FCO.LAMBERTO FONTES
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_21 de outubro de 2016_
De tão ubíquo e granítico, o monólogo do arrocho
fiscal tornou-se quase um elemento da natureza brasileira.
Fala-se dele como
uma ocorrência constitutiva da cartografia nacional, a exemplo do rio Amazonas,
o Pão de Açúcar, a pororoca...
Deve ser aceito. Ponto.
É assim que emerge dos noticiosos econômicos, nos
quais cientistas especializados no assunto, na verdade doutores, pontificam
sobre a fatal necessidade de induzir a população a se colocar na posição
horizontal e rastejar na travessia desse obstáculo inamovível.
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo é um dos
que tem preferido olhar o desafio do desenvolvimento do alto de outro mirante
conceitual.
Dali sugere algo que aos ouvidos do cartógrafos do
arrocho soa como uma afronta à ciência da qual são fiéis guardiões.
Para retomar o crescimento é preciso ampliar os gastos públicos, os gastos do
Estado, não diminuí-los, sobretudo a perder de vista, como
ambiciona a PEC 241- eis o que diz Belluzzo.
Em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos
(IHU), o economista sapateia no senso comum.
Esse que os ‘cientistas’ exploram ao naturalizarem
o sacrifício e exortarem as parcelas mais vulneráveis à imolação, como
cordeiros no altar das oferendas.
‘Na economia capitalista, o que forma a renda
é o gasto. Não é a renda que determina o gasto’, ensina Belluzzo,
pacientemente, porque sabe que isso soa como ruído herege na catedral
dominante.
O economista decepciona os adoradores da panaceia
‘expectativas’.
As expectativas são importantes no ambiente
econômico.
Mas sem ajuda-las com os fatos – a exemplo do
investimento público, juros baixos, força e consentimento político-- não
serão suficientes para mover o moinho de um novo ciclo de desenvolvimento.
O mantra das expectativas, no entanto, sustenta a
fé dos sacerdotes que delegam integralmente aos mercados ‘racionais, o futuro
da nação.
Belluzzo os conforta: sim, seria bom viver em um
mundo em que as empresas começassem a gastar por conta do aumento de confiança,
tal como afirma o governo.
“Mas isso não é verdade’, lamenta o vencedor
do Prêmio Intelectual do Ano - Prêmio Juca Pato, de 2005, apontado em 2001, por
um ranking internacional, como um dos 100 economistas heterodoxos mais
importantes do Século XX.
Do seu mirante ecumênico e desassombrado, Belluzzo
elenca alguns detalhes adversos ao cuore dominante.
‘Como as empresas vão começar a gastar depois de um
ciclo de endividamento como esse? Como, diante estoque de dívidas
que contraíram (NR apostando na continuidade do crescimento), e do
choque de juros (ademais do câmbio e das tarifas) que levaram?’
Diagnosticado o alicerce de barro do altar
ortodoxo, ele informa aos incréus: ‘É o Estado que tem mais liberdade de
fazer o gasto’.
Dito de forma nua e crua: o caminho das pedras é o
oposto ao tudo ou nada embutido na PEC do arrocho que pretende reduzir em uns
30% o tamanho do Estado brasileiro.
Belluzzo traz as evidencias do erro de origem nessa
escolha.
Foram os
altos juros, salienta, não os investimentos públicos – aos olhos
dos golpistas, ‘gastos populistas’- que levaram ao aumento da dívida pública.
Em suas palavras:
“O fator mais importante do aumento dessa
trajetória da dívida – o que os economistas chamam de dinâmica da dívida – se
deve ao fato de que temos taxas de juros reais absurdamente altas”.
“A taxa de juros no Brasil, tanto a nominal quanto
a real, é a mais alta do mundo desde os anos 1990’.
Ou seja, desde que o país, sob os auspícios do
ciclo de governos tucanos, realizou uma abertura financeira insensata.
Um dado resume todos os demais: os gastos com o
ameaçado sistema previdenciário –que de fato necessita de mudanças para
corrigir privilégios— somam 7,4% do PIB.
As despesas com o pagamento de juros da dívida
pública tem oscilado nessa mesma faixa, na verdade um pouco acima dela.
São muito superiores, por exemplo, ao que é
destinado à saúde pública pelo Estado (2% do PIB).
Se alguém devorou o bolo da festa, portanto, não
foram os cidadãos pobres agora convidados a ratear a fatura enviada pelo buffet
Temer & Cia.
‘A abertura financeira –leia-se, liberdade de ir e
vir do dinheiro especulativo , graças à supressão de controles nas contas de
capitais, desde o governo FHC-- parece servir aos interesses dos investidores
estrangeiros e aos interesses dos agentes do mercado financeiro’.
Ou seja, a turma que alguns denominam de ‘ o
pessoal da bufunfa’, lucra bilhões em operações descomprometidas de
qualquer agregação de riqueza real à sociedade.
Operações como a arbitragem de juro e câmbio
(dinheiro tomado a taxas negativas lá fora é aplicado no Brasil, a taxas reais
da ordem de 6% a 7%!) não acrescentam um parafuso à economia brasileira.
Mas agregam fortunas obscenas aos seus operadores
locais e internacionais.
Por que Carta Maior faz questão de
divulgá-la?
Mitos como esse derrubado por Belluzzo vem
sustentando a narrativa justificadora do arrocho sem precedente que se pretende
impor à sociedade pelos próximos vinte anos.
Uma gigantesca estrutura de comunicação cuida de
torna-lo um acidente geográfico –algo com o qual será preciso conviver sem
apelação, como uma tragédia grega.
Faça um teste: leia essa entrevista, compare com o
que vem sendo veiculado em praticamente todos os noticiários do país: um
discurso profundamente ideológico, a serviço da imposição do Estado mínimo.
Algo jamais visto. Nem na ditadura.
Amplificar o resistência a essa asfixia ideológica,
que impulsiona o desmonte das conquistas históricas dos últimos aos – sem
hesitar, para isso, em violar o pacto da sociedade de 1988, sem
consulta-la— é o compromisso de Carta Maior, a exemplo do que fazem
igualmente outros blogs e sites progressistas.
É sugestivo da importância que tem o embate das
ideias o fato de, logo na primeira hora, do primeiro dia do governo golpista, o
alvo prioritário de sua ação foi cortar a publicidade estatal de todos os
veículos independentes e progressistas.
Hoje, o contraponto narrativo ao arrocho depende de
intelectuais do porte do professor Belluzzo.
E da determinação dos leitores em sustentar
veículos que amplifiquem sua palavra.
Contamos com você nessa trincheira para que possamos
dar ao jornalismo de Carta Maior a qualidade e a abrangência que a hora requer.
Até a próxima,
Joaquim Ernesto Palhares
Diretor da Carta Maior