Publicado em 02/05/2013
A
louca cavalgada de Aécio
Aécio parece estar repetindo coisas que são
faladas por Jabor, escritas por Merval, repetidas por Reinaldo Azevedo
Paulo Nogueira
Ao repetir chavões arquiconservadores como o da democracia em
“risco”, ele vai se tornando um Serra com topete. Não acredito que FHC esteja,
de fato, orientando Aécio na caminhada deste rumo às eleições de 2014.
FHC é vaidoso, está
desatualizado, sofre ao se ver tão cedo relegado a uma nota de rodapé na
história dos presidentes brasileiros. Ele seguiu a receita de Thatcher e hoje
se vê no que ela deu nos países em que não houve uma drástica mudança de rota.
Bem, FHC tem muitos
defeitos – mas bobo, definitivamente, não é. Não é possível que ele esteja por
trás das tolices em série proferidas por Aécio.
Num espaço de poucos dias
Aécio conseguiu se pronunciar contra a reeleição – foi FHC quem a trouxe de
volta, sabemos todos a que preço – , levantou alarme sobre a inflação e agora
repete a ladainha dos dias de Lacerda segundo a qual a democracia está em
“perigo”.
Não faltariam bons
argumentos para Aécio criticar Dilma e o PT. Exemplo: um levantamento divulgado
esta semana mostrou que o Brasil, entre 40 países, ficou em penúltimo em
educação. (A Finlândia estava no topo, para confirmar a admirável supremacia da
sociedade escandinava.)
Aécio poderia falar nisso.
Dez anos de PT e é isso que temos a mostrar ao mundo em educação? Poderia
também citar outro estudo segundo o qual o Brasil é o quarto país mais desigual
da América Latina. Se você é quarto na Europa, é uma coisa desagradável, mas dá
para engolir. Mas ser quarto numa região já em si tão desigual como a América
Latina é vexatório.
Haveria, sim, muita coisa relevante a falar.
Mas para isso Aécio teria
que ler. Ou melhor, que ler as coisas certas.
Aécio parece estar
repetindo coisas que são faladas por Jabor, escritas por Merval, repetidas por
Reinaldo Azevedo – enfim, todos aqueles clichês arquiconservadores por
trás dos quais se esconde apenas o desejo de manter privilégios indefensáveis.
E repete o mesmo erro
incrível de Serra nestes anos todos: deixou o PT sozinho para falar do tema
mais importante não apenas do Brasil mas do mundo contemporâneo: justiça social.
Rapidamente, se transforma
num Serra com topete.
Não pelo que tem feito,
que sem dúvida poderia e deveria ser mais, mas pelas besteiras que os
adversários vão cometendo em série, Dilma tende a ter em 2014 uma das vitórias
mais fáceis da história das eleições presidenciais.