14
DE JUNHO DE 2014
ELEIÇÃO ESQUENTA NA COPA:
SEM TRÉGUA, TENSÃO EM ALTA
Confrontos
entre candidatos se acirram; insulto no Itaquerão mexe com os brios da
presidente Dilma Rousseff e acentua tintas de luta de classes à disputa;
convenção do PSDB impulsiona Aécio Neves e aprofunda confronto direto com o PT;
Eduardo Campos engrossa ataques contra Dilma e vê suas chances dependerem mais
da vice Marina Silva; revista Veja e colunista global Merval Pereira apoiam
ofensas impublicáveis contra presidente e tentam arrastar debate para os
bueiros; ex-presidente Lula fala em "vingança"; em lugar de uma
trégua para evento esportivo mais popular do mundo,
corrida presidencial fica
mais dura e feérica
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– À medida em que jogos
e gols se sucedem na Copa do Mundo, mais distante fica a chance de que o
Mundial poderia ser um momento de trégua na corrida eleitoral. A disputa
política, ao contrário, só fez se acirrar – e acaba de entrar um uma nova fase,
bem mais dura que a anterior.
Com a presidente Dilma Rousseff assumindo o papel de torcedora
número 1 da Seleção Brasileira, com seus dedos cruzados e brios desafiados
pelos insultos dos quais foi vítima no estádio do Itaquerão, a torcida contra e
a favor do Mundial ganhou mais um divisor de águas. Para a pré-candidata à
reeleição, cresceu ainda mais a importância política de fazer do evento esportivo
mais popular do planeta um momento de sucesso para a sua administração. Dilma
recebeu inúmeras manifestações de solidariedade, mas houve reações extremadas
na mídia tradicional.
A revista Veja, em edição desta semana, destacou e, na prática,
não fez restrições éticas, como as que costuma realizar sobre os mais
diferentes assuntos, ao episódio da ofensiva manifestação contra a presidente
no Itaquerão. Indo mais longe – no caso, mais baixo --, o colunista global
Merval Pereira dedicou uma de suas longas colunas a justificar porque os que
agrediram a presidente verbalmente estavam certos em fazê-lo. Logo o jornalista
de fardão, que reclamou de hostilidades recebidas por ele próprio nas ruas do
Rio de Janeiro. Agora, e contra outrem, pode, liberou Merval.
Os adversários diretos de Dilma também não estão deixando
escapar a escalada de classificação das seleções da Copa do Mundo para acentuar
seus ataques. "Estamos aqui para dar um basta definitivo no PT",
bradou Aécio Neves, mão dadas com os chefes partidários, na convenção do PSDB,
neste sábado 14, que o consagrou oficialmente como candidato a presidente pela
legenda.
Antes, Aécio chegou a justificar os insultos à Dilma desferidos
a partir dos setores com ingressos mais caros do Itaquerão. Em seguida, porém, recuou
dizendo que a pessoa e a instituição representada pela presidente não devem ser
atingidos. Mas já era tarde, e na festa de seu partido mostrou que não pode
abrir mão de seus alvos. "Com o PT, o Brasil se tornou o País da
improvisação e do sobrepreço para todos os lados", cravou.
O presidenciável Eduardo Campos, do PSB, não deu nenhum passo
atrás em seu apoio à hostilidade contra Dilma. "Colheu o que
plantou", disse ele, ignorando os conselhos do ex-presidente Lula para que
evite críticas definitivas ao governo. Agora que descobriu pelas pesquisas que
sua pré-candidata a vice, Marina Silva, acrescenta-lhe, sim, um bom punhado de
votos, é certo que Campos irá radicalizar em seu discurso. Em queda nas
pesquisas de opinião, ele terá de ampliar o papel de Marina em sua campanha e
acompanhar sua parceira do discurso mais ácido contra a presidente e seu
governo.
As informações de que os insultos à Dilma partiram dos setores
de acesso mais caro e restrito do estádio, durante a abertura da Copa do Mundo,
emprestaram novas tintas ao cenário de divisão de classes que está no pano de
fundo da eleição presidencial. Lula foi rápido em lembrar o fato em torno do
xingamento coletivo contra Dilma, chamando de "moleques" bem nutridos
e nada educados os agressores verbais da presidente. A própria Dilma agarrou-se
à sua história para lembrar que já passou, enfrentou e venceu dificuldades
muito maiores, referindo-se à tortura física sofrida durante o regime militar.
A eleição ganhou mais acirramento não apenas pelo avançar o
calendário, mas, especialmente, por toda a tensão que cerca a Copa do Mundo no
Brasil. Os protestos de rua se mostram extremamente minoritários, mas, ainda
assim, exigiram nos dois primeiros dias do Mundial, em diferentes cidades-sede,
a intervenção policial para serem controlados. Isso, é claro, sempre gera
noticiário e tem potencial explosivo.
O que não se sabia é que a primeira grande bomba seria disparada
pela chamada elite. Já se comparou que, enquanto centenas de comunidades estão
em festa, pintadas com as cores verde e amarela, a torcida contra se restringe
aos mais bem aquinhoado. O banqueiro André Esteves, por exemplo, dono de US$
4,5 bilhões, anda fazendo palestras para profetizar que "a tendência é a
presidente cair ainda mais", referindo-se a uma curva nas pesquisas de
opinião detectada por sua turma no BTG Pactual.
Já se vê, assim, que, a começar pelo alto da pirâmide social,
aglutinando desde os achincalhadores das tribunas do Itaquerão ao fardado pela
Academia Brasileira de Letras Merval Pereira, passando por comunicadores de
segunda linha como Marcelo Tás e Rafinha Bastos, estridência e baixarias não
vão faltar nesse novo momento eleitoral.