Tese do voto inútil para o Brasil ganha campo;
debate sobre planos de governo passam a não interessar mais; o que importa é
adiantar no 1º turno das eleições uma frente em torno de Marina Silva contra o
PT; "Passarei a torcer contra ela um dia depois da posse", ensina
colunista Diogo Mainardi; de Veneza, onde mora, ele sinaliza apoio "até a
posse"; depois, jogará na desestabilização; ex-presidente Fernando
Henrique aponta que fundamental é "não melindrar" a candidata do PSB;
ele trabalha para tornar o PSDB linha auxiliar no eventual governo dela;
movimento visa abater, na 2ª volta, presidente Dilma Rousseff, mas primeira
vítima é o tucano Aécio Neves; para quem teve no avô Tancredo um mentor que
dizia que a lealdade é a primeira regra da política, mineiro tem agora outra
lição,
a da traição
247 – Uma doutrina política que prega o ódio ao PT, incentiva a
instabilidade política e rebaixa o nível do debate de propostas entre os
candidatos a presidente da República ganha campo nesta etapa da eleição.
Batizada de
Mainardi-FHC, tem no ex-colunista da revista Veja Diogo Mainardi e no
ex-presidente Fernando Henrique seus principais garotos-propaganda.
Complementares nos conceitos, eles representam os extremos que balizam o arco
de ideias da corrente em formação.
Trata-se, na prática,
de adiantar o caráter plebiscitário de um eventual segundo turno já para esta
primeira rodada da eleição. Na esteira do crescimento da candidata Marina
Silva, do PSB, a nova corrente defende o voto nela de imediato, sacrificando o
senador Aécio Neves, do PSDB.
O que menos importa,
nesta orientação, é o debate de planos de governo dos candidatos ou a discussão
sobre falhas e realizações do governo que tem a presidente Dilma Rousseff como
candidata à reeleição.
Na baliza direita da
doutrina cuja execução está em pleno curso, cercada pelas condições favoráveis
de alta de Marina nas pesquisas, queda de Aécio e estabilidade de Dilma a
referência é Mainardi. Espécie de exilado da revista Veja em Veneza, na Itália,
ele perdeu a coluna que tinha na publicação do grupo Abril mas foi abrigado com
conforto pelo grupo Globo.
Com intervenções no
programa Manhatan Conection, ele vai procurando nortear os que, como ele,
perderam influência nos últimos anos. E anda irritado.
DECLARAÇÃO DE VOTO - Para Mainardi, a missão de derrotar o PT do ex-presidente
Lula, seu desafeto pessoal, depois de 12 anos sem acesso às fontes do poder,
admite o voto em uma candidatura com a qual não se tem nenhuma concordância – à
exceção do espaço que essa chapa abre para a prática do ódio ao PT.
É o que explica a
declaração de voto de Mainardi em Marina:
- Não espero
rigorosamente nada de seu governo e passarei a torcer contra ela um dia depois
da posse, registrou ele no texto intitulado 'Sou Marina (até a posse)'.
O fundamental, fica claro, não é debater planos de governo,
nem mesmo entre os que vão sendo apresentados por Marina e o tucano Aécio
Neves, com quem o pregador se identificava até a ex-ministra entrar para a
corrida presidencial na frente dele nas pesquisas. O fundamental é vencer,
mesmo que "um dia depois da posse" a palavra de ordem já seja outra:
fazer oposição à Marina.
Os riscos de instabilidade política embutidos na bandeira
"Marina até a posse" nem sequer são considerados pelo, digamos,
analista. O que ele diz da Itália, com todas as letras, é que considera como
ideal para as eleições brasileiras de 2014 a vitória de uma candidata à qual se
começará a desconstruir assim que chegar ao poder.
Antes de Mainardi, o
ex-presidente Fernando Henrique foi o primeiro a nortear o público anti-PT de
que Marina é, neste momento, a grande alternativa da oposição para recuperar,
mesmo que não totalmente, ao menos alguns nacos do poder perdido. "Não
quero que ela fique melindrada comigo", defendeu-se FHC, quando disse que
considerava, ao menos, que Aécio tinha mais experiência administrativa do que
ela. Àquela altura, porém, o ex-presidente já havia discorrido longamente sobre
a importância, para o PSDB, de não fazer oposição frontal à ex-ministra.
DURA LIÇÃO - Foi o próprio Fernando Henrique que lançou Aécio para presidente, no final
de 2012. Agora, o ex-presidente também sai na frente na marcha de esvaziamento
da candidatura. O senador mineiro parece ter-se surpreendido com a rapidez de
ação de FHC.
Antes mesmo que as
pesquisas o colocassem, como agora, atrás de Marina, Aécio já sofria com a
habilidade dele. Agora, parece estar confuso entre defender sua campanha,
enfrentar Marina e tentar seu lugar no segundo turno, ou arriar a bandeira e
aderir à candidata do PSB, como insinua Fernando Henrique.
Para quem teve no avô
Tancredo Neves um político que dizia que a lealdade é a regra número 1 da
política, Aécio deve ter levado um susto e tanto com o FHC que surgiu depois da
morte do ex-governador Eduardo Campos.
A orientação de
Fernando Henrique vai sendo seguida por setores cada vez mais expressivos entre
os tucanos. Depois que ele blindou Marina, a quem, repita-se, não quer
"melindrar", até o presidenciável tucano ficou confuso sobre qual
caminho seguir para voltar a ser ele, e não ela a alternativa oposicionista de
ida ao segundo turno.
Aécio ainda não
definiu se vai partir para o ataque a Marina ou se vai abrir passagem,
candidamente, para a passagem dela. Enquanto ele pensa, as pesquisas já o vão
levando para uma posição de distante terceiro lugar, numa perda de consistência
que seu partido não tem se esforçado para conter.
|