sab, 26/07/2014 - 12:11 -
Atualizado em 27/07/2014
do
tráfico de drogas
No caso do helicóptero
dos Perrellas, uma dúvida:
aeroportos irregulares serviram de parada para abastecimento? |
Jornal GGN - Quando a apreensão de
quase meia tonelada de pasta de cocaína transportada num helicóptero dos
Perrellas veio à tona, no final de 2013, autoridades estadunidenses pisaram em
solo brasileiro para ajudar na apuração da origem e destino da droga.
Investigações apontavam que a demanda teria sido negociada com mexicanos, mas
saído oficialmente do Paraguai, com forte suspeita de que a Europa era o norte.
Fato é que consta nos
depoimentos de Rogério Almeida, piloto preso em flagrante pela Polícia de
Espírito Santo com mais comparsas, que a aeronave do então deputado Gustavo
Perrella (Solidariedade) viajou de Avaré paulista até o Campo de Marte (A).
De lá, para Divinópolis(B),
e da cidade mineira para Afonso Cláudio, no Estado vizinho.
Na
época, a imprensa levantou dúvidas técnicas sobre o helicóptero.
Modelo
R-66, a aeronave só sai do chão suportando o peso máximo de 1.225 quilos. O
helicóptero consome 581 quilos desse limite. Com o tanque cheio, iriam mais 224
quilos. Sobrariam 420 para a carga restante, contando aí os passageiros.
Só de cocaína, a
polícia informou ter apreendido 445 quilos.
Com
os cálculos feitos levando-se em conta a distância percorrida pelo helicóptero
(entre os três pontos, pelo menos 1,17 mil quilômetros, em linha reta) e a
autonomia da nave, duas hipóteses foram levantadas: ou o piloto mentiu e a
droga foi carregada num local mais próximo da fazenda em Afonso Cláudio, onde
pousou o helicóptero, ou menos combustível foi colocado para equilibrar o peso
da nave.
Consequentemente, mais
paradas para abastecimento seriam necessárias.
Nesse
último caso, aeroportos não fiscalizados seriam perfeitos. O de Cláudio (C), construído durante a gestão de
Aécio Neves (PSDB) enquanto governador de Minas Gerais (2003-2010), até hoje
não foi homologado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). O órgão
federal garantiu que faltam documentos para concluir esse processo.
A obra é questionada pelo fato de beneficiar, teoricamente, um
município de 25 mil habitantes e pouca expressividade econômica. Além disso,
Divinópolis, por onde passou o helicóptero dos Perrellas, fica a poucos
quilômetros dali, e possui aeroporto bem equipado.
Aécio não comenta se já usou
a pista em Cláudio para facilitar o acesso à Fazenda da Mata, que pertence à
sua família há décadas, a seis quilômetros do aeroporto denunciado.
Há vídeos na internet comprovando que o espaço é utilizado para
shows de aeromodelismo. Familiares de Aécio disseram à Folha que pelo menos um
avião pousa por semana por ali. A Anac vai investigar.
Na versão de Aécio, o
aeroporto de Cláudio integra o Proaero, um programa que em sua raiz visava
intervenções em mais de 160 lugares. Seriam construídos aeroportos locais ou
regionais, ou melhoradas as condições das pistas existentes.
Denúncias sobre aeroportos
construídos ou pistas que receberam investimentos vultosos nos últimos anos
pipocam na mídia todos os dias desde que a Folha de S. Paulo revelou, em 20 de
julho, que o equipamento em Cláudio foi construído em um terreno que pertence
ao tio-avô de Aécio, Múcio Guimarães Tolentino.
É a família Tolentino que, segundo o jornal, cuida das chaves do
aeroporto enquanto o imbróglio envolvendo a desapropriação do terreno não se
resolve na Justiça.
Segundo a assessoria de
Aécio, a família Tolentino exige R$ 9 milhões pelo terreno. O Estado depositou
em juízo cerca de R$ 1 milhão. Nesta sexta-feira (25), o periódico informa que
Múcio Tolentino, ex-prefeito de Cláudio, é alvo de uma ação por improbidade
administrativa.
O tio-avô de Aécio construiu
uma pista de avião nas proximidades de sua fazenda, na década de 1980, com
ajuda do governo estadual. A Folha sugere que a desapropriação da área em
Cláudio pode garantir a Múcio o dinheiro necessário para pagar a multa desse
processo antigo.
Um
Tolentino acusado de relações com o tráfico
Múcio não é o único membro da
família de Aécio Neves que frequentou as páginas policiais nos últimos anos. O
comerciante Tancredo Aladim Rocha Tolentino, primo do candidato a presidente
pelo PSDB, foi denunciado em 2012 como membro de uma quadrilha que atuava
justamente na cidade de Cláudio vendendo habeas corpus por até R$ 180 mil a
traficantes de drogas.
Tancredo Tolentino intermediava o negócio diretamente com Hélcio
Valentim de Andrade Filho, então desembargador do Tribunal de Justiça do
Estado. Em meados de 2012, quando o caso ganhou parte da mídia, o magistrado
não assumiu os crimes. Tancredo Tolentino, por sua vez, reconheceu que “pediu
vários favores ao desembargador e ao ter sucesso lhe dava
certa quantia em dinheiro, como forma de agradecimento”.
Na
época, os jornais passaram a informação de
que Tancredo Tolentino era primo distante de Aécio.
Quando estourou o caso do helicóptero do filho de Zezé Perrella,
blogueiros estreitamente ligados a José Serra (PSDB) tornaram-se, de repente,
especialistas em helicópteros e passaram a divulgar a hipótese de que a carga
de cocaína tivesse sido embarcada em Divinópolis, nas imediações de Cláudio.
Na época, Serra ainda aspirava a indicação do PSDB para a
presidência.
Mais
fatos sem explicações
Aécio, enquanto candidato a
presidente, deixou a postura ofensiva contra o governo Dilma Rousseff (PT) para se defender dos escândalos que
surgem diariamente. Além do aeroporto de Cláudio, o tucano agora é incitado a
dar explicações sobre outro aeroporto construído sem critério técnico
inteligível, o de Montezuma.
A cidade tem menos habitantes que Cláudio - cerca de 8 mil - e
nenhuma expressão econômica que possa justificar o investimento de mais de 200
mil numa pista batida de terra local.
A não ser, como sugere reportagem de O Globo também
desta sexta-feira, a proximidade com a fazenda do ex-deputado Aécio Cunha, pai
de Aécio Neves.
Até agora não há nada que ligue Aécio às estripulias de seu
primo ou às aventuras do helicóptero dos Perrellas.
Mas a soma de circunstâncias certamente o levará, nos próximos
dias, a aprofundar as explicações sobre o aeroporto.