domingo, 19 de outubro de 2014

A DESCONSTRUÇÃO DO ESTADO BRASILEIRO ANTES DE LULA E DILMA...


FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
 em ARAXÁ/MG.
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postado em: 17/10/2014
Cultura
A sinistra história
das privatizações no Brasil
Léa Maria Aarão Reis

O fascinante novo filme de um dos mais respeitados documentaristas brasileiros, Silvio Tendler – Privatizações: a distopia do capital – relembra e esclarece, em uma aula cinematográfica de 59 minutos de grande impacto, como se deu o processo do crescente desmonte do estado brasileiro pelas mãos dos governos neoliberais dos dois fernandos do passado, começando em Collor e atingindo o seu ápice com FHC.

Sob o patrocínio do ideário do saudoso geógrafo Milton Santos, Tendler, diretor e roteirista do filme, avisa no prólogo que vai tratar não apenas do processo de privatizações do qual o Brasil e sua população foram vítimas, mas também “das artimanhas do capital internacional em aliança com os capitais nacionais contra a nossa economia.”

Nada mais oportuno. Assistir, divulgar e exibir este doc seguido de debate político, em especial nesses próximos dez dias, nas escolas de nível médio e salas de aula do ensino superior, cineclubes, no circuito cultural, nas lajes e nas diversas atuais novas plataformas disponíveis de cinema. Um dos objetivos: desconstruir o mantra decorado pelo candidato da direita Aécio Cunha à presidência da república, que promete, nas linhas e entrelinhas de seu programa de governo, encenar o derradeiro ato do triste teatro do desmonte do estado brasileiro. Isto se por acaso fosse eleito.

VEJA AQUI O "TRAILER", DENOMINADO TAMBÉM "TEASER" DO FANTÁSTICO DOCUMENTÁRIO 
SOBRE AS INDEVIDAS PRIVATIZAÇÕES DE EMPRESAS E INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS...

Publicado em 09/10/2014

Privatizações: a Distopia do Capital (2014)

O novo filme de Silvio Tendler ilumina e esclarece a lógica da política em tempos marcados pelo crescente desmonte do Estado brasileiro. A visão do Estado mínimo; a venda de ativos públicos ao setor privado; o ônus decorrente das políticas de desestatização traduzidos em fatos e imagens que emocionam e se constituem em uma verdadeira aula sobre a história recente do Brasil. Assim é Privatizações: a Distopia do Capital. Realização do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) e da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), com o apoio da CUT Nacional, o filme traz a assinatura da produtora Caliban e a força da filmografia de um dos mais respeitados nomes do cinema brasileiro.

Em 56 minutos de projeção, intelectuais, políticos, técnicos e educadores traçam, desde a era Vargas, o percurso de sentimentos e momentos dramáticos da vida nacional. A perspectiva da produtora e dos realizadores é promover o debate em todas as regiões do país como forma de avançar “na construção da consciência política e denunciar as verdades que se escondem por trás dos discursos hegemônicos”, afirma Silvio Tendler.

Vale registrar, ainda, o fato dos patrocinadores deste trabalho, fruto de ampla pesquisa, serem as entidades de classe dos engenheiros. Movido pelo permanente combate à perda da soberania em espaços estratégicos da economia, o movimento sindical tem a clareza de que “o processo de privatizações da década de 90 é a negação das premissas do projeto de desenvolvimento que sempre defendemos”.

DOCUMENTÁRIO COMPLETO, aqui:>>> http://www.youtube.com/watch?v=A8As8mFaRGU

O mesmo candidato que, sempre leve como se estivesse nas areias da praia do Leblon, e com a ligeireza que lhe é peculiar, se refere em vazios pronunciamentos às severas críticas dessa história sinistra das privatizações no país - ativos públicos vendidos ou ofertados quase de presente ao setor privado - como sendo a “demonização” das esquerdas a esse processo criminoso.

Privatizações: a distopia do capital mostra o ônus que pagamos hoje decorrente das políticas de desestatização. Oferece uma aula dinâmica, com ritmo notável, sobre a história recente do Brasil através das entrevistas de intelectuais, políticos, economistas, técnicos e educadores de prestígio: Carlos Lessa, Márcio Pochmann, Samuel Pinheiro Guimarães, João Pedro Stédile, Guilherme Estrella, Ermínia Maricato, Luiz Pinguelli, Carlos Vainer, Paulo Vivacqua, Marcos Dantas, Maria Inês Dolci, Ladislau Dowbor, Vagner Freitas, Eduardo Fagman, Henri Acserald, Souza Bravo, Gaudêncio Frigotto e Pablo Gentili. Eles traçam, partindo da era Vargas, o percurso dos sentimentos e momentos dramáticos da vida nacional relacionados às privatizações. 

A realização do filme é do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge/RJ) e da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) com o apoio da CUT Nacional; a produção é da Caliban. Resultado de ampla pesquisa de entidades de classe, os engenheiros, na apresentação do trabalho, declaram: “O filme é movido pelo permanente combate à perda da soberania em espaços estratégicos da economia. O movimento sindical tem a clareza de que o processo de privatizações da década de 90 é a negação das premissas do projeto de desenvolvimento que sempre defendemos”.

Eduardo Fagnani (Unicamp) resume o processo que violou o Brasil nos anos 90: “Deu-se a vingança da Economia sobre a Política que passou a refletir o interesse do capital.” Os economistas que na ocasião resistiam às diretrizes econômicas eram chamados, no governo de FHC, de dinossauros, lembra o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. “E a mídia teve responsabilidade nesse processo, pelos seus vínculos com os grandes interesses multinacionais hoje aqui instalados.”

Já Stédile vai direto ao ponto e fulmina: ”O povo brasileiro perdeu o controle sobre suas principais riquezas. Quando se tentou mudar o nome da Petrobrás para Petrobrax o argumento era o de que os gringos podiam pronunciar mais facilmente o X. Por aí se vê o nível da mediocridade da nossa burguesia subalterna da qual o Fernando Henrique Cardoso é o principal porta-voz e representante.”

Pinguelli Rosa (Coppe/UFRJ) relembra o desmonte do setor energético, o “verão do apagão”, a privatização da Light e a subsequente piora dos serviços. Carlos Vainer (UFRJ) na sua entrevista afirma: ”Com a onda do neoliberalismo dos anos 90 não se tratou de reduzir o estado, mas sim de redefini-lo como militante, ativista, que não era o estado mínimo, mas era submetido ao mercado. Com a ideia do vende-se difundida através de feroz propaganda, o Brasil foi comprometido e incluído na onda que tomou conta de toda América Latina.”

Na época, a mídia e em particular a TV procuravam fazer a cabeça da população com spots publicitários em que o tema eram as vantagens da desestatização ilustrada pelo símbolo do elefante (o estado), um ser pesado, paquidérmico, lento, de difícil locomoção, ineficiente. “O Brasil não pode ficar para trás!”, dizia o slogan enganador da época.

Neste processo de desconstrução, diz Pochmann, “o estado era o problema do país. Cem bilhões de dólares foram transferidos do setor público para o setor privado. Uma desconstrução só comparável, na história do mundo, ao processo da Rússia quando da extinção da URSS. Aqui, houve a redução de meio milhão de postos de trabalho.” 

Foram privatizadas grandes mineradoras, a siderurgia, a malha ferroviária, o espaço eletromagnético brasileiro, as teles (comunicações), também a saúde. A reforma sanitária, em andamento, foi catapultada para o espaço e abandonada, e em dois anos foram fechados, pasmo!, onze mil leitos públicos. Em contrapartida, oito mil leitos privados foram criados!

Na área da educação, anota o professor Gaudêncio Frigotto (UERJ), os institutos privados procedem até hoje a uma “lavagem cerebral ditando métodos de ensino e a educação do ensino básico.” "Parâmetros do conhecimento, no Brasil, são ditados por funcionários do Banco Mundial", ressalta o professor Pablo Gentili (UERJ). “As instituições públicas”, diz Carlos Lessa, “foram desmanteladas”. E as agências reguladoras criadas, diz Maria Inês Dolci (Proteste), seguindo o modelo norte-americano, não são independentes e foram “capturadas pelos interesses do neocapitalismo do qual são instrumentos.”

“O automóvel brasileiro é uma carroça” foi a senha cunhada por Collor para anunciar o neoliberalismo no país e “desqualificar a glória da nossa industrialização,” lembra Carlos Lessa. Já Fernando Henrique Cardoso faz outro discurso “muito mais sofisticado”: o Brasil tem que se inserir nas tendências atuais do mundo. Tem que exportar porque exportar é a solução. 

“O mercado tinha a solução para tudo”, lembra Pinheiro Guimarães. “Foram reduzidos meio milhão de postos de trabalho e a estratégia era a do estado como grande adversário da eficiência econômica. Ele tinha que ser reduzido, portanto, ao mínimo.”

“Quando fui trabalhar em Brasília, fiquei abismada ao ver a ocupação da máquina do estado pelos rapazes de cabelo cortado à escovinha, cooper de manhã, cabeça inteiramente feita pela escola de Chicago e desconhecendo o que era a sociedade brasileira,” comenta a ainda hoje abismada professora Ermínia Maricato (USP), que observa no filme:

“O transporte público no Brasil não é público. É privado. Nem a Thatcher, na Inglaterra, conseguiu privatizar o metrô de Londres. Nós fomos além dela”.

A propósito do meio-ambiente, Henri Acserald (UFRJ) fala sobre as tecnologias sujas das periferias e o pior: no novo ciclo de expansão do capital, no Brasil, os bens da terra foram expropriados. Perdemos a soberania da terra, a biodiversidade, a água, o ar. E não é verdade, conclui-se, que não seja possível reverter privatizações selvagens. A Islândia, a Argentina e a Bolívia reverteram, e quando os bancos públicos europeus foram destruídos a Irlanda reestatizou.

Algumas das idéias gerais dos entrevistados de Silvio Tendler: não se quer um projeto de desenvolvimento dependente e irresponsável que vai gerar mais fome e pobreza para o povo e riqueza para poucos. Para que tal não aconteça a pressão popular é necessária para resguardar os interesses da população.
Há que haver um desenho, um programa de nação.

Este é o momento para que o Brasil não renuncie ao seu projeto de ser, como diz Lessa. E para que não se repita essa história de assalto à nação, completa a professora Maricato.