11 DE SETEMBRO DE 2014
AFINAL, NECA SETUBAL
É BANQUEIRA OU EDUCADORA?
Coordenadora
do programa de governo de Marina Silva, Neca Setubal deflagra, nesta
quinta-feira, uma operação midiática para sair das cordas e deixar de
representar um peso para sua candidata; em entrevista ao Estado de S. Paulo,
ela diz ser alvo de "preconceito"; na Folha, conta com uma generosa
reportagem em que é sempre identificada como "educadora"; no entanto,
ela própria diz que vive com os dividendos que recebe como acionista do Itaú e
foi na condição de banqueira, não de educadora, que ela doou R$ 1 milhão ou 83%
de todos os recursos do instituto de Marina Silva; na primeira entrevista que
concedeu, após a morte de Eduardo Campos, a acionista do Itaú defendeu a agenda
dos bancos e não mencionou a palavra educação uma única vez; até o fim da
disputa, Neca não sairá da linha de tiro.
247
- A
coordenadora do programa de governo de Marina Silva, Maria Alice Setubal,
conhecida como Neca, deflagrou, nesta quinta-feira, uma operação para tentar
sair das cordas e deixar de representar um peso para sua candidata, depois que
as pesquisas eleitorais desta semana apontaram os primeiros problemas na
campanha do PSB.
Em dois levantamentos, da CNT/MDA e do
Datafolha, Marina perdeu pontos e passou a estar em empate técnico com a
presidente Dilma Rousseff no segundo turno. Uma das razões é o fato de Marina
estar extremamente associada a Neca, herdeira do Banco Itaú, que deu a ela R$ 1
milhão no ano passado (83% de toda a receita do seu instituto).
A ação de imagem de Neca Setubal envolveu dois
jornais paulistas. Ao Estado de S. Paulo, ela concedeu uma entrevista à
colunista Sonia Racy, em que diz ser alvo de um preconceito contra banqueiros
que vem desde a Idade Média. Na mesma entrevista, enfatiza sua condição de
"educadora". Na Folha, ela contou com uma generosa reportagem, que
vai na mesma linha."Acionista do Itaú
e colaboradora do Itaú viveu afastada dos negócios da família", diz o título (leia aqui).
O tom da reportagem não poderia ser mais claro:
Aos 63 anos, a educadora Maria Alice Setubal, mais conhecida como
Neca, é dona de 1,3% das ações do grupo (o equivalente a 0,5% do Itaú
Unibanco), mas nunca teve cargo nas empresas comandadas pela família.
Ela já deu aula em escolas e numa faculdade, e
trabalha há anos com educação, cultura e projetos sociais. Seus filhos também
estão fora do Itaú. Os dois rapazes trabalham em bancos concorrentes. A filha é
psicanalista.
Neca não tem, praticamente, nada a ver com os destinos do Itaú.
E a orientação interna da Folha, que talvez tenha marinado, parece
ser tratá-la sempre como "educadora".
O problema, no entanto, é que foi a própria Neca quem escolheu
desempenhar o papel de banqueira e porta-voz da agenda dos bancos na campanha
de Marina.
Afinal, foi na condição de banqueira ou educadora que ela doou 83%
dos recursos do instituto que se dedica a alimentar o mito Marina Silva?
O ponto mais importante não é esse. Logo após a morte de Eduardo
Campos, Neca Setubal passou a falar em nome da candidata Marina Silva, numa
entrevista concedida ao jornalista Fernando Rodrigues, e defendeu a agenda dos
bancos.
O título da reportagem foi explícito: "Marina Silva acena ao mercado e promete autonomia
para o BC" (leia aqui).
Na longa entrevista, a "educadora" Neca Setúbal não
menciona uma única vez a palavra "educação". No entanto, discorre
longamente sobre metas de inflação, autonomia do Banco Central e outros temas
econômicos. Diz, inclusive, que Marina concederá autonomia ao BC, mesmo sem
concordar com esta tese.
Eis um trecho:
Eduardo Campos falou várias
vezes que a meta de inflação seria perseguir 4,5% nos próximos quatro anos para
assumir uma meta, de 3%, a partir de 2019. Isso vai estar explicitado no
programa?
Vai.
Dessa forma?
Dessa forma. Exatamente. A meta de inflação vai para o centro, para 4,5%, ao longo do governo de quatro anos. Para depois chegar a 3%. Isso está explícito.
Economistas ortodoxos e alguns do governo dizem que para
reduzir a inflação ao longo de quatro anos nesse nível seria necessário
aumentar juros e produzir desemprego no país. Esse tema é tratado no programa?
Não dessa forma, não vai dizer. Acho que não existe "vou aumentar juros". Nenhum programa vai colocar dessa forma. O capítulo de economia tem um olhar que combina com uma parte da gestão de recursos naturais. Busca-se um diálogo com o desenvolvimento sustentável. O Eduardo [Campos] tinha um compromisso com o social. Ao mesmo tempo que enfatizava a gestão, nunca perdia de vista o compromisso com a questão social. Ele dizia que conseguiria compor: trazer a inflação [para o centro da meta] e ter responsabilidade fiscal. No programa de governo tem o que ele falou. Ele já havia falado de ter um conselho de fiscalização.
Marina, como o programa já está
pronto, concordava com todos esses pontos e vai assumi-los?
Vai assumi-los. Vai assumir todos os programas. Ela tinha se posicionado em alguns pontos de uma forma diferente do Eduardo. Por exemplo, o caso do Banco Central. Ela achava que não era necessário ter uma autonomia formal do Banco Central. Ela não achava que precisaria...
De
uma lei...
...De uma lei para dar mais autonomia. Mas acho que são os consensos. Existiam diferenças e o programa reflete o que é de consenso. Então ela, enfim, aceitou isso.
No caso do Banco Central, como
Eduardo propunha autonomia, mandatos para o presidente e diretores, isso tudo
está mantido e será assumido por Marina?
Será assumido pela Marina. A declaração dela é que vai assumir todos os compromissos do Eduardo.
No caso do Banco Central, uma
lei seria proposta?
Muitas vezes, Marina falava: "Bom, isso não era a minha posição, mas essa foi a posição do Eduardo e a gente concordou com isso". Então, ela vai assumir essas posições.
A autonomia do Banco Central?
É.
A entrevista de Neca Setubal
após a morte de Campos deixa absolutamente claro que ela não falava como
"educadora", mas sim como "banqueira". Ou, na melhor das
hipóteses, como herdeira de um grande banco, cujos dividendos a sustentam, assim
como o instituto Marina Silva.
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10 DE SETEMBRO DE 2014
POR QUE CRESCE A REJEIÇÃO
DO ELEITOR A MARINA SILVA?
247 - Em sua nova análise sobre o quadro eleitoral, a jornalista Tereza
Cruvinel, colunista do 247, explica por que Marina Silva parou de crescer
e iniciou seu processo de queda nas pesquisas eleitorais: o motivo é a rejeição
que decorre de suas próprias contradições.
"Na campanha de Dilma, credita-se este provável aumento da
rejeição à explicitação das contradições e dos pontos frágeis da candidatura de
Marina, levada a cabo por Dilma nos debates e nos programas eleitorais",
diz Tereza Cruvinel, no post "Cresce a rejeição a Marina Silva".
"As questões que mais teriam pesado para o aumento da
rejeição e produzido os primeiros sinais de que Marina parou de crescer e
começou a desinflar seriam, segundo pesquisa qualitativa realizada para o PT,
seu recuo na questão da união homo-afetiva para atender ao pastor Malafaia, a
vinculação a Neca Setúbal, do Banco Itaú, a pouca ênfase no pré-sal e a
proposta de Banco Central independente.
Todas estas questões foram bem exploradas por Dilma nos últimos
dias."