com a perspectiva política e as condições macroeconômicas só cresceu. E parece que as pessoas estão perdendo o poder de indignação com as atuais condições, aquele poder que nos dá força para sair da inércia e mudar de rota.
A lista de "fios desencapados" parece interminável. Vivemos sob forte tensão com os problemas de segurança, de mobilidade urbana, o não cumprimento da promessa de elevar o padrão da educação, as precárias condições da saúde e a teimosa inflação. Somam-se a isso a dificuldade de completar uma chamada de celular sem que ela caia pelo menos duas ou três vezes, o sinal de ocupado, mesmo que ninguém esteja usando a outra linha, a possibilidade do racionamento de energia, o já real racionamento de água, a absurda demora na liberação dos contêineres nos portos...
Nem mesmo a proximidade da Copa mudou os ânimos. A festa e o sonho que o futebol sempre simbolizou para este país não conseguiu resgatar a energia roubada.
No entanto, uma parte do Brasil dá certo, e muito
No cenário micro o país continua avançando. As empresas sérias têm colhido bons resultados. Mantêm cautelosamente os investimentos e os bons números de Ebitda, mesmo que lutando com os custos logísticos, trabalhistas ou tributários, todos excepcionalmente altos. Mas era de se esperar que comemorassem o bom desempenho, e isso não está acontecendo.
Devemos nos perguntar: essas duas realidades são sustentáveis? Os bons números, além da influência do contexto externo, envolvem também outros desafios. Algumas organizações teimam em negar que o modelo controlador tão bem-sucedido anos atrás não tem mais espaço. Com isso, perdem energia dos seus colaboradores: fio desencapado.
As fusões e aquisições, que avançaram muito na concepção estratégica e na modelagem de funding, continuam cometendo os mesmos erros no que se refere às pessoas e à cultura: fio desencapado. A equação entre o tempo e a energia dedicados à vida pessoal versus profissional não está minimamente adequada: fio desencapado. As metas são cada vez mais ousadas, porém não raramente conflitantes: fio desencapado.
Quais as alternativas para, afinal, "encapar os fios"? Algumas, estruturantes, são da dinâmica político-econômica e institucional brasileira, que não é meu foco aqui. Outras estão nas mãos das empresas, células fundamentais para o avanço da sociedade. Mas há uma alternativa que depende de cada indivíduo e pode ser verdadeiramente transformadora: para que sua empresa (e o nosso Brasil) amadureça, cada um de nós tem o compromisso de compreender a sua responsabilidade como coautor de uma história que está sendo construída.
Comece hoje. Seja protagonista da mudança que deseja ver na sua empresa, como também na sua casa, na sua rua, na sua cidade e no nosso país. Assim, recuperamos juntos a esperança e a energia para fazer diferente.
Fácil? Claro que não. 
Rápido? De forma alguma. 
Possível? Com toda a certeza! 
Você, e cada um dos leitores deste jornal, é formador de opinião. 
Inclua-se. Coloque luz na sombra e esta irá diminuir.
Betania Tanure é doutora pela Brunel University (Inglaterra), psicóloga pela PUC-MG, professora da PUC-MG e convidada do Insead (França), Trium (NY University, London School of Economics, HEC) e London Business School. Foi diretora da Fundação Dom Cabral durante dez anos.
Consultora da BTA (Betania Tanure Associados), atuando em empresas nacionais e internacionais nas áreas de gestão empresarial, gestão de cultura, liderança e equipes de alta performance.
Membro do conselho de administração  de grandes empresas brasileiras. Autora de diversos livros, artigos, papers e cases publicados no Brasil e no exterior.