Marina - longe de ser uma ecológica purista - não tem base fiel ou própria. Só aproveitadores de plantão que se juntam a este nominalismo-eco |
29
DE AGOSTO DE 2014
MARINA SILVA
O
DESASTRE ANUNCIADO?
* Jean Menezes de Aguiar
Em uma sociedade mega,
como a brasileira, com milhões de eleitores, qualquer categoria assume números
imensos. Assim, bons votantes, maus votantes, votantes 'enganados', votantes
'arrependidos' e outros.
Fernando Collor passou por três fases na psique dos eleitores.
Deveria servir como exemplo para muitos.
Primeiro, euforia e ilusão na versão patética 'caçador de
marajás'. Eram eleitores crédulos de que a honestidade no poder fosse uma
opção. Depois a vergonha com o impeachment. Por fim o gosto amargo na boca com
todo mundo negando que tivesse votado.
Marina guarda grandes semelhanças em certos pontos.
Primeiro, é órfã estrutural de um partido político a lhe dar
sustentação ideológica e atemporal. Já na semana após a morte de Eduardo Campos
brigou com o Psb.
Segundo, sem qualquer base parlamentar a lhe sustentar um
mandato minimamente estável. Sua carreira solo a torna uma bomba relógio em
termos de negociações necessárias à presidência. Será que isolada e alegando
'traição' chamaria as Forças Armadas a lhe ajudar?
Por fim, a personalidade autoritária somada à não contenção
psicológica estrutural de um grande partido a lhe auxiliar. Ou lhe conter. Uma
hipótese era Marina vice; outra muito diferente é Marina presidente. E nem se
precisa considerar o fundamentalismo religioso a que é adepta, importante para
se conhecer um traço nitidamente conservador (Marilena Chaui, Cultura e
democracia, p. 83).
Marina virou 'cult' para modernosos e descolados que recitam
mantras de salvação do planeta. Também passou a ser opção de uma classe
economicamente dominante com antropológicas dificuldades de pensar, que
elaborou ser Marina o voto filosofal. Mais ou menos a revoltinha burguesa que
representou Collor naqueles idos do desastre.
Um aspecto importante para muitos da elite é que Marina possa
representar um tipo de redenção. Desgostosos com seus pares históricos da
classe dominante e ao mesmo tempo crédulos de que o Pt possa ter se exaurido,
apostam num novo modelo de poder: a mulher, negra, do Norte. Aí, três ícones de
moda.
Uma das proposições para a condição de 'poder' é que ele vem de
baixo, não existindo oposição binária e global entre dominadores e dominados
(Iná Elias de Castro, Geografia e política, p. 98, citando Foucault). Uma
parcela considerável dessa elite insiste em 'crer'; idealizar a
Marina-salvação. O velho arquétipo do personalismo redentor. Novamente,
idêntico ao que se deu com Collor.
O 'vir de baixo' aí quer dizer um amplo espectro de legitimação
para governar. Nunca o isolacionismo como remédio e salvação. Marina – longe de
ser uma ecológica purista - não tem base fiel ou própria. Só aproveitadores de
plantão que se juntam a este nominalismo-eco.
Até a 'sustentabilidade', subgênero do poder, Marina já se
desincumbiu de descolar de si, após a morte de Eduardo Campos. No último debate
praticamente não entrou no tema. Migrou para as grandes fisionomias do poder,
buscando se equiparar a Dilma.
Marina não tem culpa em ter perdido Campos. Mas se enganam os que
pensam que ela possa ter 'subido' para o palanque de presidenciável. Esta é a
grande peça do destino. O fato de ela ter uma boa 'oratória' em público
impressiona aquela parcela que depois costuma se 'arrepender'. Mas um novo
desastre agora pode ser um retrocesso cavalar.
Advogado
e professor da pós-graduação da FGV