FCO.LAMBERTO FONTES
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31/10/2016
Pequena história
de uma grande farsa – I
Os bons resultados
econômicos foram – embora já não exuberantes como no segundo mandato de
Lula – sem qualquer dúvida, o que elegeu Dilma em 2014.
No final daquele ano, porém, já se brigava com uma
recessão que se tornaria pesadíssima e que serviu como caldo de
insatisfação para a cruzada da mídia que apontava a esquerda como
corrupta e imoral.
Nel, jogou-se o poderoso fermento do inconformismo dos derrotados,
com Aécio Neves à frente, o súbito ódio das corporações de estado e e o
dueto Moro Globo.
A corrupção – que, em tese, não produziu nenhum efeito
macroeconômico nos tempos de bonança, curioso – passou a ser a responsável
pela crise. A derrubada do governo e a ortodoxia econômica – já
semi-implantada com Joaquim Levy, aliás – deram a hegemonia – ao menos na
superfície das relações de comunicação da sociedade, às saídas conservadoras
como “salvação da lavoura”.
O povo, claro, não quer saber de crise e não quer saber de
corrupção e, como passou a ouvir o dia inteiro e todo dia que ambas eram fruto
do mesmo PT que, antes, trouxera abundância e reforçara os mecanismos de
controle e repressão aos desvios na administração – seria infindável a lista do
que foi feito, a começar pela delação premiada –
Nosso povão está “na
dele” e, se o iludem, culpa de que não pôde e não soube esclarecê-lo.
A eterna baboseira
da direita, e de que é preciso “liberar a iniciativa privada” – como
se ele já não fosse livre para quase tudo – era repetida desde o “Bom Dia,
Brasil aos “boa noite, Brasil”, embora já não houvesse nada de bom (nem de dia,
nem de noite) no Brasil dentro dos jornais, telejornais, radiojornais e ciberjornais.
Os fatos não vêm ao caso.
O Rio, apesar da incompetência e das sem-vergonhices das gestões
cabralinas afundou por conta do despencar dos preços do petróleo, mas isso é um
detalhe fora do powerpoint. A indústria associada
ao petróleo, assistiu quietinha à grita pelo fim do conteúdo nacional e, depois
do golpe, foi pedir, pós golpe, proteção a indústria nacional de óleo e
gás.
Levou uma banana.
Acabou com o financiamento de empresas, mas se permitiu o
financiamento censitário, prosperam sonhos de ascensão e ilusões de
meritocracia de milionários como Dória, e as redes religiosas como Crivella.
Lula recebeu o governo pelo voto, mas também porque se esperava
seu fracasso. Quando este não veio, puseram-se a querer faze-lo sangrar com o
mensalão. Não deu…
E veio o grande salto que fez o tsunami da crise mundial virar
marolinha e fazer o país desenvolver-se economicamente como há décadas não se
via.
Eleita Dilma, veio o canto de sereia: faxine, Presidenta, faxine…
E a nova tática, ao gosto de uma classe média que não dá a menor
bola para que a maioria viva na Índia, desde que ela viva na Bélgica.
(Parêntesis: se a Bélgica vive os pavores dos atentados, porque
aqui não se viveria o pavor da violência com os nossos “refugiados sírios” do
outro lado da rua?)
Então a direita, sempre esperta e criativa, largou o discurso do
neoliberalismo e vestiu o “Padrão Fifa”.
Não eram só os 20 centavos, mas
trilhões o que estava em jogo diante da possibilidade daquele modelo nacional
desenvolvimentista dar certo. E reclamava-se dos hospitais, das escolas, dos
postos de saúde onde a classe média não ia, serem precários, em contraste com a
modernidade dos estádios da Copa onde, afinal, só eles foram.
Daqui a pouco posto a segunda parte do texto, que faço em
cooperação com um amigo discreto, que não reclama autoria, embora tenha sido o
roteirista.
01/11/2016
Pequena história
de uma grande farsa – II
Começo a segunda parte do texto iniciado ontem com a ajuda deste gráfico que me envia
a amiga Angela Romito. (Clicando na imagem você a vê em
tamanho maior)
É uma
bofetada numérica nos sábios que vivem repetindo que os governos do PT não
fizeram “nada”, que arruinaram o país e se conseguiram algo foi porque tiveram
uma conjuntura internacional favorável, como se a crise de 2008/9 não tivesse
sido, no dizer deles próprios, só comparável ao crash de 1929.
Esqueçamos os números dos economistas, para
os quais há também um extenso quadro de comparações na imagem aí ao lado,
essa “tripa” de dados que acompanhará todo o post, até o final, capaz de
derrubar todos os “senões” que possam levantar.
E a
primeira geração sem fome no país? E a duplicação do número de estudantes
universitários? E as mudanças no Nordeste? E o pré-sal? E o ressurgimento de um
programa habitacional popular que este país não tinha desde que quebrou o BNH,
ainda na ditadura? E o fim da dívida externa e da “meteção de bedelho” das
missões do FMI por estas plagas?
Não vou
cansar os leitores e a s leitoras com uma sucessão infinita de perguntas assim.
O PT foi
conciliador?
Sim, teve um projeto de conciliação que se quebrou, porque a
elite deste país divide assim as coisas: o progresso é dela, os problemas são
do governo, que deveria obter recursos com prestidigitação, e não com impostos
cobrados de quem os pode pagar.
A direita
está em um projeto selvagem de “restauração”.
PEC 241 combinada com reforma de
ensino médio vai fazer regredir na universalização do ensino que se iniciou com
o próprio PSDB…Como ampliar para 7 horas o ensino com teto de verbas?
A
interrupção nos empréstimos internacionais do BNDES, que parece um tema de
“lisura” é uma tragédia anunciada, porque deve gerar o calote das parcelas já
paga e o fim do nome do país para financiar exportações.
A indústria naval está
sendo destruída e o pré-sal será explorado nos próximos 20 anos com lucros para
poucos e nada revertido para políticas públicas de saúde, educação, ciência e
tecnologia.
O que
irão gerir esses novos prefeitos da direita, tão saudados? As expectativas do
“pós-PT” com recursos “pré-PT”?
As
transferências da União, com o déficit nas contas públicas se tornaram menores,
muito menores. O que é repassado a Estados e municipios por repartição de
receita, este ano, caíram 9%, em valores reais. As voluntárias, muito
mais.
O processo se repete, com a recessão, para o que vai dos Estados para a s
prefeituras, pela via do ICMS. O gigante São Paulo perdeu no mês de setembro
10% de suas receitas com este imposto.
Educação
e saúde nos tempos da PEC 241? Boa sorte para entregarem o que prometeram.
É
possível que João Dória consiga se sustentar bem, por um
tempo: é esperto, rápido e terá a mídia. Marcelo Crivella é uma
incógnita e pode perder ou ganhar com o interessantíssimo Globo X Record
no Rio.,
Diz um velho ditado que quando os gatos brigam, folgam os ratos.
Claro que
os tempos são sombrios. Poucas vezes, desde a ditadura, a direita esteve tão
feroz e obscurantista. E tendo agora, como teve nas Forças Armadas á época, a
Justiça como instrumento da perversidade.
Dia a dia
a “overdose” de judicialismo policial vai se acentuando e não apenas nisso: tem
sido sistemática a cassação de direitos sociais e trabalhistas pela via do
Judiciário, como já se apontou aqui.
“Quando
não se tem nada, não se tem nada a perder”. A frase do Bob Dylan, agora Nobel,
deveria servir à esquerda nesta hora de muitas mágoas, ambições e
auto-críticas.
Há
problemas geracionais, fetiches pelo “fracasso” que os meios de
comunicação alardeiam e que – embora reais, não podem ser tornados absolutos
por resultados de eleições locais.
Boa sorte
aos que pretendem se enclausurar em redomas de pureza egocêntrica. Mas quem
quiser viver o mundo real tem de se procupar em construir um programa
mínimo e amplo com alianças em setores (sociais, regionais e inclusive
empresariais) que logo irão descobrir que o envelhecido projeto do
golpismo também lhes será lesivo.
Não
haverá recuperação na economia real. Não está no horizonte imediato dos pobres
terem o que um dia tiveram.
Será fechada a porta da ascensão social aos
mais jovens. O Nordeste desconfia demais do Golpe. Os empresários que vendem
para o mercado interno não sairão da crise. Embora a mídia promova o otimismo
com o futuro, o povo aguarda e não servirá para sempre o antipetismo como
explicação para todas as mazelas, mas isso .
Aqueles
que negam a política (e a geopolítica) entendam: se o estado brasileiro
não mudar, o país não muda e o nosso povo (e, com ele, o convívio social mais
amplo) afundará cada vez mais.
A disputa
pelas políticas públicas permite multiplicar o alcance e eficácia da nossa luta
por um país melhor e mais justo. Isso não é contraditório com organização
popular ou conscientização da sociedade.
São lutas complementares permanentes.
Reduzir nossos sonhos a isto não apenas é pensar em ponto pequeno, é destruir
estes próprios avanços, porque torna-los o tema central nos afasta do que o
povo sente.
O Brasil
não tem outro caminho senão o de ser o que é: um país grande, um grande país.
Sem essa visão nacional, jamais seremos um país com renda média, com
condições de vida dignas para uma população de 200 milhões, com distribuição de
renda ao mínimo civilizada.
Não temos
outra opção, pelo nosso tamanho, senão ser uma potência com repercussões
globais e é por isso que o golpe não enxerga o quanto nos diminui e diminuirá
no contexto (político e econômico) mundial. Países pequenos, como o Uruguai,
podem garantir bom padrão de vida para sua população sem ameaçar ninguém.
Não
temos esta opção, não basta uma simples gestão: precisamos de um projeto
nacional, que nossa elite faz questão de sabotar e parte da esquerda acha
bobagem.
Inexistem
caminhos para a estabilidade aqui que não passem pelo crescimento econômico,
inclusão social, democracia e participação, promoção de tolerância, respeito ao
meio ambiente (com eficiência energética e fontes alternativas), mais recursos
para educação, saúde, ciência e tecnologia, inclusive de defesa nacional.
Já
estivemos, com erros e insuficiências, nessa direção.
A
política tem suas ondas.
Fluem e refluem e cada uma delas deixa suas marcas.
Quem as despreza, quem não sabe perceber seus sinais, quem não tem convicção
suficiente para ter calma e compreende-las dificilmente estará no lugar certo
na próxima maré.
Pode ficar só, no seco, pode ser engolfado e tragado por ela.