segunda-feira, 13 de maio de 2013

Publicado em 13/05/2013

EDITORIAL I: CASO DE CTI

Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises.

Por Geraldo Elísio

“A medicina bem que podia inventar uma vacina que nos tornasse imunes a espécie: Cafagestis Ordinárius...” - Lillian Gomes Ortega

Está na ordem do dia a “importação” de seis mil médicos cubanos, projeto que tem alimentado polêmicas. Não é unanimidade, mas existe no mínimo uma fama de que é boa a medicina praticada na ilha de Fidel Castro. Coloco imparcialmente a questão confessando não ser eu o “especialista” em pronunciar o conceito definitivo.
O argumento para a “abertura dos portos” é existir inúmeros municípios brasileiros onde inexistem médicos porquê profissionais do ramo se recusam a ir trabalhar em tais lugares, mesmo diante da atração de bons salários. Negar a existência de tal problema seria estupidez, como insensato igualmente é deixar de indagar por que isto acontece.
Ora, a existência de salários atrativos por si só não é um argumento salutar. Somente por esta razão tentar convencer um médico a ir trabalhar em um lugar qualquer é reduzir os profissionais da área à condição de simples mercenários descomprometidos com a ética e o Juramento de Hipocrates.
Se ouvi de um minimum minimorum que as especializações são melhores, mesmo existindo concentrações de especialidades em grandes centros, igualmente ouvi de uma imensa maioria que em tais lugares onde não existem médicos isto ocorre pela absoluta falta de infra-estrutura o que este velho repórter já tão rodado em suas jornadas profissionais pode atestar que é absoluta verdade. Como todas as demais profissões medicina é uma vocação. Claro o profissional da área quer ser remunerado, mas a vocação não é apenas a de cunho argentário. Eles e elas querem vencer as batalhas que lhes são impostas diante de um adversário reconhecidamente de peso chamado a morte e os males somáticos que a ele podem conduzir. Talvez por isso mesmo Hayrã Felipe Martins tenha dito que “A medicina não tem obrigação nem uma de salvar vidas, mas sim de adiar o dia da sua morte.”
E esta obrigação exige infra-estrutura. Uma infra que logicamente se destina à construção de postos de saúde, hospitais e aquisição de equipamentos de ponta e medicamentos de última geração sem desprezo da pesquisa que é fundamental para o desenvolvimento de qualquer setor da atividade humana.
Existem mercenários na categoria? É obvio que sim. Mas em quantidades ínfimas, enquanto os que vão muito além da sua obrigação são até em demasia. Como de resto existem mercenários nas igrejas, no jornalismo, no judiciário, no legislativo, no Executivo e em qualquer profissão.
Intriga-me igualmente se Cuba pode dispor de seis mil médicos. Ressalvado que eu possa estar enganado talvez só a China possa dispor de um contingente deste de qualquer profissional das tantas profissões existentes sobre a face da terra. Pessoalmente nada tenho contra a vinda de médicos cubanos para o Brasil, mas tais questões têm de ser resolvidas, inclusive o sub-emprego de médicos brasileiros. Os cubanos, se vier, virão para trabalhar sem infra-estrutura? Com infra-estrutura não haverão de faltar profissionais brasileiros.
Que todos os municípios brasileiros precisam de médicos isto é inquestionável. Inclusive motivo para se pensar em construções de estádios superfaturados que precisavam apenas de reformas, estruturas viárias construídas e demolidas a bel prazer como se inexistisse planejamento, cidade administrativa e tantas outras perfumarias. Sinhá Andréia"Goebells" Neves, a "Mãos de Tesoura", gastou dois bilhões apenas com publicidade inútil.  Lembramos que a Copa do Mundo terá duração de 28 dias enquanto os serviços essenciais, estes sim são para a vida inteira.
PS - Injustiça dizer que a greve dos médicos é ilegal sem maiores conseqüências. Na verdade no item da pauta de reivindicações eles reclamam condições de trabalho. Ninguém pede condições de trabalho para ficar flanando por aí. Desmoralizados, desacreditados perante o povo, os dirigentes querem transferir suas culpas para os outros.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.


Editorial II: VOCÊ TEM RAZÃO,
MAS VAI PRESO ASSIM MESMO

“O ignorante afirma, o sábio duvida, o sensato reflete.” -  Aristóteles

Um amigo me telefona e reclama de uma publicidade feita pelo Clube dos Diretores Lojistas de Belo Horizonte, segundo ele responsabilizando funcionários públicos estaduais e municipais que deflagram greves e “provocam a queda do comércio em virtude das complicações a tumultuar o transito”. Límpido como a água da fonte: fonte não se revela com proteção constitucional. Só posso dizer que o amigo é pessoa bastante séria e tem razão em ver manipulação política no esquema contra o qual ele protesta.
Como diria Jack “The ripper”, ou seja, “O estripador”, vamos por partes. Não é de hoje que o trânsito de Belo Horizonte é caótico, mesmo quando a Capital dos mineiros ainda não dispunha do número de veículos dos quais hoje dispõe. Em 82, disputando o Palácio da Liberdade com Tancredo Neves o então ministro dos Transportes, Eliseu Resende, diria que se não fosse construído um metrô chegaríamos aonde chegamos. Com muito esforço implantaram os trens suburbanos eufemisticamente chamados de metrô de superfície. O atual prefeito de Beagá, Márcio Lacerda, o Clóvis Bornay da quarta feira de cinzas, com a síndrome do tatu, brinca de perfurar ruas e avenidas anunciando a construção de um metrô subterrâneo, igual ao que a cidade de Buenos Aires possui desde a década de 40.
Em segundo lugar, apontava Eliseu Resende, a topografia de Belo Horizonte favorece a construção de “mergulhões”, viadutos e pontes que podem facilitar por demais o escoamento do trânsito, evitando a trabalhadores e trabalhadoras levantarem de madrugada com os filhos ainda dormindo e retornar às suas casas e encontrá-los nesta mesma condição, prejudicando um saudável relacionamento familiar.


Terceiro: o transporte coletivo de Belo Horizonte é o pior que conheço no Brasil, anos luz de distância, por exemplo, do transporte coletivo de Curitiba, no Paraná, onde cabeças pensantes, ao lado de outras medidas adotadas chegaram a excelentes condições. Culpar o aumento das vendas de carros, além de preconceituoso fere princípios da economia. Afinal só os ricos têm direito a ter de um a quatro veículos por residência? Quem estabeleceu este critério? Num exemplo similar, se todos os chineses quiserem comer um frango por dia logicamente a produção mundial será insuficiente para atendê-los. Aí surgirá o dilema: qual chinês tem ou não o direito de comer um frango por dia? No caso do qual estamos tratando quem tem ou não direito de ter o seu próprio veículo? Argumentar que isto contribui para erodir mais a camada de ozônio é outra idiotice, se levarmos em consideração que já existe tecnologia pronta até mesmo para carros movidos a água ou energia solar. Resta convencer os donos do petróleo que o cru não é mais necessário para tal finalidade.
Do ponto de vista econômico naturalmente sofrerão impactos as mineradoras – mesmo em se sabendo da existência de material alternativo - as fábricas que produzirão desempregados com eventuais cortes de produção; o comércio a desempregar milhares de pessoas; as oficinas de consertos e por aí afora numa sequência de dificuldades em cadeia. Além do mais, em um País capitalista como o Brasil, como existir o “vil metal” diante de uma eventual parada de produção e comercialização? Só se adotarmos de vez a máxima do ex-presidente José Sarney segundo a qual somos uma Nação de “esquerdismo de botecos e capitalismo de clubes”.
Certo é que médicos e paramédicos, agentes de segurança pública e professores, como de resto todos os trabalhadores brasileiros, ganhando mal não podem injetar vigor neste capitalismo selvagem a vigorar. Será, não entendem os capitalistas empedernidos, sonhando com algum possível retorno à escravidão, que quanto melhor ganhe um trabalhador, mais o dinheiro gira mais depressa retorna às suas mãos? Não, eu não sou capitalista, não sou economista, mas gosto bastante de lógica.
O suficiente para saber que não são trabalhadores em greve por melhores salários os responsáveis pela crônica má qualidade do transporte público em Belo Horizonte, onde os governos de toda natureza obedecem rigorosamente as ordens dos proprietários desse serviço, pensando unicamente em lucros sem contra partidas. Entretanto como já disse alguém mais observador “a ignorância é atrevida”. Ou por conveniência pura assim se faz. Porém não deve esquecer que ainda existem pessoas atentas e disposta a pensar e denunciar. Na esperança de que outros leiam e possam difundir a idéia.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

geraldo.elisio@novojornal.com