PUBLICADO EM 20 de agosto de 2014
PSB PERDE
A PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
HOJE
(19 de agosto de 2014)
(19 de agosto de 2014)
Momentos antes da candidatura de Marina Silva ser
oficializada, em evento anunciado para a tarde desta quarta-feira, mas que
prolongou-se noite adentro, o Partido Socialista Brasileiro enfrentava um
ambiente menos festivo do que se poderia imaginar.
Para além de toda dor provocada pela morte de Eduardo Campos,
um líder que soube se impor pela força de mando mas também pela capacidade de
oferecer respostas políticas que agradaram a maioria do partido, ficou uma
questão grande demais para ser ignorada, mas grave demais para ser discutida
abertamente.
A candidata não é do PSB, não pensa como o PSB, não tem
amigos no PSB nem irá governar, em caso de vitória, com o PSB. Marina é Rede e
começou a exercer os direitos de toda candidata, ainda mais a presidente. Instalou
homens de confiança no comando da campanha, a começar por Walter Feldman, um
deputado de longa carreira em São Paulo, que se diz cansado pela vida
parlamentar, que será seu nome da coordenação.
Perdemos a eleição hoje, disse um auxiliar dos socialistas,
subindo as escadas da sede nacional do PSB, em Brasília — que fica numa
sobreloja da Asa Norte, num conjunto de salas que, pelo caráter austero, lembra
uma escola de computação. “O que é combinado não é caro,” afirmou o governador
do Espírito Santo, Renato Casa Grande, ao chegar, depois de participar, no Lago
Sul, de uma reunião de dirigentes do partido com a própria Marina.
Nem todos os detalhes do acordo entre Marina e o PSB são
conhecidos e é provável que muitos deles jamais se tornem públicos. O certo é
que, ao longo do dia, os dirigentes do PSB se encarregaram de amassar e colocar
na lata do lixo uma ideia exótica que havia circulado na véspera — a de obrigar
a candidata a assinar uma carta com compromissos com o partido sob condição de
garantir sua candidatura.
Marina Silva não se tornou candidata presidencial porque o PSB queria mas porque não possuía outra opção.
Marina Silva não se tornou candidata presidencial porque o PSB queria mas porque não possuía outra opção.
Ainda que a candidatura de Eduardo Campos desse a impressão
de ter chegado a seu teto sem mostrar-se competitiva — pelo menos antes do
início do horário político — seu circulo próximo nunca deixou de acreditar em
suas próprias chances de ganhar a presidência da República.
A tese é conhecida: Eduardo seria capaz de bater Aécio no
primeiro turno em função do desgaste tucano e, na segunda fase, carregar os
votos do PSDB para vencer Dilma. Embora vista com relativa incredulidade fora
do PSB, em suas fileiras essa visão era alimentada e repetida cotidianamente,
numa narrativa que o jornalista Alon Fewerwerker, coordenador da campanha,
conseguia defender com lucidez e argumentos racionais.
Se era assim com um candidato que nos bons momentos das
pesquisas mal chegava perto dos dois dígitos de intenção de voto, não é difícil
pensar que Marina possa conseguir a mesma coisa. Ela não só obteve o dobro em
2010 como deixou as pesquisas — quando oficialmente também deixou de ser
candidata — com 27& das preferências.
A Marina de 2014 não é a mesma de 2010.
É aquela que pode ser vitaminada pelos protestos de 2013, que
enxerga em sua candidatura um caráter anti-sistema e anti-políticos — e até
agora não deu mostras de fazer qualquer objeção a presença de um núcleo de auxiliares
ultra-conservadores que têm dado as cartas nos debates econômicos, aquela área
de qualquer governo que envolve salários, emprego, programas sociais e outras
decisões que afetam para melhor ou para pior a vida da população mais pobre.
O PSB tentou resistir a Marina e fez isso enquanto era
possível imaginar que se tratava de uma perspectiva realista. Durou pouco. No
ano passado, o senador Rodrigo Rollemberg, candidato ao governo do Distrito
Federal, foi quem levou a Eduardo Campos o recado de que, após a reprovação da
Rede no TSE, Marina Silva mandava dizer que queria preencher a ficha do partido
— e ouviu, como primeira reação, uma pergunta que ficaria célebre: “você já
bebeu?”
Em 2014, candidato junto a um eleitorado fiel a Marina,
qualquer que seja seu partido, Rollemberg foi um dos raros partidários de sua
candidatura presidencial no primeiro momento. Outros dirigentes, com peso e
liderança, vieram depois. Eles temiam ser prejudicados pelo boicote de Marina a
suas alianças, como o acordo com Geraldo Alkcmin em São Paulo.
A rendição a nova candidatura se fez em nome da mais preciosa
e fugaz mercadoria da vida política. Não é o poder, como muitos pensam. Mas a
perspectiva de poder, como já entenderam os profissionais do ramo. Se o poder
impõe limites e restrições, pois é preciso fazer escolhas, definir prioridades
e dizer “não”, por mais que isso seja desagradável, a perspectiva do poder
contém uma aura de sonho, de alcance infinito.
Foi por causa dela que os socialistas não puderam recusar o
apoio a Marina e deram aquele passo em que mesmo uma eventual vitória também
irá significar uma estranha derrota, com a qual não contavam — pelo menos
agora.