FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
Mora em ARAXÁ/MG
1 blogspot, + 1 página no facebook, + de 90 grupos no facebook, + twitter,
+ de 975 blogs e comunidades no google+, + de 436 conexões no LinkedIn.
543.275 visualizações em 45 meses
16/09/2016
Nas entrelinhas da imprensa
Manual
do perfeito midiota
– 41 –
Mais um capítulo
do golpe fascista
MPF produziu um factoide, em combinação
com os pauteiros da mídia tradicional
Foto: Reprodução/Facebook
|
O psiquiatra alemão Franz Müller-Lyer criou, em
1889, um dos mais conhecidos e aplicados processos de ilusão cognitiva.
Trata-se da exposição de duas linhas retas, exatamente do mesmo tamanho,
terminadas em seta; a diferença entre elas é que uma delas apresenta as
extremidades com os ângulos invertidos, ou seja, voltados para dentro, e a
outra termina em duas pontas.
A ilusão se processa pelo fato de que a
figura com as extremidades pontiagudas sempre parece menor que a outra.
O interessante é que o observador demora a se
convencer de que as duas linhas retas têm o mesmo tamanho, mesmo depois de
medi-las.
Esse fenômeno tem sido bastante estudado nos
campos da psiquiatria e das neurociências, mas são raras as pesquisas no campo
da comunicação.
E, curiosamente, esse artifício se aplica na
comunicação social com muita frequência.
Pode-se mesmo afirmar que esse é o processo
pelo qual os meios de comunicação de massa conseguem convencer grandes
audiências: propondo a observação de dois objetos de informação semelhantes
como se fossem diversos; ou, pelo contrário, apresentando dois objetos
diferentes, pertencentes a contextos alheios um do outro, e convencendo o
receptor de que se trata de coisas iguais ou assemelhadas.
Há duas teorias básicas que tentam explicar a
ocorrência da ilusão. Uma delas, a teoria cognitiva, oferece resultados de
imagens por ressonância magnética para demonstrar como o cérebro processa a
representação das imagens.
A outra, fisiológica, diz que a linha terminada em
pontas parece mais curta simplesmente porque as setas para fora induzem o olhar
de volta para o centro da figura, enquanto, na outra, as setas voltadas para
dentro abrem o olhar para fora.
O que isso tem a ver com o mundo dos midiotas?
Tem tudo a ver: quando você assiste uma
manifestação de operadores da Justiça, ilustrada por uma apresentação em powerpoint,
com gráficos coloridos e profusão de quadrinhos, é levado a acreditar que
aquilo é a mais profunda verdade, ainda que os protagonistas tenham declarado
que todo o conteúdo apresentado não produz provas juridicamente aceitáveis, mas
apenas e simplesmente “convicção”.
Assim como você demora a se convencer de que
as duas linhas de Müller-Lyer são exatamente do mesmo tamanho, mesmo tendo
medido duas ou três vezes as figuras, sua mente também se nega a aceitar que
aquela bela apresentação feita por profissionais jovens, de boa aparência, nada
teve de objetividade.
No caso em questão, o grupo de trabalho
formado por policiais e procuradores federais não produziu uma peça jurídica –
embora alguns juristas de valor tenham se dado o trabalho de procurar em sua
colorida apresentação alguma relação com o Direito.
O que eles produziram foi
um factoide, em combinação com os pauteiros da mídia tradicional.
Você acredita em tudo aquilo porque quer
acreditar e também porque os “analistas” da imprensa conservadora reforçam o
caráter ilusório daquela peça supostamente jurídica.
No dia seguinte, evidentemente, aparece como
por milagre o novo vazamento de uma antiga delação já colocada sob suspeita,
para evitar que você coloque uma fita métrica sobre o factoide.
O que você assistiu foi mais um capítulo do
golpe fascista em processo. Para os golpistas, não basta ter entregue o poder
Executivo ao baixo clero do Congresso – é preciso evitar que o poder volte para
o grupo que foi conduzido ao Planalto pelas urnas.
Para isso, é necessário
anular politicamente o ícone desse campo ideológico.
Não se está aqui a afirmar que o
ex-presidente Lula da Silva, alvo principal desse processo, esteja isento de
suspeitas.
O que se pode evidenciar é que a peça acusatória
não resiste a uma análise isenta.
Seu caráter de ficção esconde um jogo
perigoso.
Está em curso não apenas a ameaça de uma
intervenção no sistema democrático do voto.
A apresentação festejada pela mídia
hegemônica coloca em risco a sobrevivência do sistema judiciário brasileiro e
suas tradições mais caras.
Quem ainda tem discernimento e enxerga o
tamanho das setas de Müller-Lyer deve entender que o processo do fascismo não
hesita em queimar o reichstag, como em 1933 na Alemanha, ou
demolir as instituições republicanas, como está ocorrendo no Brasil em 2016.
Os operadores dessa falseta agem com tal
destemor porque recebem o respaldo da imprensa conservadora.
O que os donos da imprensa tradicional
parecem não entender é que o processo do fascismo passa pela execração da
política e pode terminar com a demonização da própria mídia.
*
#Luciano Martins Costa
Jornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade, além de autor de vários livros
LEIA MAIS:
Depoimento de Juca Kfouri na íntegra,