terça-feira, 16 de junho de 2015

NO CONGRESSO NACIONAL...


FCO.LAMBERTO FONTES
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14/06/2015
Uma agenda para o desenvolvimento econômico: ampliar as conquistas, afirmar o modo petista de governar

Dep. Sibá Machado - PT/AC

A agenda da política social deve reafirmar o compromisso

com a geração de emprego; o acesso à educação de qualidade

e a ampliação dos serviços de saúde.


Concebida como uma estratégia para modificar uma estrutura econômica e social, a política de desenvolvimento somente pode existir em uma sociedade que haja tomado plena consciência dos seus problemas, haja formulado um projeto com respeito ao próprio futuro em termos de desenvolvimento e haja criado um sistema de instituições capaz de operar no sentido de realização desse projeto.

Celso Furtado 

INTRODUÇÃO

O Partido dos Trabalhadores possui um compromisso histórico e uma longa tradição de lutas pela afirmação de um modelo de desenvolvimento capaz de articular a estabilidade macroeconômica, o crescimento da produção e a inclusão social e produtiva de todos os brasileiros.
 
Esses propósitos pautaram as políticas públicas implementadas nos doze anos de governo do presidente Lula e da presidente Dilma. O Brasil observou a afirmação de um ambiente macroeconômico centrado na estabilidade de preços. Conheceu taxas médias de crescimento da produção que relembraram a tradição desenvolvimentista. Vivenciou a ampliação e consolidação de um amplo sistema de proteção social.
 
Houve aumento expressivo e sustentado do nível de emprego. A cobertura previdenciária foi estendida a um grande número de trabalhadores antes desatendidos. Foi estruturado um amplo programa de garantia de renda mínima e combate à pobreza, com repercussões positivas em termos de melhoria das condições nutricionais das famílias, de ampliação do acesso e da permanência das Câmara dos Deputados Partido dos Trabalhadores Gabinete da Liderança crianças na escola, e de cumprimento de uma agenda de atendimento básico de saúde da família. Houve ampliação expressiva do acesso dos jovens aos programas de ensino técnico e ao ensino superior.

Em 2008 o mundo observou o desencadeamento, no âmbito do sistema financeiro da economia norte-americana, de uma das maiores crises da história do capitalismo. Em 2010 a crise se estendeu ao continente europeu sob a forma de sucessivas sinalizações de fragilidades das finanças públicas dos países da zona do Euro. A partir de 2012 houve um forte movimento de perda de dinamismo da economia chinesa em relação a sua média histórica.
 
O Brasil optou pela adoção de uma política econômica orientada ao enfrentamento dos efeitos adversos da crise internacional. Ao longo dos primeiros quatro anos posteriores ao início das adversidades no âmbito externo - período entre 2010 e 2013 - o Brasil cresceu a uma taxa média anual de aproximadamente 4% ao ano. Os níveis de emprego apresentaram os melhores indicadores da história. A informalidade das relações de trabalho foi reduzida. A renda real média foi ampliada. A política econômica produziu resultados positivos.

Em 2012, finalmente a crise alcançou os grandes países em desenvolvimento e promoveu uma retração no nível de atividade econômica dessas nações. Em 2014, as incertezas geradas por uma grande sucessão de fatos adversos na economia mundial finalmente alcançaram a economia brasileira. Os esforços orientados à sustentação do nível de atividade econômica alcançaram os seus limites, fato demonstrado pelo comportamento dos indicadores fiscais e por uma pressão de preços, decorrente da expansão moderada dos investimentos necessários à ampliação da oferta de bens e serviços.
 
 
AGENDA MACROECONÔMICA
 
 
Este é o momento para uma nova agenda macroeconômica. Ele passa, necessariamente, pelo reposicionamento da taxa de câmbio de modo a torná-la compatível com os requisitos de competitividade da nossa indústria. Passa pela definição de uma política monetária capaz de estabelecer uma taxa de juros de longo prazo compatível com o investimento produtivo e o emprego. Passa por uma política fiscal que garanta ao Estado um papel ativo e sustentável de promoção do desenvolvimento econômico socialmente inclusivo.
 
Também é necessário dar continuidade à diversificação da nossa pauta exportadora e dos nossos parceiros comerciais. Além de consolidar as relações econômicocomerciais já existentes, é fundamental o nosso governo aproveitar as janelas de oportunidades e estimular o comércio internacional com novos parceiros. Há inúmeras oportunidades a serem aproveitadas com a adoção de uma política comercial mais agressiva.
 
A construção das parcerias no âmbito dos BRICS é uma iniciativa que deve ser tomada como referência no desenvolvimento da nossa política comercial, inclusive pelos seus efeitos sobre a ordem geopolítica mundial, ainda dominada pelas instituições arcaicas originadas no pós-guerra. O reforço do relacionamento bilateral com a China, o Mercosul, a América Latina e a África, bem como a diversificação e ampliação da pauta comercial com países do Oriente Médio inserem-se nessa estratégica de inserção externa.
 
O desenvolvimento científico e tecnológico e a inovação devem ocupar uma posição destacada na agenda de políticas orientadas ao desenvolvimento produtivo. É essencial ampliar os mecanismos de financiamento público, incentivar iniciativas empresariais, aprofundar a integração entre os centros de pesquisa das universidades públicas e o setor empresarial, e fazer avançar o marco legal referente a este segmento de política pública. Esse é um requisito essencial para a ampliação da participação da indústria, setor dinâmico da economia, no PIB nacional.
 
 
AGENDA TRIBUTÁRIA E FEDERATIVA
 
 
Um tema central dessa agenda fiscal articula tributação e equilíbrio federativo. O nosso sistema tributário é injusto. A principal base de sustentação da nossa arrecadação é o consumo. Esse modelo favorece a injustiça tributária. Famílias de baixa renda e de classe média arcam com uma carga tributária expressiva, enquanto os ricos pagam pouco. Basta dizer que 54% da carga tributária recai sobre os trabalhadores e a classe média e apenas 28% da carga tributária é paga por quem tem alta renda e grande patrimônio. É obrigação nossa provocar esse debate. É necessário e urgente promover a mudança desse cenário.
 
É inconcebível que o Partido dos Trabalhadores não tenha debatido até hoje, com a sociedade brasileira, esse vergonhoso e elitista modelo tributário. Precisamos ampliar e aprofundar o debate acerca desse modelo e atacar o problema pela raiz, de modo a reduzir o ônus tributário incidente sobre as famílias de baixa renda e da classe média, e sobre o setor produtivo.
 
O caminho é a ampliação da tributação sobre os grandes patrimônios e a alta renda. Essa é a via para alcançarmos um quadro de melhor equidade fiscal e o aperfeiçoamento do equilíbrio federativo. O patrimônio é uma base pertencente aos Estados e Municípios. A renda é uma base compartilhada pela União com estes entes federativos. Nesses termos, o modelo proposto poderá fortalecer as finanças dos Estados e Municípios.
 
A Bancada Federal do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados desenvolveu um conjunto de proposições legislativas orientadas a um novo modelo de tributação. A seguir, algumas dessas iniciativas:
 
- IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS: esse tributo incidirá sobre o conjunto de bens e direitos, situados no país ou no exterior, que integrem o patrimônio do contribuinte, e que podem ser caracterizados, como fortuna; esse tributo está previsto no inciso VII do art. 153 da Constituição Federal, e aguarda regulação por lei complementar;
 
- IMPOSTO SOBRE GRANDES HERANÇAS E DOAÇÕES: esse tributo já é parte constitutiva do sistema tributário constitucional, sua arrecadação total responde por apenas 0,24% da arrecadação tributária no Brasil, a ampliação da arrecadação efetiva e da progressividade tributária requer mudanças na legislação;
 
- TRIBUTAÇÃO DE LUCROS, DIVIDENDOS NO BRASIL E REMESSAS PARA O EXTERIOR: a legislação brasileira prevê isenção de Imposto de Renda de pessoas físicas quando da distribuição de lucros ou dividendos, esse é um privilegio aos detentores de capital, enquanto os lucros e dividendos gozam de isenção, a renda do trabalho é taxada a alíquotas de até 27,5%; somente em 2013, foram US$ 30,6 bilhões enviados ao exterior como lucro e dividendos, sem pagar um centavo de imposto, trata-se de uma sangria de riquezas do Brasil para o exterior;
 
- TRIBUTAÇÃO DOS JUROS SOBRE CAPITAL PRÓPRIO: esse dispositivo estabelece um privilégio para as rendas do capital, permitindo que as grandes empresas reduzam seus lucros tributáveis a partir da dedução de uma despesa fictícia: os juros sobre o capital próprio; é uma verdadeira excentricidade tributária, única no mundo, criticada até pela OCDE, clube dos países mais ricos do mundo;
 
- CONTRIBUIÇÃO PROVISÓRIA SOBRE MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA – CPMF: essa foi uma contribuição destinada especificamente ao custeio da saúde pública, da previdência social e do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, que vigorou entre janeiro de 1997 e dezembro de 2007; é necessária a recriação desse tributo para viabilizar a ampliação do financiamento da saúde pública;
 
- COBRANÇA DA DÍVIDA ATIVA DA UNIÃO: o governo precisa aperfeiçoar os mecanismos de cobrança da dívida ativa de modo a recuperar um volume de recursos públicos estimados para dezembro de 2014 em R$ 1,4 trilhões, segundo dados da PGFN. Também é importante que o governo desenvolva mecanismos rígidos de combate à sonegação tributária, de modo a evitar que esta prática criminosa tenha êxito no âmbito da nossa economia. A sonegação fiscal estimada para a economia brasileira, para o ano de 2014, é de aproximadamente R$ 500 bilhões.
 
Em contrapartida a essas iniciativas, deve haver uma progressiva redução da incidência tributária sobre as famílias de baixa renda e da classe média, e sobre o setor produtivo, em especial as micro e pequenas empresas. Isso é um requisito necessário para que a mudança do sistema tributário não resulte em aumento da carga tributária. No âmbito da estrutura do gasto público deve haver um aperfeiçoamento gerencial dos programas de governo. Também é necessária a reavaliação e, se for o caso, a redução criteriosa dos gastos tributários (renúncias fiscais) e dos subsídios financeiros e creditícios.
 
 
AGENDA DE POLÍTICAS SOCIAIS E INFRAESTRUTURA
 
 
Essa nova estrutura de financiamento, associada aos efeitos fiscais positivos decorrentes da retomada do crescimento econômico em bases sustentáveis, deverão ser alocadas em políticas associadas à infraestrutura e às políticas sociais.
 
A agenda da infraestrutura produtiva deve abranger a ampliação da oferta de energia, observados os requisitos de segurança energética, sustentabilidade ambiental e modicidade tarifária. Outra linha de grande relevância é a logística: rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, segmento para o qual o governo acabou de anunciar um novo e ousado programa de investimentos baseado em concessões e parcerias com setor privado.
 
As concessões realizadas pelo sistema de outorga, nos quais o vencedor é quem paga ao governo o maior bônus pelo direito de explorar um serviço, devem ser direcionadas integralmente ao financiamento de políticas sociais. O mesmo direcionamento deve ser adotado para os recursos que vierem a ser obtidos pelo governo em decorrência de processos de abertura de capital acionário de empresas estatais ou suas subsidiárias. Em todos os casos, esses recursos devem, em última instância, fortalecer o modelo econômico orientado para a expansão do emprego formal, a elevação da renda das famílias e a ampliação da inclusão social.
 
A agenda da infraestrutura social e urbana deve ampliar os investimentos relacionados ao transporte coletivo (por exemplo, metrôs, veículos leves sobre trilho - VLT) e a habitação social (Programa Minha Casa Minha Vida), bem como acelerar os investimentos em saneamento básico, em especial na coleta, tratamento e disposição final de resíduos sólidos, e na coleta e tratamento de esgoto.
 
A agenda da política social deve reafirmar o compromisso com a geração de emprego e renda; a garantia de renda mínima; o acesso à educação de qualidade em todos os níveis de ensino, de modo compatível com o Plano Nacional de Educação; a ampliação dos serviços básicos de saúde; e a expansão da cobertura previdenciária e assistencial para as famílias.
 
Essa é a proposta de agenda da Bancada Federal do Partido dos Trabalhadores. Uma agenda alinhada com a longa tradição de lutas pela afirmação de um modelo de desenvolvimento econômico centrado nos valores do trabalho, na orientação para a inclusão social e na defesa dos interesses nacionais.
 
Salvador, 13 de junho de 2015
 
Dep. Sibá Machado - PT/AC Líder da Bancada