FCO.LAMBERTO FONTES
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“O bolsonarismo é o neofascismo adaptado ao Brasil do século 21”
Para estudioso português de governos autoritários, bolsonarismo soma “nostalgia da ditadura,
discurso sobre a corrupção” e “ligação ao mundo evangélico”
Postado em: 3 jul 2013
Um Modelo
Diferente – Atenção Médica em Cuba.
Dois médicos
norte-americanos avaliam o sistema de saúde de Cuba
Edward W. Campion, M.D., and Stephen Morrissey,
Ph.D.
Para um visitante dos Estados
Unidos, Cuba desorienta. Automóveis norte-americanos estão em todo lugar, mas
todos datam dos anos 50. Nossos cartões bancários, cartões de crédito e
telefones inteligentes não funcionam. O acesso à internet é praticamente inexistente.
E o sistema de saúde também parece irreal. Há médicos demais. Todo mundo
tem um médico da família.
Tudo é de graça, totalmente de graça — e não precisa de aprovação prévia ou de algum tipo de
pagamento. Todo o sistema parece de cabeça para baixo. É tudo muito organizado
e a prioridade absoluta é a prevenção. Embora Cuba tenha recursos econômicos
limitados, seu sistema de saúde resolveu alguns problemas que o nosso [dos
Estados Unidos] ainda nem enfrentou.
Médicos de família, junto com
enfermeiras e outros profissionais de saúde, são os responsáveis por dar
atendimento primário e serviços preventivos para seu grupo de pacientes — cerca
de mil pacientes por médico em áreas urbanas.
Todo o cuidado é organizado no
plano local e os pacientes e seus profissionais de saúde geralmente vivem na
mesma comunidade. Os dados médicos em fichas de papel são simples e escritos à
mão, parecidos com os que eram usados nos Estados Unidos 50 anos atrás. Mas o
sistema é surpreendentemente rico em informação e focado na saúde da população.
Todos os pacientes são
categorizados de acordo com o nível de risco de saúde, de I a IV.
Fumantes, por exemplo, estão na categoria de risco II, e pacientes com doença
pulmonar crônica, mas estável, ficam na categoria III.
Todo
paciente é visitado em casa uma vez por ano e aqueles com
doenças crônicas recebem visitas mais frequentes. Quando necessário, os
pacientes podem ser direcionados a policlínicas distritais para avaliação de
especialistas, mas eles retornam para as equipes comunitárias para acompanhamento.
Por exemplo, a equipe local é responsável por garantir que o paciente com
tuberculose siga as recomendações sobre o regime antimicrobial e que faça os
exames.
Visitas em casa e conversas com
familiares são táticas comuns para fazer com que os pacientes sigam as
recomendações médicas, não abandonem o tratamento e mesmo para evitar gravidez
indesejada. Numa tentativa de evitar infecções como a dengue, a equipe de saúde
local visita as casas para fazer inspeções e ensinar as pessoas sobre como se
livrar da água parada.
Este
sistema altamente estruturado, orientado para a prevenção,
produziu resultados positivos.
As taxas de vacinação de Cuba estão entre as
mais altas do mundo.
A expectativa de vida de 78 anos de
idade é virtualmente idêntica à
dos Estados Unidos. A taxa de mortalidade infantil em Cuba caiu de 80
por mil nos anos 50 para menos de 5 por mil — menor que nos Estados Unidos,
embora a taxa de mortalidade materna esteja bem acima daquela dos países
desenvolvidos e na média para os países do Caribe.
Sem dúvida, os resultados são
consequência de melhorias em nutrição e educação, determinantes sociais básicos
para a saúde pública. A taxa de
alfabetização de Cuba é de 99% e o ensino sobre saúde é parte do
currículo obrigatório das escolas. Um recente programa nacional para promover a
aceitação de homens que fazem sexo com homens foi desenhado para reduzir as
taxas de doenças sexualmente transmissíveis e aumentar a aceitação e adesão aos
tratamentos.
Os cigarros já não são oferecidos na
cesta básica mensal e o número de fumantes decresceu, embora as equipes médicas
locais digam que continua difícil convencer fumantes a deixar o vício. Os
contraceptivos são gratuitos e fortemente encorajados. O aborto é legal, mas considerado
um fracasso do trabalho de prevenção.
Não se
deve romantizar o sistema de saúde cubano. O sistema não é desenhado para
escolha do consumidor ou iniciativas individuais. Não existe sistema de saúde
privado pago como alternativa. Os médicos recebem benefícios do governo como
moradia e alimentação, mas o salário é de apenas 20 dólares por mês. A educação
é gratuita e eles são respeitados, mas é improvável que obtenham riqueza
pessoal.
Cuba é um país em que 80% dos
cidadãos trabalham para o governo e o governo é quem gerencia orçamentos. Nas
clínicas de saúde comunitárias, placas informam aos pacientes quanto o sistema
custa ao Estado, mas não há forças de mercado para promover eficiência.
Os recursos são limitados, como
descobrimos ao ter contato com médicos e profissionais de saúde cubanos como
parte de um grupo de editores-visitantes dos Estados Unidos. Um nefrologista de
Cienfuegos, a 240 quilômetros de Havana, tem uma lista de 77 pacientes em
diálise na província, o que em termos de população dá 40% da taxa dos Estados
Unidos — similar ao que era nos Estados Unidos em 1985.
Um neurologista nos informou que seu
hospital só recebeu um CT scanner doze anos atrás. Estudantes norte-americanos de universidades médicas cubanas dizem
que o trabalho nas salas de cirurgia é rápido e eficiente, mas com pouca
tecnologia. Acesso à informação via internet é mínimo. Um estudante informou
que tem 30 minutos por semana de acesso discado.
Esta limitação, como muitas outras
dificuldades de recursos que afetam o progresso, é atribuída ao embargo
econômico dos Estados Unidos [imposto em 1960], mas podem existir outras forças
no governo central trabalhando contra a comunicação fácil e rápida entre
cubanos e os Estados Unidos.
Como resultado do estrito embargo econômico, Cuba
desenvolveu sua própria indústria farmacêutica e agora fabrica a maior parte
das drogas de sua farmacopeia básica, mas também alimenta uma indústria de
exportação. Recursos foram investidos no desenvolvimento de expertise em
biotecnologia, em busca de tornar Cuba competitiva no setor com os países
avançados.
Existem jornais médicos acadêmicos em todas as especialidades e
a liderança médica encoraja fortemente a pesquisa, a publicação e o
fortalecimento de relações com outros países latino-americanos. As
universidades médicas de Cuba, agora 22, continuam focadas em atendimento
primário, com medicina familiar exigida como primeira residência de todos os
formandos, embora Cuba já tenha hoje o dobro dos médicos per capita que os
Estados Unidos.
Muitos dos médicos cubanos trabalham
fora do país, como voluntários num programa de dois anos ou mais, pelo qual
recebem compensação especial. Em 2008, havia 37 mil profissionais de saúde cubanos trabalhando em 70 paises do mundo.
A maioria trabalha em áreas carentes, como parte da ajuda externa de Cuba, mas
alguns estão em áreas mais desenvolvidas e seu trabalho traz benefício
financeiro para o governo cubano
(por exemplo, subsídios de petróleo da
Venezuela).
Todo visitante pode ver que Cuba
continua distante de ser um país desenvolvido em infraestrutura básica, como
estradas, moradias e saneamento. Ainda assim, os cubanos começam a enfrentar os
mesmos problemas de saúde de países desenvolvidos, com taxas crescentes de
doenças coronárias, obesidade e uma população que envelhece (11,7% dos cubanos
tem 65 anos de idade ou mais).
O seu incomum sistema de saúde
enfrenta estes problemas com estratégias que evoluiram da peculiar história
política e econômica de Cuba, um sistema que — com médicos para todos, foco em
prevenção e atenção à saúde comunitária — pode informar progresso também para
outros países.