–A Doutora Cármen Lúcia, presidente do STF e da República,
enquanto Michel Temer desfila sua insignificância no exterior, veio falar, como
é de sua preferência, a uma plateia de de empresários no Rio de Janeiro e deu
algumas daquelas declarações de alta densidade filosófica, como não faria
melhor o Conselheiro Acácio de Eça de Queiroz:
"Basta ter olhos a ver que estamos vivendo, não uma pátria
mãe gentil, a falta de gentileza parece que está presente de todos nós. É
preciso que nós recobremos basicamente a sermos filhos gentis para que essa
pátria seja uma mãe gentil para todos".
Melhor não faria aquele simpático lunático, se me perdoam o eco,
do profeta que desenhava seus dísticos como o famoso "Gentileza gera
Gentileza".
Já nem sugiro à ministra que busque autores mais eruditos, como
os Don & Ravel da ditadura e seus conselhos de que se 'plante uma flor/ pra
florir nosso país /quem destrói a paz / não verá jamais/ um irmão feliz, em seu
clássico "Só o amor constrói".
Bastaria apenas que Dona Cármem, em lugar de embarcar no carro
de vidros escurecidos à saída da Associação Comercial, no Centro do Rio,
percorresse algumas dezenas de metros entre camelô, pedintes ou gente
embrulhada em farrapos de cobertor para ter ideia de que estes filhos da pátria
são até muito gentis perto da forma que a mãe, que ela representa em sua pompa,
as trata.
No encontro, a ilustre ministra, do alto de sua sapiência, disse
que as 'instituições estão funcionando, apesar do momento de incerteza'.
Ah, sim, estão. No meio da maior crise político-institucional
das últimas décadas, com o país ardendo numa crise sem tamanho, as autoridades
judiciais do nosso país debatem-se numa intensa procura de...encontrar uma
fórmula para dar forma "menos ilegal" ao auxílio-moradia...
Enquanto não se encontra, claro, "temos de manter
isso", porque suas excelências ganham pouco, ao redor de apenas R$ 30 mil,
o que já não dá para comprar ternos em Miami.
Chegamos ao ponto de ter de esperar um paquiderme (paquiderme,
excelência, antes que me queira processar, quer dizer "pele grossa"
ou "casca grossa" como falaria o povão) como o ministro Gilmar Mendes
ser o porta-voz de um protesto que caberia a outros magistrados, menos
"capangueiros", contra a estúpida investigação contra professores
universitários, o novo reitor Ubaldo Cesar Balthazar e o chefe de gabinete da
Reitoria da UFSC, pelo crime deste último ter aparecido alguns segundos
enquanto estudantes exibiam uma faixa criticando uma delegada da PF e uma
juíza.
As duas foram as
responsáveis pela ridícula operação que arrastou o ex-reitor Luiz Carlos
Cancellier à humilhação, que o levaria ao suicídio.
(Sobre isso, aliás, informações novas no Blog do Marcelo Auler)
Dos neoministros Luís Roberto Barroso e Luiz Fachin, até há
pouco professores universitários, nem um pio. No caso do primeiro, ao menos,
seu compromisso com a comunidade acadêmica parece ser apenas o de privatizá-la.
As instituições, tem razão a senhora Ministra, estão
funcionando. Funcionando como fábricas do ódio que a senhora diz ver por toda
parte, distribuído com eficiência e sem parcimônia pelas redes sociais e pela
mídia.
Permito-me sugerir à ministra, se não lhe caiu bem a citação de
Don & Ravel, buscar nos nos versos de Camões onde ele diz que um rei, meu
xará, esteve a ponto de deixar destruir-se o reino por que "um fraco rei
faz fraca a forte gente"
Quando um reino tem o ódio nas cortes, vai querer gentileza nas
ruas?