247 - O
procurador geral da República, Rodrigo Janot, acaba de ganhar novos poderes.
Desde a manhã desta segunda-feira 22, por delegação da própria presidente Dilma
Rousseff, estabelecida durante entrevista a jornalistas, em Brasília, ele
ganhou carta branca para ser uma espécie de algoz de novos ministros. Caso
Janot encontre o nome do indicado fazendo parte de alguma lista de delação
premiada da operação Lava Jato, ele irá comunicar Dilma. O candidato a
ministro, então, estará automaticamente eliminado do futuro primeiro escalão.
- Eu posso recorrer aos órgãos
competentes, como o procurador-geral para qualquer nomeação. Nós consultaremos
quem está mencionado. Eu não sei o que vai evitar, porque ninguém sabe o que
esses nomes são, até porque não há uma única informação oficial. Mas nós iremos
procurar saber [se tem algum nome que será indicado que tenha sido
citado]", disse Dilma no encontro com jornalistas que cobrem diariamente a
sede do Executivo federal.
A grande preocupação de Dilma é nomear
algum político que conste de listas oficiais de delação premiada na operação
Lava Jato. Para ela, isso seria o equivalente a ter dores de cabeça com a mídia
e no dia a dia do próprio ministério que ela procurava preencher.
A oposição não gostou da novidade, e a
ironizou:
- Isso revela que chegamos a uma situação
surrealista em termos de ética na administração pública, atacou o vice-líder do
PSDB, senador Álvaro Dias.
Na semana passada, o jornal O Estado de
S. Paulo divulgou uma relação de 28 nomes que teriam sido acusados formalmente
pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Entre eles estão o da
ex-chefe da Casa Civil Gleise Hoffman, do senador Lindbergh Farias, ambos do
PT, e do atual presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves. De Janot,
Dilma buscará a informação oficial.
- Eu não quero que ele me diga tudo. Eu
quero que ele me diga 'sim' ou 'não', disse Dilma sobre os pedidos que pretende
fazer ao procurador geral. A presidente procurou deixar claro no café da manhã
com os jornalistas que cobrem a Presidência que não quer obter informação
privilegiada sobre as investigações, mas apenas ter a segurança de estar
nomeando pessoas que não estarão na vitrine da Lava Jato.
Pessoalmente, Rodrigo Janot defende que
todos os nomes citados em delações premiadas sejam divulgados publicamente. Já
o juiz Sergio Moro está evitando tomar essa mesma posição. Moro, inclusive,
negou acesso ao conteúdo dos depoimentos que vem colhendo a réus da Lava Jato.
Dilma também disse que fará consultas ao
Ministério Público:
- Eu consultarei o Ministério Público
Federal porque qualquer pessoa que eu for indicar, eu devo consultar sobre o
que temos quanto a ela. Os 28 nomes vêm de uma matéria [reportagem] que não é
informação oficial", complementou a presidente.
O tucano Álvaro Dias também criticou esse
aspecto da tomada de decisão da presidente:
- Ter de se socorrer no MP para
nomear é algo que estarrece, disse ele. "O MP é um órgão independente do
Executivo, e não auxiliar", completou. Para o tucano, a preocupação de
Dilma mostra que "o governo está apodrecido em seu interior"
Questionada sobre quando ela irá anunciar
o novo lote de integrantes do primeiro escalão, a presidente afirmou que sua
pretensão é divulgar a lista de novos ministros até o dia 29. Até o momento, a
petista confirmou apenas quatro futuros ministros: Joaquim Levy (Fazenda),
Nelson Barbosa (Planejamento), Alexandre Tombini (Banco Central) e Armando
Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio).