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DE NOVEMBRO DE 2014
ELES SOLTARAM
O MONSTRO
PSDB cutuca a fera e descobre que ela está tão
viva quanto sempre; ao questionar resultado das eleições, como fez o
deputado Carlos Sampaio, dizer que presidente reeleita Dilma Rousseff não tem
condições de governar, a exemplo do que escreveu o vice-presidente do partido,
Alberto Goldman, no lembrança do golpismo de Carlos Lacerda, emitido por
secretário José Aníbal, e no sonoro "não ao diálogo" expressado pelo
ex-candidato a vice Aloysio Nunes tucanos estimulam radicalização; na
esteira do microclima golpista, Reinaldo Tabosa Azevedo esbraveja pelo
impeachment em horário nobre e estrelas cadentes como Lobão quebram
promessa de sair do País para ver o circo pegar fogo; triste,
lamentável e muito perigoso; no sábado 1, em plena avenida Paulista, a fera foi
dar uma voltinha para tomar sol; passarinhos voaram;
unidade com Jair
Bolsonaro, é o que eles constroem
Marco Damiani, 247 – Cutucaram
o monstro – e ele deu sinal de vida.
O primeiro a chegar perto da fera foi o ex-governador Alberto
Goldman, vice-presidente nacional do PSDB. Em artigo, logo após a contagem dos
votos de primeiro turno, Goldman insinuou que a presidente Dilma Rousseff, caso
vencesse a segunda volta – o que acabou acontecendo, pela diferença de quase
3,5 milhões de votos sobre o tucano Aécio Neves – não teria condições de
governar o País.
Também às
vésperas do segundo turno, foi a vez do deputado licenciado José Aníbal
disparar uma sequência de tuítes enviesados, que assim se encerrava:
Lacerda dizia de Getúlio:
"Não
pode ser candidato. Se for, não pode ser eleito.
Se
eleito, não pode tomar posse.
Se
tomar posse, não pode governar.
Para
despistar, colocou a pensata como se fosse o ex-presidente Lula, mas o monstro
gostou da reverberação causada pela mensagem.No day after da árdua e legítima vitória de Dilma, o ex-candidato a vice-presidente na chapa tucana Aloysio Nunes Ferreira espumou: "Não tem diálogo nenhum", orientou ele para quem nele acredita. Com as responsabilidades assumidas em campanha, Alô sabe o peso de cada uma de suas palavras. Foi, sim, uma senha para isolar, ou muito mais que isso, a presidente eleita.
Na semana passada, quem testou a anomalia foi o coordenador jurídico do PSDB, Carlos Sampaio, ao entrar com pedido no TSE para auditoria nos resultados eleitorais.
Detalhe: sem apontar um caso concreto para colocar em suspeição a democracia brasileira. Dele se encarregou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, considerando a iniciativa como feita para "comprometer a credibilidade do sistema eleitoral deste País".
Mas sempre
há quem goste dos discursos de quebra da ordem, e sobre eles esfregue, ainda
que grosseiramente, verniz jurídico. De plantão para situações como essa,
coberto pela toga do privilégio, Gilmar Mendes, ministro do STF, foi o
primeirão entre seus pares a buscar a mídia para mostrar todo o seu medo de que
o Supremo se transforme, sabe-se lá por que, numa corte bolivariana. Deu na
Folha. Na onda da grande festa democrática, Mendes agiu como uns tantos
estraga prazeres que circulam por aí, querendo se juntar.
A esta altura,
como um imenso crocodilo imóvel, o monstro já abria e fechava
lentamente seus olhos lubrificados. Sim, mostrou que está vivo. E já
balança o rabo, em sinal de aprovação, a cada vez que escuta o tucano de quatro
costados Reinaldo Tabosa Pessoa, quer dizer, Azevedo, cornetear pelo
impeachment da presidente recém eleita, ao microfone de uma concessão
pública chamada rádio Jovem Pan, em São Paulo.
Lenildo, ou
seja, Reinaldo, que de fato em muito se parece com o antigo colunista do Jornal
da Tarde, na década de 1970, ligado ao movimento Tradição Família e Propriedade
(TFP) e ao estamento militar, tem entre seu fãs o ex-roqueiro Lobão, que
prometeu, em vão, mudar de País em caso de vitória de Dilma. Ainda está por
aqui, disse que não vai mais, mas a fera enjaulada, que parecia morta, deu a
ele uma piscadinha de conivência.
Com tantos
incentivos, alguém tomou para si a chave do cárcere do monstro e o levou para
dar uma voltinha no sábado 1, pela avenida Paulista, numa passeata de
derrotados pelas urnas. Lá estavam as faixas que pediam a volta do poder
militar no Brasil, a quebra da segura rotina democrática, a aposta na volta ao
passado de exceção, exclusão e dor.
Solto agora,
até que novamente fique preso e esquecido, como merece, não há tucano que, o
tendo cutucado – como fizeram, efetivamente, Goldman, Aníbal, Sampaio
e outros - assuma o feito. Para todos os efeitos, eles com seu ar superior
defendem a ordem democrática, mas essa atitude é absolutamente paradoxal
frente as provocações que eles próprios, na condição de líderes,
dispararam em texto, tuite, declaração e peça jurídica.
Queriam o que?
Que não houvesse repercussão positiva a
suas lamentações?
Pois estão colhendo o que semearam.
Melhor do
que voar como passarinhos assustados fez o deputado tucano Xico Graziano,
que pediu para que deixem o PSDB os filiados que investem na alternativa da
ruptura da ordem. Como paga, ele vai aguentando críticas e xingamentos. Mais um
pouco e ele próprio terá de sair.
Enquanto o PSDB, como partido político,
não se manifestar claramente a favor da democracia e contra qualquer insinuação
golpista, o monstro sabe que ali está cheio de amigos.
Para, quando puder, também triturá-los.