sábado, 20 de julho de 2013

AS COISAS QUE PRECISAM SER DITAS...SEMPRE.


De machismo
e chauvinismo

Por Yve Thomé

Nunca é demais falar sobre o discurso da sociedade patriarcal e machista que colabora para a violência física, mental e psicológica de inúmeras mulheres. Conversa de feminista, diálogo chato? 
Talvez, mas assunto que precisa ser falado, afinal votar, usar a roupa que bem lhe entender, ir e vir sozinha e trabalhar, todos esses direitos aparentemente simples e banais, tiveram que ser conquistados com garra e muita luta pelas mulheres.

Chato é o estupro diário aplicado pela sociedade às mulheres. Chato é a pressão e o medo inconscientemente sofridos, por exemplo, ao pegarmos um ônibus lotado e termos que nos preocupar em desviar nossos corpos de homens alheios.

Também é complicado receber o contracheque no final do mês com 30% a menos que o amigo a exercer a mesma função. Pois é, existe muito machismo velado. Não dá para achar normal essa falta de liberdade. Está mais do que na hora da mulher e de qualquer cidadão conhecer melhor e exercer seus direitos de cidadania.
Por isso aplaudo a Câmara ter aprovado o relatório final de um projeto que tipifica o crime de feminicídio, de acordo com a CPMI, caracterizado na forma extrema de violência de gênero a resultar na morte da mulher em três situações: quando há relação íntima de afeto ou parentesco entre a vítima e o agressor; quando há prática de qualquer violência sexual contra a vítima e em casos de mutilação ou desfiguração da mulher.

Mas também preocupa, porque ao mesmo tempo em que damos um passo para frente, damos outro para trás, pois na semana de aprovação do texto sobre o feminicídio, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro regrediu e simplesmente esqueceu um problema milenar, ao decidir que Dado Dolabella não deveria ser enquadrado na Lei Maria da Penha pela agressão que cometeu contra sua ex-namorada, a atriz Luana Piovani. Segundo eles, ela não poderia ser considerada uma "mulher vulnerável", uma vez que a vítima nunca foi uma mulher "oprimida pelo homem".

Então, como ter segurança? A mensagem que se percebe nesse caso é de que não adianta procurar a justiça. Mensagem altamente errônea.

Aí, você diz que é exagero e não acontece com freqüência. Claro! 

Acontece muito, ou se esqueceram da Eloá? Refém durante três dias do seu ex-namorado, Lindemberg a matou por ciúmes após o término do relacionamento. Isso ocorre infelizmente em muitos lugares e, segundo o IBGE, cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua vida. 

No mundo todo.  Até mesmo dentro de casa de pessoas com quem ela convive. Mas ninguém sabe do "outro lado", porque denunciar abuso sexual e físico é desconcertante, vergonhoso consigo próprio, é apanhar e achar que é normal ou que passará.

Vivemos um retrocesso de ideias, cobertas por um falso moralismo. Afinal a mulher que quer ser ativa sexualmente tem que se impor a uma série de regras morais e sociais, porque "é feio ter mais de um parceiro sexual", é prioritário não ter relações com uma pessoa conhecida no mesmo dia. E muito disso é culpa da própria mulher, alienada com o corpo da Barbie e vivente de um complexo de "Amélia" disfarçado de "em busca do príncipe encantado". 
Não é atoa, que proliferam agências e cursos de como arrumar um namorado e um homem perfeito, mas pelo amor de Deus, ninguém é perfeito. Ainda bem, pois se não o mundo seria extremamente tedioso.

Temos direito ao uso da pílula anticoncepcional e deveríamos ter o direito do aborto legal em casos de violência sexual, pois o útero é propriedade da mulher e não do Estado ou da Igreja. Além disso, milhares de mulheres morrem em clínicas clandestinas. Por isso, apoio as manifestações em relação aos nascituros e todas a favor da melhora da condição da opressão a qual diversas vezes somos submetidas.

Enfim, esse assunto pode ser chato, pedante e aborrecedor, como disse anteriormente, mas é necessário. Ou vamos continuar a permitir uma sociedade pintada com as cores do machismo?