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Pouca gente parece
ter notado, mas Dilma achou uma boa saída para a questão da corrupção.
Ela saiu da
defensiva para a ofensiva.
A linha básica de
sua argumentação sobre o assunto é que a corrupção não era investigada antes e
agora é.
Daí a diferença.
É, de certa forma,
um raciocínio educativo. O brasileiro médio se acostumou erradamente a pensar
que corrupção só existe no Brasil. Mais especificamente: só em governos
populares, de Getúlio a Jango, de Lula a Dilma.
A explicação de
Dilma é parcial. Ela fala no ímpeto investigativo da Polícia Federal, do Ministério
Público e da Procuradoria Geral. Lembra que, na era FHC, o procurador geral,
Geraldo Brindeiro, era conhecido como engavetador geral, por evitar mexer em
casos de corrupção no governo.
Segundo a
Wikipédia, dos 626 inquéritos criminais que recebeu, Brindeiro engavetou 242 e
arquivou outros 217.
O que Dilma não
disse, provavelmente para evitar atrito com a mídia, é que jornais e revistas,
em administrações amigas, também foram engavetadores de denúncias e escândalos.
No caso mais
gritante na gestão de FHC, a compra de votos para que a emenda da reeleição
passasse no Congresso simplesmente foi ignorada.
Procure no arquivo
da combativa Veja as reportagens sobre a compra de votos para FHC.
Nada.
Tente agora o
arquivo do Jornal Nacional.
Nada.
Mesmo a Folha, que
trouxe o depoimento de um deputado que vendeu seu voto, teatralmente chamado de
Senhor X, logo abandonou o caso.
Não retomou nem
para informar a seus leitores quem era X. Só dezesseis anos depois, por conta
de um livro sobre o episódio, seus leitores souberam que se tratava do
ex-deputado Narciso Mendes, do Acre.
Num exemplo
dramático, o Brasil da ditadura era, no noticiário da Globo, um país sem
corrupção e sem corruptos no poder.
Escândalos eram
engavetados. Roberto Marinho agia como Geraldo Brindeiro, bem como os demais
barões da imprensa.
Isso levou muitos
brasileiros a acharem que nos tempos dos generais éramos um país melhor, mais
limpo e mais ético.
A seletividade da
mídia na escolha das denúncias a cobrir foi responsável também pelo sentimento
de impunidade de políticos amigos dos donos das grandes empresas de jornalismo.
E pelo descaro
deles, também.
O caso mais
recente é o de Aécio, que usa a corrupção demagogicamente como arma para
influenciar eleitores menos politizados e mais suscetíveis de manipulações
pseudomoralistas.
Coube a Luciana
Genro desmascarar esse tipo de hipocrisia numa intervenção antológica no debate
promovido pela CNBB.
Luciana Genro
“mitou” naquele momento, para usar uma expressão corrente hoje.
Corrupção é uma
praga mundial, e deve ser combatida todos os dias, e todas as horas.
Mas usá-la
capciosamente para atingir adversários ou favorecer amigos é, também, um ato
extremamente corrupto.
Dilma e Luciana
Genro, cada qual do seu jeito, puseram contexto na questão da corrupção.
É um avanço na
caminhada rumo a uma sociedade madura.
Sobre o Autor
O
jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial
do site
de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.