FCO.LAMBERTO FONTES
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25 de Maio de 2016
TEREZA CRUVINEL
RELÓGIO DE JANOT
VOLTA A MOSTRAR
PRECISÃO POLÍTICA
Há algum tempo o Brasil já sabe
que tanto o procurador-geral Rodrigo Janot como o juiz Sergio Moro acertam seus
relógios com o tempo político.
Esta cronometria reaparece agora na divulgação da gravação da
conversa entre o senador e ex-ministro Romero Jucá e o ex-presidente da
Transpetro Sergio Machado.
A conversa expõe a trama do
impeachment como operação destinada a produzir, com a troca de Dilma por Temer,
as condições para um acordão para estancar a “sangria” da classe política pelas
investigações da Lava Jato.
A conversa foi gravada no
início de março e chegou no mesmo mês às mãos de Janot. Ele não se incomodou
com o que ouviu, inclusive com este trecho em que Jucá diz a Machado:
"Se é político, como é a
política. Tem que resolver esta porra (sic). Tem que mudar o governo para poder
estancar esta sangria."
Janot sabe ler, ouvir e compreender.
Ninguém duvida de seu QI.
Se quisesse, poderia ter
agido para impedir que a trama fosse consumada e Dilma afastada pela acusação,
que não convenceu o mundo, de ter cometido crime de responsabilidade com
medidas contábeis: pedaladas e decretos.
Se alguns senadores – não falemos em deputados pois boa parte
deles não desobedeceria a Eduardo Cunha – tivessem tido conhecimento das
conversas Jucá-Machado antes do dia 11 de maio, poderiam ter mudado seu voto. E
indicador disso é o fato de que Cristovam Buarque (PPS-DF) e José Antonio
Reguffe (Rede-DF), que votaram a favor da abertura de processo que levou ao
afastamento de Dilma do cargo, foram signatários, com outros doze
senadores (do PT, PDT e PC do B), da representação ao PGR pedindo
abertura de investigação sobre o conteúdo da conversa.
O relógio de Janot acertou-se com precisão à marcha do impeachment
no Congresso.
A gravação ficou guardada até
passar o dia 17 de abril, quando a Câmara aprovou a autorização da abertura do
processo, e até 11 de maio, quando houve a votação do Senado.
E foi aparecer agora, dez dias
depois da posse de Temer.
Em muitas ocasiões o relógio do procurador exibiu sua fina
sintonia política. Naquela mesma semana que antecedeu a votação na Câmara, sete
políticos do PP foram indiciados.
E o partido, que poderia ter
entrado para o governo e garantido os votos que faltavam a Dilma, desistiu dos
ministérios que receberia e acabou optando pela outra operação – a troca de
governo como medida para estancar a sangria.
O relógio de Sergio Moro tem sintonia finíssima e naqueles mesmos
dias mostrou sua perfeição ao fazer vazar (com autorização da Janot, que estava
na Europa) o áudio da conversa Lula-Dilma que fez a crise politica ferver e
levou ao impedimento da posse de Lula como ministro, num momento crucial de montagem
da defesa do governo, por força da liminar do ministro Gilmar Mendes.
Afastada Dilma, o STF decidiu
que a ação perdeu o objeto, não sendo necessário julgar a liminar. Os advogados
de Lula ontem contestaram a ordem de arquivo: querem o reconhecimento de que
ele foi ministro de Dilma desde a nomeação até o afastamento dela, não tendo
podido apenas exercer o cargo por decisão do STF.
Não
por capricho mas porque isso
tem
consequências jurídicas.