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DE FEVEREIRO DE 2015
O ELEFANTE DO PARANÁ
VAI DESTRUIR O BRASIL?
A melhor metáfora sobre a Lava Jato, conduzida pela dupla Sergio Moro e
Deltan Dallagnol, foi criada pela empresa Sete Brasil: é um elefante na sala;
mas não apenas da empresa; o elefante já pisoteia toda a economia brasileira;
enquanto a Alumini, dos operários acima, está à beira da falência, a Engevix
fecha seu estaleiro no Rio Grande do Sul, a Camargo Corrêa demite metade de sua
administração, a Mendes Júnior paralisa a transposição do São Francisco, a UTC
corta na carne, a Odebrecht ameaça parar obras da Rio 2016 e bancos já se
preparam para a onda de calotes que se avizinha; marcha da insensatez avança
diante do acovardamento do Judiciário e do governo e do oportunismo da
oposição; para a Globo, que nunca quis indústria naval no País, ok; para
golpistas, como Alberto Goldman, que vêem as demissões como pré-requisito para
o impeachment, tudo bem; mas a responsabilidade por conter a irracionalidade
não é apenas da presidente Dilma Rousseff; é também do senador Aécio Neves que
critica as demissões no País, como se a guerra política não explicasse a crise;
haverá um entendimento em prol do País?
247 - “Estamos com um elefante na sala chamado Lava Jato”. A frase é do
executivo Luiz Orlando Carneiro, que preside a empresa Sete Brasil, criada para
desenvolver a indústria naval no Brasil.
É uma metáfora perfeita.
Como foi citada por Pedro
Barusco, ex-gerente da Petrobras, em sua delação premiada, a Sete Brasil não
vem tendo acesso a mecanismos de crédito. E como é a Sete quem subcontrata os
estaleiros, todos estão parando suas atividades.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com o Atlântico Sul, em
Pernambuco, que rompeu seu contrato com a Sete, com o Enseada, na Bahia, e com
a Ecovix, no Rio Grande do Sul. Em comum, todas essas empresas têm como
acionistas empresas atingidas pela Lava Jato, como Camargo Corrêa, Odebrecht,
UTC e Engevix.
A paralisia da indústria naval, provocada pela Lava Jato, ameaça
uma indústria que estava morta, antes do governo Lula, e que foi a mais de 200
mil empregos. Caso nada seja feito, ela simplesmente desaparecerá.
Para as Organizações Globo, que fazem campanha sistemática contra
a indústria naval e contra a política de conteúdo nacional da Petrobras, é uma
grande notícia.
Para o ex-governador paulista Alberto Goldman, que publicou um
artigo afirmando que a deterioração da economia é pré-requisito para o
impeachment que ele próprio deseja (leia aqui), maravilha.
Mas e para o País?
Será que o remédio contra a
corrupção é mesmo a quebradeira geral, com demissões de milhares de
trabalhadores?
Efeito em cadeia na economia
O impacto da Lava Jato, no
entanto, vai muito além da indústria naval. Atinge também outros setores do
setor de engenharia. A Mendes Júnior, por exemplo, paralisou obras da
transposição do São Francisco.
A Camargo Corrêa demitiu metade
de sua administração e a Odebrecht já ameaça paralisar as obras da Rio de 2016,
uma ótima notícia para quem se frustrou com o fiasco do movimento
#naovaitercopa e agora aposta no #naovaiterolimpiada.
Bom, sempre será possível
argumentar que isso é um problema de empreiteiras que corrompem servidores
públicos e merecem ser punidas. Será mesmo? Hoje, o Valor Econômico noticia que
o BTG Pactual, de André Esteves, elevou suas proviões para créditos duvidosos
em 307% (leia mais aqui).
Ou seja: bancos já se preparam
para uma onda de calotes e a quebradeira generalizada na economia. O resultado
será o crédito mais caro para todos.
Não por acaso, o medo do
desemprego voltou a assombrar a classe trabalhadora e a disposição para
consumir é a menor em dez anos.
Fúria ensandecida
Nesse cenário de terror econômico, o elefante que pisoteia a
economia brasileira vem sendo conduzido sem freios pelo Ministério Público
Federal.
Na semana passada, o procurador Deltan Dellagnol ajuizou uma ação que
prevê multa de R$ 4,5 bilhões contra as empreiteiras Camargo Corrêa, Mendes
Júnior, Galvão Engenharia, Sanko Sider, Engevix e OAS – a UTC Constran ficou de
fora porque o MP ainda tem esperança de que seu controlador, o empresário
Ricardo Pessoa, adira a uma delação premiada.
A consequência dessa ação, que
inova juridicamente, com o conceito de danos morais coletivos, é a quebra de
todas as empreiteiras envolvidas na Lava Jato. E, pior ainda, a cartelização do
setor de engenharia, pois sobrariam apenas, entre as grandes, a Odebrecht e a
Andrade Gutierrez que, embora tenham sido citadas inúmeras vezes, vêm sendo
poupadas.
Mais do que simplesmente propor
sua ação, Dellagnol quer impedir novas iniciativas de qualquer outro órgão
público em defesa da economia brasileira. Ontem, o procurador foi a Brasília
protestar contra os acordos de leniência que vêm sendo costurados pelo Tribunal
de Contas da União e pela Controladoria Geral da União (leia mais aqui).
Seu argumento é que, se forem
feitos acordos, as empresas não terão incentivos para colaborar com as
investigações.
Judiciário e governo acovardados, oposição oportunista
Diante de uma imprensa que torce para o pior, com o destaque para
as Organizações Globo, que defendem até a substituição de empresas nacionais
por firmas internacionais (como se Halliburton que comprou a invasão do Iraque
fosse um exemplo de honestidade), o Poder Judiciário se mostra acovardado e
nada faz para conter a marcha da irracionalidade.
No governo, ainda que prevaleça o discurso de que as empresas
devem ser preservadas, há poucas iniciativas concretas para tirar as empresas
do atoleiro em que se encontram. Volta-se, aqui, ao caso da Sete Brasil, que
não obtém créditos, em razão da Lava Jato. Enquanto isso, algumas empresas,
como a Constran, já protestam publicamente contra atrasos em seus pagamentos.
Ontem, ao comentar a crise que atinge a cadeia produtiva do setor
de óleo e gás, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), afirmou que as empresas já
estão demitindo e disse que "os primeiros a serem punidos pela alta da
inflação e pela perda do emprego são os mais pobres”.
Só não disse que a responsabilidade pelo País é também da
oposição.
Afinal, a quem interessa um
país em ruínas e que destrua toda a sua indústria naval, suas empresas de
engenharia e também os bancos que lhes deram crédito?
Cabe, aqui, um registro à sensatez do deputado José Carlos Aleluia
(DEM-BA), um dos mais experientes do Congresso Nacional. “Não podemos
aceitar passivamente a quebradeira das empresas e os danos incalculáveis que
isso trará ao país.
Uma empresa de construção
pesada leva pelo menos 25 anos para alcançar a maturidade. Em algumas décadas,
as maiores empreiteiras brasileiras acumularam expertise em grandes obras e uma
reputação internacional que não podem ser destruídas”, disse à jornalista
Tereza Cruvinel.
Das empresas atingidas pela Lava Jato, a que vive a situação mais
dramática é a Alumini, já em recuperação judicial. Recentemente, seus
funcionários fecharam a Ponte Rio-Niterói e foram criticados pelo Globo porque
estavam atrapalhando o trânsito. Vale a pena assistir o depoimento de um de
seus funcionários, que foi ao Congresso e emocionou os parlamentares ao falar
do cenário de miséria que vê pela frente (assista aqui).