publicado 02/09/2014
Política
Análise
/ Marcos Coimbra
Modelo
anacrônico
As pesquisas dominadas por poucos, os debates engessados e o programa gratuito mal formatado são um desserviço à
democracia
Confinados no fim da noite e engessados por regras esdrúxulas,
os debates entre candidatos na tevê têm
qualidade baixa.
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Agora que estamos em clima de disputa
eleitoral efetiva, o atraso institucional brasileiro em termos de comunicação
política fica evidente. Enquanto caminhávamos para a repetição do confronto
entre o PT e o PSDB, o problema era menos premente.
A
eleição transcorria sem despertar emoções na vasta maioria do eleitorado. Salvo
os radicais dos dois lados, eram poucos os apaixonados.
Depois de o acaso (ou a “Providência Divina”, como gosta de
dizer Marina Silva) tirar a vida de Eduardo Campos, o ambiente esquentou.
Quem
acompanha o movimento nas redes sociais constata um crescimento de quase 400%
nas menções aos candidatos: Dilma Rousseff saltou de 75 mil postagens ao dia,
em média, para 250 mil. Eduardo Campos/Marina, de 7 mil para 150 mil. Aécio
Neves de 35 mil para 60 mil.
Desde
o acidente, o interesse do eleitorado aumentou. A curiosidade dos eleitores a
respeito dos resultados das pesquisas ficou maior. Há mais disposição de
assistir aos debates na televisão. Apesar de ainda ser cedo para afirmar, há
sinais de que neste ano a audiência dos programas no horário gratuito será
elevada.
Isso
torna óbvio o nosso atraso. No caso das pesquisas, por que não copiar as
democracias maduras? Por que insistir em um padrão de debates televisados
antigo e superado? Por que preservar uma velha legislação sobre a propaganda
eleitoral na televisão e no rádio?
Nos
países adiantados, o acesso às boas pesquisas eleitorais deixou há muito de ser, como aqui, privilégio
de poucos. Lá, os interessados não são mantidos na ignorância, limitados a
tentar adivinhar como estariam as intenções de voto a cada dia. Os repórteres
não dão “furos” com os “vazamentos” de “pesquisas internas”.
Não
há lugar para as especulações dos espertos nas bolsas de valores, em razão do
próximo levantamento.
No
Brasil, o cidadão conhece fundamentalmente aquilo que um único
grande contratador quer que ele saiba. É a Rede Globo, que diz como e quando (e
por meio de que instituto) os eleitores serão informados a respeito das
intenções de voto em âmbito nacional. Fora O
Globo, jornal do grupo, seus outros “parceiros” na imprensa diária (Folha
de S.Paulo e O Estado de S. Paulo) só
sobrevivem neste mercado porque ela consente (mesmo se defendem,
provincianamente, como no caso da Folha,
institutos próprios).
Além
do problema inerente a toda situação de monopólio, há outro, decorrente do modo
como atua a Rede Globo, de insistir em submeter as eleições ao modelo de
espetacularização que é sua marca registrada. Como faz com tudo, inventa a
“pesquisa espetacular”, anunciada e divulgada, com seu costumeiro estardalhaço,
como se fosse a verdade revelada.
Já
passa da hora de termos mais pesquisas disponíveis para todos, feitas por
diferentes entidades, de institutos privados a centros acadêmicos. E de
acontecer no Brasil o que é trivial no resto do mundo: pesquisas atualizadas e
divulgadas diariamente, que permitem a qualquer interessado conhecer o que os
poderosos sabem.
Com
elas, acaba a “pesquisa espetacular”, desaparecem as especulações e se
democratiza a informação.
É também muito ruim o
atual padrão de debates entre candidatos na tevê. Confinados ao fim da noite,
engessados por regras esdrúxulas, congestionados por candidaturas
inexpressivas, são repetidos em cada emissora, pois todas exigem o “seu”. São
tantos que nenhum se torna relevante. Até a antevéspera da eleição, quando a
Rede Globo faz seu “debate espetacular” (antecedido pela pantomima das
“entrevistas espetaculares” com os candidatos).
Nada
mais deseducativo que encorajar a decisão tardia, sugerindo ao eleitor retardar
a escolha para o último dia. E nada mais autoritário do que constranger os
candidatos a comparecer ao “debate da Globo”, sob pena de retaliações no jornalismo
da rede na reta final da eleição.
E
o horário eleitoral?
Alguém
considera uma boa a fórmula de os candidatos a presidente se apresentarem
colados aos aspirantes a deputado? Isso aumenta ou diminui a audiência dos
programas? A exposição de centenas de nomes, que eram e continuam a ser
praticamente desconhecidos, amontoados em alguns segundos de visibilidade,
facilita ou dificulta a opção pelas candidaturas que deveriam de fato estar na
televisão?
Uma eleição como deverá ser a de outubro mereceria
condições de comunicação menos despropositadas.
Que seja a última tão anacrônica.