FCO.LAMBERTO FONTES
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DE JUNHO DE 2018 ÀS 05:37
O MANIFESTO DE LULA
AO POVO BRASILEIRO
"Minha candidatura representa a esperança,
e vamos levá-la até as últimas consequências, porque temos ao nosso lado a
força do povo", diz Lula, que lidera todas as pesquisas e vem sendo
mantido como preso político em Curitiba para ser excluído do processo
eleitoral; ontem, militantes do PT usaram máscaras no lançamento da sua
candidatura
Por
Luiz Inácio Lula da Silva
Há dois meses estou
preso, injustamente, sem ter cometido crime nenhum. Há dois meses estou
impedido de percorrer o País que amo, levando a mensagem de esperança num
Brasil melhor e mais justo, com oportunidades para todos, como sempre fiz em 45
anos de vida pública.
Fui privado de conviver diariamente com meus filhos e minha filha,
meus netos e netas, minha bisneta, meus amigos e companheiros. Mas não tenho
dúvida de que me puseram aqui para me impedir de conviver com minha grande
família: o povo brasileiro. Isso é o que mais me angustia, pois sei que, do
lado de fora, a cada dia mais e mais famílias voltam a viver nas ruas,
abandonadas pelo estado que deveria protegê-las.
De onde me encontro, quero renovar a mensagem de fé no Brasil e em
nosso povo. Juntos, soubemos superar momentos difíceis, graves crises
econômicas, políticas e sociais. Juntos, no meu governo, vencemos a fome, o
desemprego, a recessão, as enormes pressões do capital internacional e de seus
representantes no País. Juntos, reduzimos a secular doença da desigualdade
social que marcou a formação do Brasil: o genocídio dos indígenas, a escravidão
dos negros e a exploração dos trabalhadores da cidade e do campo.
Combatemos sem tréguas as injustiças.
De cabeça erguida, chegamos
a ser considerados o povo mais otimista do mundo. Aprofundamos nossa democracia
e por isso conquistamos protagonismo internacional, com a criação da Unasul, da
Celac, dos BRICS e a nossa relação solidária com os países africanos. Nossa voz
foi ouvida no G-8 e nos mais importantes fóruns mundiais.
Tenho certeza que podemos reconstruir este País e voltar a sonhar
com uma grande nação. Isso é o que me anima a seguir lutando.
Não posso me conformar com o sofrimento dos mais pobres e o
castigo que está se abatendo sobre a nossa classe trabalhadora, assim como não
me conformo com minha situação.
Os que me acusaram na Lava Jato sabem que mentiram, pois nunca fui
dono, nunca tive a posse, nunca passei uma noite no tal apartamento do Guarujá.
Os que me condenaram, Sérgio Moro e os desembargadores do TRF-4, sabem que
armaram uma farsa judicial para me prender, pois demonstrei minha inocência no
processo e eles não conseguiram apresentar a prova do crime de que me acusam.
Até hoje me pergunto: onde está a prova?
Não fui tratado pelos procuradores da Lava Jato, por Moro e pelo
TRF-4 como um cidadão igual aos demais.
Fui tratado sempre como inimigo.
Não cultivo ódio ou rancor, mas duvido que meus algozes possam
dormir com a consciência tranquila.
Contra todas as injustiças, tenho o direito constitucional de
recorrer em liberdade, mas esse direito me tem sido negado, até agora, pelo
único motivo de que me chamo Luiz Inácio Lula da Silva.
Por isso me considero um preso político em meu país.
Quando ficou claro que iriam me prender à força, sem crime nem
provas, decidi ficar no Brasil e enfrentar meus algozes. Sei do meu lugar na
história e sei qual é o lugar reservado aos que hoje me perseguem. Tenho
certeza de que a Justiça fará prevalecer a verdade.
Nas caravanas que fiz recentemente pelo Brasil, vi a esperança nos
olhos das pessoas. E também vi a angústia de quem está sofrendo com a volta da
fome e do desemprego, a desnutrição, o abandono escolar, os direitos roubados
aos trabalhadores, a destruição das políticas de inclusão social
constitucionalmente garantidas e agora negadas na prática.
É para acabar com o sofrimento do povo que sou novamente candidato
à Presidência da República.
Assumo esta missão porque tenho uma grande responsabilidade com o
Brasil e porque os brasileiros têm o direito de votar livremente num projeto de
país mais solidário, mais justo e soberano, perseverando no projeto de
integração latino-americana.
Sou candidato porque acredito, sinceramente, que a Justiça
Eleitoral manterá a coerência com seus precedentes de jurisprudência, desde
2002, não se curvando à chantagem da exceção só para ferir meu direito e o
direito dos eleitores de votar em quem melhor os representa.
Tive muitas candidaturas em minha trajetória, mas esta é
diferente: é o compromisso da minha vida. Quem teve o privilégio de ver o
Brasil avançar em benefício dos mais pobres, depois de séculos de exclusão e
abandono, não pode se omitir na hora mais difícil para a nossa gente.
Sei que minha candidatura representa a esperança, e vamos levá-la
até as últimas consequências, porque temos ao nosso lado a força do povo.
Temos o direito de sonhar novamente, depois do pesadelo que nos
foi imposto pelo golpe de 2016.
Mentiram para derrubar a presidenta Dilma Rousseff, legitimamente
eleita.
Mentiram que o país iria melhorar se o PT saísse do governo; que
haveria mais empregos e mais desenvolvimento. Mentiram para impor o programa
derrotado nas urnas em 2014. Mentiram para destruir o projeto de erradicação da
miséria que colocamos em curso a partir do meu governo. Mentiram para entregar
as riquezas nacionais e favorecer os detentores do poder econômico e
financeiro, numa escandalosa traição à vontade do povo, manifestada em 2002,
2006, 2010 e 2014, de modo claro e inequívoco.
Está chegando a hora da verdade.
Quero ser presidente do Brasil novamente porque já provei que é
possível construir um Brasil melhor para o nosso povo. Provamos que o País pode
crescer, em benefício de todos, quando o governo coloca os trabalhadores e os
mais pobres no centro das atenções, e não se torna escravo dos interesses dos
ricos e poderosos. E provamos que somente a inclusão de milhões de pobres pode
fazer a economia crescer e se recuperar.
Governamos para o povo e não para o mercado. É o contrário do que
faz o governo dos nossos adversários, a serviço dos financistas e das
multinacionais, que suprimiu direitos históricos dos trabalhadores, reduziu o
salário real, cortou os investimentos em saúde e educação e está destruindo
programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronaf, Luz Pra
Todos, Prouni e Fies, entre tantas ações voltadas para a justiça social.
Sonho ser presidente do Brasil para acabar com o sofrimento de
quem não tem mais dinheiro para comprar o botijão de gás, que voltou a usar a
lenha para cozinhar ou, pior ainda, usam álcool e se tornam vítimas de graves
acidentes e queimaduras.
Este é um dos mais cruéis retrocessos provocados pela
política de destruição da Petrobrás e da soberania nacional, conduzida pelos
entreguistas do PSDB que apoiaram o golpe de 2016.
A Petrobrás não foi criada para gerar ganhos para os especuladores
de Wall Street, em Nova Iorque, mas para garantir a autossuficiência de
petróleo no Brasil, a preços compatíveis com a economia popular.
A Petrobrás
tem de voltar a ser brasileira.
Podem estar certos que nós vamos acabar com
essa história de vender seus ativos. Ela não será mais refém das multinacionais
do petróleo. Voltará a exercer papel estratégico no desenvolvimento do País,
inclusive no direcionamento dos recursos do pré-sal para a educação, nosso
passaporte para o futuro.
Podem estar certos também de que impediremos a privatização da
Eletrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa, o esvaziamento do BNDES e de todos
os instrumentos de que o País dispõe para promover o desenvolvimento e o
bem-estar social.
Sonho ser o presidente de um País em que o julgador preste mais
atenção à Constituição e menos às manchetes dos jornais.
Em que o estado de direito seja a regra, sem medidas de exceção.
Sonho com um país em que a democracia prevaleça sobre o arbítrio,
o monopólio da mídia, o preconceito e a discriminação.
Sonho ser o presidente de um País em que todos tenham direitos e
ninguém tenha privilégios.
Um País em que todos possam fazer novamente três refeições por
dia; em que as crianças possam frequentar a escola, em que todos tenham direito
ao trabalho com salário digno e proteção da lei. Um país em que todo
trabalhador rural volte a ter acesso à terra para produzir, com financiamento e
assistência técnica.
Um país em que as pessoas voltem a ter confiança no presente e
esperança no futuro. E que por isso mesmo volte a ser respeitado
internacionalmente, volte a promover a integração latino-americana e a cooperação
com a África, e que exerça uma posição soberana nos diálogos internacionais
sobre o comércio e o meio ambiente, pela paz e a amizade entre os povos.
Nós sabemos qual é o caminho para concretizar esses sonhos.
Hoje
ele passa pela realização de eleições livres e democráticas, com a participação
de todas as forças políticas, sem regras de exceção para impedir apenas
determinado candidato.
Só assim teremos um governo com legitimidade para enfrentar os
grandes desafios, que poderá dialogar com todos os setores da nação respaldado
pelo voto popular. É a esta missão que me proponho ao aceitar a candidatura
presidencial pelo Partido dos Trabalhadores.
Já mostramos que é possível fazer um governo de pacificação
nacional, em que o Brasil caminhe ao encontro dos brasileiros, especialmente
dos mais pobres e dos trabalhadores.
Fiz um governo em que os pobres foram incluídos no orçamento da
União, com mais distribuição de renda e menos fome; com mais saúde e menos
mortalidade infantil; com mais respeito e afirmação dos direitos das mulheres,
dos negros e à diversidade, e com menos violência; com mais educação em todos
os níveis e menos crianças fora da escola; com mais acesso às universidades e
ao ensino técnico e menos jovens excluídos do futuro; com mais habitação popular
e menos conflitos de ocupações nas cidades; com mais assentamentos e
distribuição de terras e menos conflitos de ocupações no campo; com mais
respeito às populações indígenas e quilombolas, com mais ganhos salariais e
garantia dos direitos dos trabalhadores, com mais diálogo com os sindicatos,
movimentos sociais e organizações empresarias e menos conflitos sociais.
Foi um tempo de paz e prosperidade, como nunca antes tivemos na
história.
Acredito, do fundo do coração, que o Brasil pode voltar a ser feliz.
E pode avançar muito mais do que conquistamos juntos, quando o governo era do
povo.
Para alcançar este objetivo, temos de unir as forçasdemocráticas
de todo o Brasil, respeitando a autonomia dos partidos e dos movimentos, mas
sempre tendo como referência um projeto de País mais solidário e mais justo,
que resgate a dignidade e a esperança da nossa gente sofrida. Tenho certeza de
que estaremos juntos ao final da caminhada.
Daqui onde estou, com a solidariedade e as energias que vêm de
todos os cantos do Brasil e do mundo,posso assegurar que continuarei
trabalhando para transformar nossos sonhos em realidade. E assim vou me
preparando, com fé em Deus e muita confiança,para o dia do reencontro com o
querido povo brasileiro.
E esse reencontro só não ocorrerá se a vida me faltar.
Até breve, minha gente
Viva o Brasil! Viva a Democracia! Viva o Povo Brasileiro!
Luiz Inácio Lula da Silva
Curitiba, 8 de junho de 2018