ENGANA QUE EU GOSTO
editorial
Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises
“A mentira tem pernas curtas”. – Ditado popular brasileiro
O último final de semana registrou 18 mortes na Grande Beagá. Levando-se em consideração que normalmente cada mês tem quatro fins de semana, se multiplicarmos 18 x 4 chegaremos ao número 72. Na mesma linha de raciocínio se multiplicarmos o número 72 por 12, que são os meses que compõem o ano, teremos um número de mortes violentas equivalente a 861, o que irá equivaler, em 10 anos, a 8.610 vidas perdidas. As tropas norte-americanas que invadiram o Iraque não chegaram a perder 5.000 mil soldados, embora o número de civis mortos inocentemente naquele país tenha sido devastador. Porém, a mídia que se nutre desta guerra não declarada e de efeito intestino prefere desconhecer tais estatísticas. Isto somente na área da Grande Beagá.
Além de vivermos uma guerra civil não declarada, outros efeitos colaterais surgem a desmentir os milhões de reais que “frau Andréa Goebbels “Mãos de Tesoura” gasta com a publicidade no sentido de comprar elogios para o seu irmão, o ex-governador de Minas e atual senador Aécio Neves ou então o silêncio complacente da mídia vendida”. Não deve ter sido a toa que o insípido governador Antonio Anastasia determinou que os setores competentes, no mínimo espaço de tempo resolvam a questão que diz respeito aos rabecões. Belo Horizonte dispõe de apenas um, segundo noticiário de uma rádio pertencente à insuspeita Rede Globo, e o aumento das mortes literalmente está se transformando em problema adicional com o congestionamento de remoção de cadáveres e excedente populacional no Instituto Médico Legal.
Mais, uma fonte da Polícia Militar de Minas Gerais informou a este repórter que o contingente da corporação se ressente da falta de cem mil praças e que “o governo não dispõe de dinheiro para contratá-los e além dos mais os escalões superiores da PMMG não desejam tais contratações para não prejudicar as perspectivas de aumentos salariais”.
No mesmo final de semana, circunstâncias me obrigou a rodar de taxi um mínimo de 20 quilômetros por Belo Horizonte, de madrugada, sem que em qualquer ponto da cidade fosse visto uma única viatura ou um policial civil e militar. Se eu fosse bandido e morasse em qualquer outra cidade do Brasil mudaria para Belo Horizonte “em virtude das excelentes condições de trabalho que a cidade oferece”.
Ainda no que diz respeito ao vetor de segurança pública, os policiais são mal pagos, mal equipados e o Estado de Minas Gerais se dá ao luxo de destruir a Polícia Civil. Para finalizar este item, é importante ressalvar que o goleiro Bruno foi condenado a 22 anos de prisão pela morte da modelo Elisa Samudio e o Ministério Público recorreu da sentença, entendendo que ela foi pouca, buscando uma penalidade mais elevada para o réu. Entretanto o teólogo e detetive particular Reinaldo Pacífico, matador da também ex-modelo, dublê de garota de programa e “mula” de transporte de dinheiro do mensalão, Cristiana Aparecida Ferreira, condenado por um júri popular a 14 anos de prisão em regime fechado não foi preso um dia sequer e nem será, pois o Superior Tribunal de Justiça – STJ – sem maiores explicações concedeu um habeas corpus lacônico, beneficiando o condenado depois que, segundo uma fonte, ele “ameaçou entregar o ex-ministro do Turismo do governo Lula”, o “socialista” Walfrido Silvino dos Mares Guia, entre outras peripécias, acusado em desgravação de uma fita do escritório de advocacia J. Engler Filho, de ter participado de sexo grupal com a modelo, juntamente com o ex-governador Newton Cardoso e o atual presidente da Cemig, Djalma Moraes, o que foi publicado pelo Novojornal. O Ministério Público tomará alguma atitude diante de tal anomalia?
No plano da saúde pública, o governo factóide de Aécio Neves e Antonio Anastasia prioriza a construção de sedes administrativas com problemas estruturais, gastos absurdos com publicidade e construções de estádios de futebol a preços superfaturados, em detrimento da implantação de hospitais e postos de saúde. Enquanto isto os médicos e paramédicos recebem salários aviltantes enquanto aumenta a migração cada vez maior dos planos de saúde para o atendimento médico público que, diga-se de passagem, mesmo com todas as dificuldades em certos aspectos chega a superar o atendimento privado. Mas a publicidade de “frau Andrea Goebbels”, a “Mãos de Tesoura”, insiste em mostrar Minas Gerais como uma ilha de fantasia, esquecendo-se de dizer que estamos próximos da casa dos 80 mil infectados pela dengue, como diz um dileto amigo, doença produzida pelo mosquito “Aécio egyptis”.
Na área da educação outra tragédia. Professores extremamente aviltados e mal remunerados, sem as mínimas condições de trabalho, tendo de lidar diariamente com o ciclo da violência e um transporte coletivo que é outro suplício, submetendo todos os cidadãos de Belo Horizonte a um pré-vestibular para sardinha enlatada, mostrando que sempre no confronto da publicidade enganosa com a notícia verdadeira, a noticia acaba por triunfar.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.
geraldo.elisio@novojornal.com