quarta-feira, 22 de maio de 2013

22/05/2013
 EDITORIAL I:
PROVA DE MATURIDADE
Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises

Por Geraldo Elísio
"A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento, entender com mais tranquilidade, querer com mais doçura." - Lya Luft

Muitas vezes escrevi neste espaço afirmando não temer patrulhamentos ideológicos de qualquer natureza. E o reafirmo. Entendo verdadeira imprudência da Comissão da Verdade a idéia de revisão da Lei da Anistia, mesmo com todas as falhas que a mesma possa conter.
Rever a História, colocar quem é quem em seu lugar, pois não se pode reescrevê-la é um dever. Para nunca mais acontecer às barbaridades ocorridas, porém respeitado o pacto aceito pela sociedade nacional visando o restabelecimento da democracia.
Tenho um Prêmio Esso Regional de Jornalismo denunciando torturas e quanta souber dispondo de provas todas voltarei a denunciar, ainda que tenha que enfrentar os mesmos riscos de 77. Entendo ser Brilhante Ustra e todos da linha comportamental dele espécimes a envergonhar o gênero humano. Mas os praticantes de terror em nome de ideologias igualmente não contribuíram para lustra a História.
Uma coisa é guerra de libertação. Outra o equívoco libertário a contribuir ainda que sem querer para o fortalecimento do regime autoritário, onde não pode ficar sem registro o golpe civil militar perpetrado contra o presidente João Goulart, legitimamente eleito e exilado quando as casernas – mesmo com a solicitação de parte a população rasgou a Constituição e deu continuidade prolongada a uma noite de trevas. Pior, conspirando com potências estrangeiras para obter o seu intento.
Assim, vejo como um ato de sensatez a linha oposta do ministro Celso Amorim, da Defesa, ao explicar que independentemente das recomendações da Comissão o governo da presidenta Dilma Rousseff não dará respaldo à punição de militares, o que demonstra maturidade e a preocupação maior com o futuro.
Entendo perfeitamente a dor de quantos perderam seus familiares neste confronto fratricida e com todos sou solidário, mas há de ser reconhecido o pacto aprovado. Filigranas jurídicas não foram debatidas com veemência na ocasião e muito tempo depois da aceitação quer queiram ou não, gostem ou não, deixa no ar uma fumaça de revanchismo.
Mais importante de tudo é não permitir que nunca mais a Constituição seja rasgada, principalmente se houver interesse estrangeiro em tal procedimento a configurar um crime de lesa pátria, tornando desnecessárias ações extremistas cabíveis em contextos de guerras de libertação, nunca em confrontos envolvendo um só povo, uma só Nação. Dilma Rousseff deu mostra de dignidade e angariou o respeito devido a uma estadista. Quanto a agradar todos os lados nem Cristo conseguiu isto. Se ainda existem feridas é hora de pensá-las e pensar em um novo Brasil.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

geraldo.elisio@novojornal.com


Editorial II:
RESISTIR É PRECISO
Por Geraldo Elísio
“Se faço ficção, posso inventar o que quiser. Se faço jornalismo, não posso. Devo ater-me aos fatos.” - Ricardo Noblat

É com tristeza que veteranos profissionais da imprensa lêem, a exemplo de uma crônica de uma morte anunciada, o estertorar do jornalismo impresso, vivendo o seu último período diante dos avanços da comunicação eletrônica onde o primeiro elo a ser rompido foi o da fidelidade com a mídia tradicional, com os internautas passando além de leitores a partícipes a expor suas opiniões e reclamar verdades e inverdades, inclusive eventuais erros que passam pelas revisões.
Breve os futuros jornalistas terão de ser literalmente multimídias, obrigados a um amplo conhecimento cultural e técnico quanto às estruturas de nuvem, rádio, televisão, vídeos e filmes para não alongarmos muito. E o pior a fase de transição tem sido madrasta, pois o mercado a cada dia que passa fica mais curto e as Escolas de Comunicação ainda não se adequaram à nova realidade com o distanciamento natural da velha guarda, quer seja pela morte ou aposentadoria e a falta de preparo adequado dos que nascem para o novo tempo.
Neste cenário a morte, aos 88 anos do jornalista Ruy Mesquita, do jornal O Estado de São Paulo torna-se quase um emblema. Como disse o jornalista Luís Nassif “ele morreu antes do Estadão”, como o jornal é conhecido. Embora conservador, Ruy Mesquita não impediu que os seus jornalistas publicassem na primeira página de seu jornal receitas de bolo, indicativas de que a censura imposta aos meios de comunicação de massa pós o golpe civil militar de 64 estava a vigir.
Conservador assumido, ótimo editorialista, não consta que o seu jornal tenha tido envolvimentos com o Grupo Time Life a partir do golpe que derrubou João Goulart, quando logo em seguida à Operação Brother Sam – o envio de um porta aviões da classe Forrestal da marinha dos EUA para dar suporte aos golpistas – o governo de Washington criou a Operação Baby Sam, destinada a divulgar interesses norte americanos no Brasil. Ocasião em que foi dado muito dinheiro a dois expoentes do jornalista brasileiro: Roberto Marinho e Assis Chateaubriand. Roberto Marinho investiu o dinheiro na atividade destinada e construiu o império da Rede Globo de TV. Chateaubriand segundo fontes preferiu investir o que recebeu em uma fazenda de produção de algodão no norte de Minas Gerais.
Ruy Mesquita, em meados da década de 70, a bordo de um avião da Varig, com destino à Brasília, acabou sendo expulso da aeronave pelo comandante no Aeroporto da Pampulha, no intervalo de uma escala quando os dois se altercaram. O governador de Minas era Francelino Pereira que mandou buscá-lo em palácio e cedeu o avião que o atendia para conduzir o diretor do Estadão até a capital federal.
Eleito governador de Minas, Newton Cardoso encarregou ao jornalista Tito Guimarães e a mim de viajar com ele até São Paulo para um encontro com o doutor Ruy. Newton pediu que Tito e eu fossemos primeiro e faltando 15 minutos telefonou avisando que em vista de um mal estar não poderia comparecer à sede do jornal. O problema foi resolvido pelo então editor de internacional de O Estado de São Paulo, jornalista Marcos Wilso Spyer, com quem eu havia trabalhado na ZYU-4, Rádio Cultura de Sete Lagoas. Ele explicou a situação ao doutor Ruy Mesquita que determinou fosse feita uma entrevista dada pelo Tito ao editor geral do Estadão, Miguel Jorge, depois diretor da Anfavea e posteriormente ministro de Estado.
A morte de Ruy Mesquita queira ou não tem um importante significado, principalmente alertando que os jornais submissos podem ter como casa mortis o silêncio. O que não foi o caso dele, independentemente de suas convicções ideológicas.
A saúde da medicina
O jornal espanhol El Pais de ontem anunciava uma entrevista do ministro da Saúde do Brasil, Alexandre Padilha, segundo o qual os médicos cubanos não mais virão para o Brasil em virtude de análises do Palácio do Planalto ter considerado a insuficiência de tempo na formação acadêmica dos mesmos.
Segundo o diário espanhol em lugar deles virá médicos espanhóis e portugueses, o que de qualquer forma deverá desagradar aos profissionais brasileiros que atuam na área. Seja lá de onde for que cheguem médicos ao Brasil eles enfrentarão o mesmo problema da falta de infra-estrutura para tratar os seus pacientes nos pequenos municípios onde existe a carência de tais profissionais.
Na edição de quarta feira (22) o El Pais estampa em manchetinha que o Brasil mudará o Estatuto do Estrangeiro para facilitar a vida dos imigrantes. Possa ser que o País queira resgatar o ciclo das migrações ao tempo do Império, envolvendo principalmente japoneses e italianos, mas não é de se descartar diante da situação econômica mundial a exportação de contingentes populacionais desempregados. A decisão foi considerada importante em Madrid.
O anúncio desta feita foi do ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso ao anunciar a criação de uma comissão que tratará do assunto. A Lei atual data de 1980, ainda sob o regime militar pós o golpe civil militar de 64. Fontes governamentais dizem que ela ainda contém medo de que comunistas possam vir para o Brasil.
A matéria ressalta que será dada preferência a mão de obra especializada e que o Brasil não necessita de “peões”. Segundo o ministro tudo ficará mais fácil e se acabará com “o calvário de muitos imigrantes”.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

geraldo.elisio@novojornal.com