segunda-feira, 23 de junho de 2014

FERNANDO PIMENTEL: "Outro dia, eu disse que eu vou falar que o Brasil não está tão mal quanto grande parte da mídia quer fazer crer, e Minas não está tão bem quanto os partidos da situação querem fazer crer. E, de fato, não está. As carências são muitas, inúmeras. As situações são muito visíveis, muito sensíveis nas regiões todas de Minas".


MINAS

23 DE JUNHO DE 2014

PIMENTEL:
“CONFIANÇA ABSOLUTA 
NO VOTO DOS MINEIROS”
Otimista, candidato da Coligação Minas Pra Você ao governo estadual disse em entrevista ao jornal Hoje em Dia que vai enfrentar a disputa pelo Palácio Tiradentes com "confiança absoluta no voto" e "na consciência política dos mineiros"; "Eu estou convencido de que os mineiros vão me eleger, porque eu vou apresentar para eles a melhor proposta", assinalou o petista
Pautando Minas  Em entrevista veiculada pelo jornal Hoje Em Dia, na edição de domingo (22), o candidato da Coligação Minas Pra Você ao governo estadual, Fernando Pimentel (PT), demonstrou confiança na vitória para o Palácio Tiradentes. Pimentel voltou a dizer que o voto de Minas não tem dono nem segue "nenhuma divindade" e sustentou que vencerá o melhor projeto.
Pimentel defendeu uma gestão regionalizada do governo, com ações voltadas especificamente para as várias regiões de Minas, como os Vales do Mucuri e Jequitinhonha, e ampliação da participação popular nas decisões de governo. Para o ex-prefeito de Belo Horizonte, Minas não aproveitou a pujança da economia brasileira nos últimos 12 anos. Ao falar sobre Segurança e sobre obras como o Metrô e o Anel Rodoviário, ele disse que o governo estadual precisa assumir suas responsabilidade.
Leia abaixo os principais trechos:
Nacionalização da campanha em Minas Gerais
O eleitor tem muita maturidade, ele vota de acordo com a consciência, percepção da realidade e interesses. O processo de decisão do voto para governador é diferente do voto para presidente. Essa ideia de que o sujeito vincula os votos, estatisticamente e historicamente, não é comprovada. Se fosse, nós teríamos elegido três governadores em Minas Gerais, porque o Lula ganhou duas vezes, e a Dilma ganhou uma. Mas nós perdemos três. O Aécio ganhou duas e o Antonio Anastasia ganhou uma. A história não mostra isso, o que do ponto de vista é pior para o lado de lá que para o lado de cá. Quem depende mais de voto vinculado não somos nós. Tudo indica que o lado de lá tem um candidato que vai depender muito da vinculação. Nós vamos fazer campanha para a Dilma, claro, o tempo todo, mas o eleitor mineiro vai votar de acordo com a consciência dele. Para que lado ele vai, as urnas dirão.
Cenário econômico nacional
O mundo está atravessando uma crise econômica de vastíssimas proporções, a mais grave crise desde a década de 20 do século passado, e o Brasil está se saindo, nesse particular, excepcionalmente bem. Não tem desemprego, a inflação está controlada, por mais que a oposição insista em dizer que está fora de controle; as contas públicas estão em excelente estado; nós temos reservas cambiais para suportar um ano e meio de importações e nunca tivemos um índice tão alto. Nossa dívida interna é praticamente inexistente; a dívida pública em relação ao PIB está caindo; todos os indicadores brasileiros estão excelentes. (...) Talvez a gente nunca tenha vivido uma situação como essa, que é um estágio em que você trouxe para o território da cidadania 40 milhões de pessoas, de novos cidadãos – o território da cidadania que eu falo é o do consumo, claro, porque no capitalismo quem não consome não é cidadão –, via distribuição de renda, mas também da fruição, dos direitos, do exercício da cidadania no sentido de participar da vida pública. Os cidadãos que eram de segunda classe, hoje não são mais. Andam de avião, lutam por serviços que eram antes só da classe média. Os serviços públicos não acompanharam isso, talvez seja o mal do crescimento.
Propaganda X realidade
A propaganda do governo estadual é muito competente, muito eficiente, ela ocupou muito esse espaço. (...) O governo do Estado construiu essa imagem de que aqui está tudo bem. Percorrendo fisicamente o Estado de Minas Gerais, do final de fevereiro até agora, eu constato – não é nem uma crítica, é uma constatação – que não está tudo bem. Outro dia, eu disse que eu vou falar que o Brasil não está tão mal quanto grande parte da mídia quer fazer crer, e Minas não está tão bem quanto os partidos da situação querem fazer crer. E, de fato, não está. As carências são muitas, inúmeras. As situações são muito visíveis, muito sensíveis nas regiões todas de Minas. As queixas são muito grandes e são as mesmas. Isso não tem como não trabalhar, sob a pena de a gente trabalhar com uma ideia fictícia de Minas Gerais. Então, isso a gente vai mostrar.
Ouvir a população
Nós definimos um procedimento que é esse de percorrer o Estado, que é esse da Caravana da Participação, que é recolher demandas, sugestões, reivindicações, críticas, elogios, o que tiver para recolher das pessoas, ouvir das pessoas. E está sendo uma trajetória muito interessante. A primeira carência que a gente constata é esta, de audiência. As pessoas querem ser ouvidas, e elas ficam muito felizes que você está lá para ouvi-las e, não, para chegar com uma proposta pronta. Eu não sei o que eu vou fazer ainda, eu quero ouvir primeiro para depois a gente formatar um programa de governo. O adversário não tem essa concepção, a dele já está pronta: dar continuidade a tudo que está sendo feito e pronto. Os mineiros vão escolher se eles querem essa proposta ou outra que nós vamos construir junto com eles. Eu acredito no voto dos mineiros.
Gestão participativa
A ideia é a seguinte: você tem que ouvir as pessoas primeiro, permanentemente. Nós temos que criar mecanismos que esse governo não criou – não falo desse governo Alberto Pinto Coelho, não, estou falando dos últimos 12 anos, é tempo demais. Não criaram nenhum mecanismo de participação popular e essa é uma marca nossa, um compromisso histórico. O sujeito fala 'ah, mas não tem jeito de fazer Orçamento Participativo (OP) no Estado'. Tem jeito de fazer coisas até mais avançadas que o OP no Estado. Basta querer. Hoje, a tecnologia dispõe de meios para você permitir que o cidadão participe o tempo todo, até das decisões de governo. Não foi feito, nós vamos fazer. (...) Você está com um instrumento de comunicação popular na sua mão (aponta para o celular). Por que o governo de Minas não usou esse instrumento? Com esse aparelho, você fala com o mundo inteiro, reserva uma passagem de avião lá na África, reserva hotel em Genebra, paga carro alugado em Nova York, você faz qualquer coisa com isso aí. Por que é que isso não foi usado pelos modernos gestores?
Centralização do atual governo do estado
Minas não pode ser governada por uma visão centralizadora, unívoca, como tem sido feito nesses últimos 12 anos. (...) O governo foi coordenado a partir de uma visão extremamente centralizadora. Talvez o melhor exemplo seja o centro administrativo (Cidade Administrativa), faz tudo centralizado ali, um prédio moderno, muito bonito. Moderno só na concepção arquitetônica, porque não tem nada mais atrasado do ponto de vista da gestão do que você juntar todo mundo em um lugar só, em um Estado que é tão diferente e com demandas tão diferentes como tem em Minas. Até as pedras da rua sabem disso. Engraçado é que governantes como esses aí usam isso nos discursos: 'ah, Guimarães Rosa disse, Minas são muitas'. Mas fica só no discurso.
Regionalização
Ora, se Minas são muitas, o governo tem que ser múltiplo, ele tem que se regionalizar, de fato. (...) Então, nós vamos regionalizar, nós vamos, se chegarmos lá, governar o Estado com o olhar regional, enfoque regional, postura regional e, possivelmente, o centro administrativo vai ficar subutilizado, porque nós vamos botar os funcionários para trabalhar nas regiões, aonde eles têm que estar, e o próprio governador tem que se deslocar o tempo todo. (...) Viajar por Minas, como nós estamos viajando, e ver como essas regiões se sentem distantes, abandonadas, sem atenção é uma coisa... dói no coração. E as demandas são, de fato, diferentes. (...) Quem mora em uma cidade com três, quatro mil habitantes tem uma percepção da cidade diferente de um eleitor que mora em BH. No caso de Minas, mais importante que isso é a questão regional stricto sensu. É muito comum o sujeito dizer 'eu sou do Vale'... o cara tem orgulho de ser do Vale do Jequitinhonha, Triângulo, Sul de Minas. A região (de origem) é muito forte. (...) Eles criaram uma secretaria do Vale do Mucuri, depois mudou de nome, mas o cara fica aqui na Cidade Administrativa. Então o que que adiantou?
Segurança pública
Não vamos cair no erro, no equívoco de dizer que tudo que acontece é federal. Não é. Aqui é Minas, se está na Bahia ou São Paulo, é problema de Bahia e São Paulo. Eu quero saber o que fizeram aqui em 12 anos para o índice de criminalidade no Estado ter subido tanto, para o nosso indicador de resolutividade de infrações e crimes ser o pior dos 27 Estados? O que é que fizeram? Essa é a pergunta que não quer calar. As famílias mineiras não têm segurança. É simples assim. (...) Obviamente, tem que contar com o apoio federal também, mas não é do âmbito federal a responsabilidade. Na hora em que o cara falar isso, ele já está te enrolando. É isso que nós vamos dizer para o eleitor. Para mim está claríssimo que a segurança em Minas tem que ser regionalizada. (...) Os requisitos de segurança do Norte de Minas são diferentes do Sul, completamente diferentes da região metropolitana, Zona da Mata... Quem tem fronteira com São Paulo tem que ter um tipo de procedimento de segurança e policiamento, quem tem fronteira com a Bahia é outro requisito; quem tem área rural extensa é um tipo de patrulhamento, quem tem regiões urbanas muito adensadas é outro tipo de patrulhamento. Pergunta se isso é feito em Minas. A resposta é não.
Relação com Aécio Neves
Nós nunca fomos forças aliadas em Minas. Deixa eu esclarecer (sobre campanha para a Prefeitura de Belo Horizonte, em 2008). Teve um momento na história de Minas em que, eleitoralmente, o ex-governador Aécio, hoje senador, e o prefeito, que era eu, confluíram para apoiar um mesmo candidato, que era de um partido diferente do dele e do meu e que nós achávamos, naquele momento, que era o melhor para a cidade, a capital do Estado. O PSDB não se alinhou nessa chapa. Nós nos alinhamos, até indicamos o vice, mas eles não, formalmente não. Houve um entendimento político entre dois personagens públicos de Minas, Aécio e eu, naquela eleição. E eu acho que estava correto naquele momento, tanto que a cidade elegeu o Marcio. Depois, o Marcio fez uma opção de outra ordem, rompeu com o PT, nós saímos do governo. O segundo mandato foi por conta dele, nós já não temos a ver com isso. Naquele momento estava correto.
Independência do eleitorado
Acho que nós vamos enfrentar com confiança absoluta no voto dos mineiros, na consciência política dos mineiros. Outro dia eu falei isso, um jornalista assustou: 'mas vocês foram oposição, tentaram três vezes e perderam'. Eu disse: 'sim, certamente perdemos porque não tínhamos a melhor proposta'. Como assim, ele falou. Gente, os mineiros elegeram e reelegeram Aécio, elegeram Anastasia. Por que é que eles ganharam a eleição? Os mineiros entenderam que aquele era o melhor caminho para Minas. Eu vou dizer o contrário? Agora, eu estou convencido de que os mineiros vão me eleger, porque eu vou apresentar para eles a melhor proposta. A máquina não existe, a máquina não ganha e nem perde eleição. (...) Eu acredito que o voto dos mineiros, vou voltar a dizer, o voto dos mineiros não tem dono. O mineiro não segue nenhuma divindade, um ser político maior que orienta o voto dele. Não tem isso.
Choque de gestão
Eu diria para você que essa ideia de choque, no serviço público, nunca dá muito certo. Eu nunca vi esse negócio dar certo, porque o serviço público, ao contrário do que as pessoas imaginam, ele é acúmulo, é continuidade. (...) Você não troca a experiência de um sujeito, acumulada em 20 anos cuidando de um determinado assunto, por uma coisa mágica, que caiu do céu, que vai resolver todos os problemas. Não é assim. Na empresa, pode ser, mas na empresa é outra coisa. Eu estou falando de serviço público. Quem entende é o cara que está lá. Você pode dar a ele ferramentas, novos instrumentos, ajudá-lo a pensar de um jeito diferente, mas a ideia de que você vai fazer um choque, virar o Estado de cabeça para baixo. Mas eu não quero antecipar isso, porque vai ser grande objeto de debate na campanha e objeto de muita atenção das nossas equipes de programa de governo.
Falta de projetos
Os programas estaduais, mesmo, são muito poucos. Mas, por exemplo, o Aécio fez um bom programa, que é esse do asfalto para os municípios (...) Caminhos de Minas está patinando, mas o outro ele conseguiu, fez ligações com asfalto da sede até a primeira rodovia asfaltada. Isso é interessante, é importante, porque a gente tem que cuidar, aumentá-las. Agora, outros projetos são só trocas de nomes: Luz para Todos, que aqui é Luz de Minas; Rede Cegonha aqui é Mães de Minas... (...) Nós não nos beneficiamos da pujança econômica do Brasil nesses últimos 12 anos. Isso é inegável. O sujeito pode até criticar que esgotou o modelo de expansão pelo consumo, às vezes a gente ouve um pouco de críticas, mas ninguém escuta que o Brasil não teve modelo de crescimento econômico nesses últimos 12 anos. Teve! Teve e tem. E Minas, tem? Esse silêncio que eu escuto quando eu faço essa pergunta no meio dos empresários. Nós ficamos aquém do que poderia ter ido.
Metrô de BH
Essa questão já está suficientemente debatida e respondida. Não está suficientemente comunicada. E a campanha vai servir em grande medida para isso. Porque isso é uma lenda. Eu ouço falar lenda urbana, mas é uma lenda tucana. Tem outras lendas tucanas, talvez o choque de gestão seja uma delas... O metrô, desde sempre, tem dinheiro federal disponível para o metrô, o que não tem é projeto. Agora, no apagar das luzes, entregaram para nós um projeto mal feito, tão mal feito que entregaram um projeto de engenharia sem orçamento. A Caixa devolveu imediatamente. Entregaram só para falar que entregaram. Todo esse tempo não deram conta de fazer um projeto. O dinheiro está lá, empenhado, disponível.
Anel rodoviário
O Anel é pior do que isso: a obra foi delegada ao governo do Estado no início do mandato da presidenta Dilma, para o Anastasia. Ela delegou dizendo 'eu acho que ele vai fazer, eu acho que ele é competente'. Passou o dinheiro do projeto, delegou o projeto paro o DEOP (Departarmento de Obras Públicas do Estado) ou DER e, três anos e meio depois, não tem até hoje o projeto que o Estado ficou de fazer.
BR-381
E a 381 demorou, de fato demorou, porque nós, governo federal, tentamos fazer através de concessão. O governo entendeu que era o melhor modelo, até porque um pedaço dela já é concessionado, com a Fernão Dias, abaixo, então quem sabe o trecho para cima poderia ser. Mas não ficou de pé porque os pedágios seriam muito caros pelos cálculos que foram feitos. Mudamos para obra pública: são onze lotes, nove já foram licitados e contratados. Faltam dois porque estão em debate, fizeram o chamado e deu 'deserto', então vai ter que ser refeito. Mas começou já a obra lá em Ipatinga. Os túneis estão sendo abertos. Bem ou mal saiu.
Transferência de responsabilidade
São duas coisas engraçadas que eu vejo: uma é esse de transferir responsabilidade. Tudo que não dá certo é do governo federal. Eu acho que o eleitor não é tão inocente assim não, a campanha vai esclarecer bem essas coisas.
Pimenta da Veiga
Tem ouras coisa que não tem tanto a ver conosco. Tem uma lenda tucana que é assim: o Brasil só tem telefone celular porque o FHC corajosamente privatizou as telefônicas. E, agora, provavelmente eles vão dizer que o ministro da época (Pimenta da Veiga) tinha papel preponderante. O mundo inteiro tem telefone celular... Gana, o Sudão do Sul, Albânia, todo mundo tem, nos modelos mais diferentes, estatais, privados, público-privados. Cuba tem telefone celular. Por quê o Brasil não teria? Os mágicos do PSDB que são responsáveis pela telefonia celular. Que bobagem é essa? Que conto do vigário é esse? Então, cria uma lenda, a lenda tucana... Eles fizeram nada. É a mesma coisa de o cara dizer 'nós trouxemos os computadores para o Brasil'. Ô meu caro, para com essa bobagem! Você chama Bill Gates, Steve Jobs? Então para com isso. Eles constroem essa bobagem. Esse charme que eles tentam construir de que a modernidade é tucana. Eu acho que não tem nada mais atrasado do que xingar a presidente em campo de futebol. Se isso é modernidade tucana, nós não queremos não.