No Blog do Mílton Jung:
Por Nei Alberto Pies - Professor e ativista de direitos humanos
“Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”. (Paulo Freire)
A cidadania não é vazia.
Ela reveste-se de conteúdos e práticas que traduzem, necessariamente, atitudes,
vivências e oportunidades que todos realizamos em sociedade. Cidadania é a
possibilidade concreta de todos e todas usufruírem das condições materiais, culturais
e científicas produzidas por uma nação e pelo mundo. Para alguns poucos,
talvez, cidadania não signifique mais do que reconhecimento. Para a maioria, no
entanto, cidadania representa a possibilidade de participar do mundo, a partir
de condições de uma vida na dignidade.
A dignidade humana envolve questões
elementares como educação, habitação, alimentação, saúde, lazer, trabalho,
consideração e respeito.
O Brasil promoveu, nos últimos anos, importantes avanços para combater a
pobreza e as desigualdades sociais, mas ainda vivemos sob a regência de uma
“cidadania de papel”. Gilberto Dimenstein, autor do livro “O cidadão de papel”,
afirma que “cidadão de verdade é aquele que é respeitado e pode se sentir digno
ao pagar impostos”. Ainda vivemos situações onde a cidadania não acontece por
conta da própria burocracia estatal que se encarrega de dificultar o acesso aos
bens e serviços básicos. A burocracia, o papel, atrapalha e dificulta muito a
cidadania. A legislação brasileira, tida como uma das mais avançadas, não
garante cidadania. Para tirá-la do papel, é preciso exigir e cobrar
permanentemente a sua efetividade no cotidiano de nossas comunidades. Mas como cobrá-la
se nem sempre temos pleno conhecimento de nossos direitos ou se não temos
disponibilidade pessoal ou coletiva para cobrá-la?
A decadência do poder da cidadania leva as pessoas a apostar na sorte. Os
direitos passam a ser vistos como possibilidades sujeitas a trocas ou favores e
não como elementos de exigibilidade. Muitos brasileiros, infelizmente, são
induzidos a crer que a sua vida sempre depende da bondade, conhecimento ou
influência de alguém. Desta forma, vivem passivamente à espera de dias melhores,
sem tomar as suas iniciativas.
Para vivermos uma cidadania ativa, precisamos construir condições de
“empoderamento” através da informação, conhecimento, orientação e organização
das pessoas em suas comunidades. Quem conhece seus direitos, participa de
sindicatos, grupos ou associações, passa da apatia cidadã para uma postura de
sujeito de direitos, tornando-se capaz de reclamar e atuar na defesa e promoção
dos direitos, sem pestanejar. Ao perceber os limites de sua atuação individual,
passa a ser também um sujeito social, capaz de buscar soluções de forma
coletiva e organizada. A organização coletiva, para a conquista dos direitos, é
a melhor forma de transformar “letra morta” (lei) em realidade.
Ao contrário dos valores individualistas e egoístas, a luta por direitos humanos se faz na cooperação, no amor e na solidariedade. Lutar por direitos é acreditar nas potencialidades humanas e na liberdade de cada um e cada uma realizar as suas escolhas.
Ao contrário dos valores individualistas e egoístas, a luta por direitos humanos se faz na cooperação, no amor e na solidariedade. Lutar por direitos é acreditar nas potencialidades humanas e na liberdade de cada um e cada uma realizar as suas escolhas.