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10 DE NOVEMBRO DE 2014
PSDB
SE FAZ DE FRACO
PARA
CHAMAR PT
DE
BOLIVARIANO
Tucanos reclamam de
falta de poder, mas nos bastidores conseguem impor em alta velocidade CPIs
contra o governo e imprimir ritmo de tartaruga a investigações contra o próprio
partido; casos das apurações sobre a Petrobras, que andam, e do chamado
mensalão mineiro, que ainda não saíra do lugar; influência do partido na mídia
tradicional é presente e histórica; real problema da agremiação, escreve
diretor de redação do 247 em Brasília, Paulo Moreira Leite, é de falta de votos
para eleger um presidente da República; nas outras instâncias, partido nada de
braçadas; acusação sobre bolivarianismo do PT é cortina de fumaça para encobrir
falta de liga com a população.
PAULO MOREIRA LEITE
Política, opinião e cultura em parceria com Brasil 247
PSDB E O MITO DA OPOSIÇÃO
FRAQUINHA
|
A
falsa tese da oposição fraca ajuda alimentar outra tese,
ainda
mais falsa, do governo bolivariano
A mitologia de que o
PSDB é um partido frágil, incapaz de enfrentar os governos do PT, acompanha a
política brasileira desde 2006, quando Lula conseguiu aquilo que os
analistas conservadores julgavam impossível: reelegeu-se por folgada margem de
votos um ano e meio depois de Roberto Jefferson fazer as denúncias da AP
470.
Depois de prever um fracasso histórico por várias
gerações assim que o país tivesse “experimentado o PT” em 2002, a oposição
apostou em três CPIs e na moralidade seletiva dos meios de comunicação para
arrancar Lula do Planalto. Em sua imensa dificuldade para reconhecer que o novo
governo fora capaz de criar raízes profundas junto a maioria da população,
a partir de uma política inédita de distribuição de renda, criou-se
a teoria de que Lula não havia vencido a reeleição em 2006 — a oposição é que
fora derrotada por suas próprias fraquezas e pela incapacidade de explorar as
falhas do adversário. Também nasceu a teoria de que a população pobre, eleitora
de Lula, é mais tolerante com a corrupção dos que os ricos, os bem nascidos e
os bem estudados.
A teoria de que Lula fazia um governo sem méritos
reais, mas era uma espécie de beneficiário da incompetência alheia, reapareceu
em março de 2010 quando ficou claro que Dilma Rousseff, uma ilustre
desconhecida fora dos gabinetes do Planalto, ameaçava emplacar uma terceira
vitória consecutiva para o PT. A suposta fragilidade tucana serviu como
justificava para uma postura abertamente partidária dos meios de comunicação, como
admitiu Judith Brito, presidente da Associação Nacional de Jornais e
superintendente da Folha de S. Paulo:
– A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser
limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da
responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses
meios de comunicação estão fazendo de fato a posição oposicionista deste país,
já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de
oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo
[Lula].
A oposição, liderada pelo PSDB, tem, certamente, uma
fraqueza do ponto de vista democrático: há 12 anos não consegue reunir votos em
número suficiente para ganhar as eleições. Com a reeleição de Dilma, em 2018
terá completado um jejum de 16 anos longe do poder. É um recorde num país onde
o próprio Lula perseguiu a presidência incansavelmente entre 1989 e 2002,
conseguindo a vitória após 12 anos de jejum. As derrotas consecutivas de
Lula naquele período eram acompanhadas por piadinhas e comentários grosseiros.
Falava-se em sua “teimosia”. Também se perguntava por quantas vezes ainda iria “insistir”
em disputar a presidência. Lula acumulou forças, em três campanhas, para
conquistar o voto da maioria dos brasileiros, sem dar chance a ninguém, em
2002.
Esta foi e continua sendo sua força.
Mesmo derrotada quatro vezes consecutivas, a oposição
conserva instrumentos permanentes de poder, que não foram nem serão partilhados
voluntariamente com seus sucessores. O PSDB sempre buscou o acesso ao poder,
mesmo quando não tinha votos para isso. Em 2005, Fernando Henrique Cardoso
disse em entrevista a Exame que Lula poderia permanecer no Planalto —
desde que desistisse da reeleição. Em 2007, o PSDB teve receio que Lula
preparasse uma emenda constitucional que lhe permitiria disputar o terceiro
mandato — e orquestrou uma campanha preventiva para impedir que, copiando o
gesto de FHC em 1997, Lula tentasse aprovar uma emenda para disputar um
terceiro mandato no Planalto, que lhe permitiria ficar na presidência por um
período inferior ao de François Mitterrand no Eliseu e Margaret Thatcher
em Downing Street.
O acesso preferencial às estruturas repressivas do Estado
— Polícia Federal, Ministério Público, Judiciário — permite a oposição um
tratamento peculiar. Impede, por exemplo, que os dissabores que amargaram
os petistas na AP 470 possam repetir-se no mensalão PSDB-MG. Mais antigo do que
o esquema em que se envolveram os petistas, o PSDB-MG sequer foi julgado em
primeira instância e ainda se encontra na fase de ouvir testemunhas numa Vara
Criminal em Belo Horizonte. Divulgado a conta-gotas, o inquérito sobre a operação
Lava-Jato tornou-se uma arma dirigida contra o Partido dos Trabalhadores.
O apoio dos meios de comunicação pode ser comprovado
matemáticamente pelo Manchetômetro. A Bolsa de Valores subiu e desceu no
compasso de Aécio.
O país assistiu, nas 72 horas anteriores ao segundo
turno, a uma tentativa de golpe eleitoral midiático que conseguiu retirar entre
três e seis milhões de votos de Dilma, mas não teve força para impedir sua
vitória. O dia da eleição foi marcado desde a madrugada por uma tentativa de assalto
ao poder, com rumores falsos, mobilização subterrânea para distribuir capas da
VEJA e mentiras destinadas a gerar o pânico e paralisar as autoridades. Não
faltaram sequer pesquisas fabricadas que, em caso de necessidade, poderiam ser
usadas para justificar uma alteração repentina dos resultados.
No necessário retorno a normalidade, ocorreram cenas
inaceitáveis a favor de uma intervenção militar, estimuladas pelo
ambiente de intolerância que a tentativa de golpe midiático ajudou a criar.
Vozes responsáveis reagiram com indignação que merece registro.
Mas nada se investigou, ninguém foi chamado a
explicar-se, sugerindo que tudo ficará por isso mesmo.
Nos días posteriores a vitória de Dilma, os adversários
tentam impor sua agenda a Dilma. Denunciam seu direito constitucional a indicar
ministros do Supremo assim que eles completarem a idade-limite de 70. A falsa
tese da oposição fraca ajuda a alimentar a ainda mais falsa tese do governo
bolivariano.
Forte? Frágil?