FCO.LAMBERTO FONTES
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BRASIL
MAIO DE 2016
Branco,
superior completo
e sob investigação:
a cara do Senado que
votou o impeachment
Da BBC Brasil em São Paulo
Senado votará impeachment na quarta-feira, 11 de maio
|
É o que revela a análise feita pela BBC Brasil de dados - como sexo, formação e número de mandatos - dos 81 senadores.
O levantamento descobriu ainda que a maioria dos parlamentares têm longa carreira política, com passagens por Câmara e cargos no Executivo, e que vários pertencem a "clãs" familiares.
Além disso, 58% dos que votarão o impeachment da presidente Dilma Rousseff respondem a acusações como improbidade administrativa e corrupção passiva em tribunais, segundo a ONG Transparência Brasil.
Abaixo, conheça algumas das características de destaque entre os senadores.
80% do Senado é composto de homens brancos
A votação do impeachment na Câmara dos Deputados já tinha mostrado que a grande maioria da Casa é formada por homens brancos.
No Senado, não é diferente. Dos 81 senadores, 64 são homens brancos, seis são homens negros, e 11 são mulheres (sendo uma delas negra).
Senado é formado por grande maioria de homens brancos
|
Os números contrastam com a realidade da sociedade brasileira: de acordo com os dados mais recentes do IBGE, 54% da população é negra 51% são mulheres.
A idade média é 60,5 anos.
Três em cada dez senadores são formados em Direito.
Segundo o site do Senado, 68 membros da Casa têm curso superior completo, um dado que também contrasta com a configuração do país, onde, segundo a última Pnad (Pesquisa Nacional de Domicílios) do IBGE, apenas 16% possuem ensino superior completo.
"Isso é um retrato do poder. A gente nunca teve um Legislativo que espelhasse a diversidade social no país" disse à BBC Brasil Maria do Socorro Braga, professora de Sistemas Democráticos e Teoria Política Democrática da Ufscar e coordenadora do Núcleo de Estudo dos Partidos Políticos Latino-Americanos na mesma universidade.
"Faz parte da nossa cultura política, que é elitista."
58% dos senadores são citados na Justiça ou em Tribunais de Contas
Entre os 81 senadores que votarão o impeachment da presidente Dilma Rousseff, 47 (58%) têm ocorrências na Justiça ou em Tribunais de Contas por suspeitas ou acusações que vão de improbidade administrativa (em sua maioria) a corrupção passiva, passando por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, segundo levantamento do projeto Excelências, da ONG Transparência Brasil.
Da mesma forma, um
Brasil majoritariamente conservador também teria um Legislativo pouco adepto a
mudanças.
"Parlamentos
são sempre um pouco mais conservadores do que os membros do Executivo, pela
distribuição de preferência dos eleitores (por Estados). Nossa sociedade é
conservadora.
Há também um neoconservadorismo se projetando, ligado a questões
religiosas. Não acho um problema. Tem que ter representatividade de fatores liberais
e conservadores", diz.
Mais de 13% dos senadores chegaram a
cargo sem receber voto
Ao contrário da
Câmara, as eleições para o Senado Federal são majoritárias, ou seja, só são
eleitos os senadores que recebem a maioria dos votos diretos, enquanto na Câmara
as eleições são proporcionais e candidatos menos votados têm chances de
ocuparem as cadeiras por conta do quociente eleitoral.
Ainda assim, é
possível chegar ao Senado sem receber voto algum, por causa do sistema de
suplência.
Quando se elege um
senador, o suplente é eleito junto. Muitos suplentes que compõem a chapa dos
senadores são financiadores das campanhas ou familiares (esposa, filho, neto,
etc).
Existe até uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que visa impedir
que cônjuges ou pessoas com vínculo sanguíneo possam compor as chapas dos
senadores, mas ela está parada na Câmara desde 2013.
"Há pessoas (no Senado) que não têm nenhuma
representatividade.
Cai algo que é fundamental numa democracia.
(O Senado)
É
uma Casa muito conservadora e representa apenas alguns setores,
que são os que
financiam as campanhas",
afirmou a professora da Ufscar.
Em oito anos de
mandato, é muito comum o senador eleito deixar o posto para ocupar outro cargo
– às vezes no governo federal, como ministro, às vezes em um governo estadual
ou municipal.
Com isso, o suplente (que, em geral, não é conhecido pelo
eleitorado) acaba assumindo a cadeira em seu lugar.
Por exemplo, dos 54
senadores que foram eleitos em 2010 para um mandato que teria oito anos, 20
acabaram deixando suas funções temporariamente em 2014 para concorrer a
eleições em outros cargos – para governador, principalmente.
Atualmente, existem
11 suplentes – o equivalente a 13,5% do Senado - ocupando as vagas de senadores
eleitos pelo voto.