sábado, 22 de outubro de 2016

- NAS TRINCHEIRAS,... DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, NOS DIREITOS INTRÍNSECOS ADQUIRIDOS POR LEIS, CONCEITUAÇÕES E CONCEPÇÕES CONCRETAS...



FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
Mora em ARAXÁ/MG

1 blogspot, + 1 página no facebook, + de 90 grupos no facebook, + twitter,
+ de 980 blogs e comunidades no google+, + de 440 conexões no LinkedIn. 

  548.141 visualizações em 46 meses 


_21 de outubro de 2016_


De tão ubíquo e granítico, o monólogo do arrocho fiscal tornou-se quase um elemento da natureza brasileira. 

Fala-se dele como uma ocorrência constitutiva da cartografia nacional, a exemplo do rio Amazonas, o Pão de Açúcar, a pororoca...

Deve ser aceito. Ponto.

É assim que emerge dos noticiosos econômicos, nos quais cientistas especializados no assunto, na verdade doutores, pontificam sobre a fatal necessidade de induzir a população a se colocar na posição horizontal e rastejar na travessia desse obstáculo inamovível.

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo é um dos que tem preferido olhar o desafio do desenvolvimento do alto de outro mirante conceitual.

Dali sugere algo que aos ouvidos do cartógrafos do arrocho soa como uma afronta à ciência da qual são fiéis guardiões.

Para retomar o crescimento é preciso ampliar os gastos públicos, os gastos do  Estado, não diminuí-los, sobretudo  a perder de vista, como ambiciona a PEC 241- eis o que diz Belluzzo.

Em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU), o economista sapateia no senso comum.
Esse que os ‘cientistas’ exploram ao naturalizarem o sacrifício e exortarem as parcelas mais vulneráveis à imolação, como cordeiros no altar das oferendas.

‘Na economia capitalista, o que forma a renda é o gasto. Não é a renda que determina o gasto’, ensina Belluzzo, pacientemente, porque sabe que isso soa como ruído herege na catedral dominante.

O economista decepciona os adoradores da panaceia ‘expectativas’.

 As expectativas são importantes no ambiente econômico.

Mas sem ajuda-las com os fatos – a exemplo do investimento público, juros baixos, força e consentimento político--  não serão suficientes para mover o moinho de um novo ciclo de desenvolvimento.

O mantra das expectativas, no entanto, sustenta a fé dos sacerdotes que delegam integralmente aos mercados ‘racionais, o futuro da nação.

Belluzzo os conforta: sim, seria bom viver em um mundo em que as empresas começassem a gastar por conta do aumento de confiança, tal como afirma o governo.

“Mas isso não é verdade’, lamenta o vencedor do Prêmio Intelectual do Ano - Prêmio Juca Pato, de 2005, apontado em 2001, por um ranking internacional, como um dos 100 economistas heterodoxos mais importantes do Século XX.

Do seu mirante ecumênico e desassombrado, Belluzzo elenca alguns detalhes adversos ao cuore dominante.

‘Como as empresas vão começar a gastar depois de um ciclo de endividamento como esse? Como, diante  estoque de dívidas que  contraíram (NR apostando  na continuidade do crescimento), e do choque de juros (ademais do câmbio e das tarifas) que levaram?’

Diagnosticado o alicerce de barro do altar ortodoxo, ele informa aos incréus: ‘É  o Estado que tem mais liberdade de fazer o gasto’.

Dito de forma nua e crua: o caminho das pedras é o oposto ao tudo ou nada embutido na PEC do arrocho que pretende reduzir em uns 30% o tamanho do Estado brasileiro.

Belluzzo traz as evidencias do erro de origem nessa escolha.

Foram os altos juros, salienta, não os investimentos públicos – aos olhos dos golpistas, ‘gastos populistas’- que levaram ao aumento da dívida pública. Em suas palavras:

“O fator mais importante do aumento dessa trajetória da dívida – o que os economistas chamam de dinâmica da dívida – se deve ao fato de que temos taxas de juros reais absurdamente altas”.

“A taxa de juros no Brasil, tanto a nominal quanto a real, é a mais alta do mundo desde os anos 1990’.
Ou seja, desde que o país, sob os auspícios do ciclo de governos tucanos, realizou uma abertura financeira insensata.

Um dado resume todos os demais: os gastos com o ameaçado sistema previdenciário –que de fato necessita de mudanças para corrigir privilégios— somam 7,4% do PIB.

As despesas com o pagamento de juros da dívida pública tem oscilado nessa mesma faixa, na verdade um pouco acima dela.

São muito superiores, por exemplo, ao que é destinado à saúde pública pelo Estado (2% do PIB).

Se alguém devorou o bolo da festa, portanto, não foram os cidadãos pobres agora convidados a ratear a fatura enviada pelo buffet Temer & Cia.

‘A abertura financeira –leia-se, liberdade de ir e vir do dinheiro especulativo , graças à supressão de controles nas contas de capitais, desde o governo FHC-- parece servir aos interesses dos investidores estrangeiros e aos interesses dos agentes do mercado financeiro’.

Ou seja, a turma que alguns denominam de ‘ o pessoal da bufunfa’, lucra  bilhões em operações descomprometidas de qualquer agregação de riqueza real à sociedade.

Operações como a arbitragem de juro e câmbio (dinheiro tomado a taxas negativas lá fora é aplicado no Brasil, a taxas reais da ordem de 6% a 7%!) não acrescentam um parafuso à economia brasileira.

Mas agregam fortunas obscenas aos seus operadores locais e internacionais.

Confira a entrevista de Belluzzo,  ao Instituto Humanitas Unisinos, clicando aqui.

Por que Carta Maior faz  questão de divulgá-la?

Mitos como esse derrubado por Belluzzo vem sustentando a narrativa justificadora do arrocho sem precedente que se pretende impor à sociedade pelos próximos vinte anos.

Uma gigantesca estrutura de comunicação cuida de torna-lo um acidente geográfico –algo com o qual será preciso conviver sem apelação, como uma tragédia grega.

Faça um teste: leia essa entrevista, compare com o que vem sendo veiculado em praticamente todos os noticiários do país: um discurso profundamente ideológico, a serviço da imposição do Estado mínimo.

Algo jamais visto. Nem na ditadura.

Amplificar o resistência a essa asfixia ideológica, que impulsiona o desmonte das conquistas históricas dos últimos aos – sem hesitar, para isso, em violar o pacto da sociedade de 1988, sem consulta-la—  é o compromisso de  Carta Maior, a exemplo do que fazem igualmente outros blogs e sites progressistas.

É sugestivo da importância que tem o embate das ideias o fato de, logo na primeira hora, do primeiro dia do governo golpista, o alvo prioritário de sua ação foi cortar a publicidade estatal de todos os veículos independentes e progressistas.

Hoje, o contraponto narrativo ao arrocho depende de intelectuais do porte do professor Belluzzo.

E da determinação dos leitores em sustentar veículos que amplifiquem sua palavra.

Contamos com você nessa trincheira para que possamos dar ao jornalismo de Carta Maior a qualidade e a abrangência que a hora requer.

Até a próxima,
Joaquim Ernesto Palhares
Diretor da Carta Maior