FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
Mora em ARAXÁ/MG
1 blogspot + 1 página com + de 50 grupos no facebook + twitter + de 860 blogs e comunidades no google+, + de 412 conexões no LinkedIn - 467.759 visualizações em 37 meses
PAULO MOREIRA LEITE
O jornalista e escritor, é diretor do 247 em Brasília
A
importância de defender
Luiz
Inácio Lula da Silva
Num ano político que se inicia
com a dupla investigação contra Luiz Inácio Lula da Silva, começa a se
construir uma reação mais ampla, por parte de setores da sociedade brasileira
que já compreenderam que a pressão sobre Lula está longe de atender
qualquer finalidade jurídica.
Apenas busca retirar da cena política a principal liderança popular
construída pelo país após a democratização. Pretende-se fazer isso pela
destruição – com métodos covardes – da imagem pública de Lula, através de
uma conhecida combinação de espetáculos midiáticos que, sem demonstrar provas
nem fatos, têm a finalidade de produzir na população aquele sentimento perverso
de que:
"aí
tem tem coisa!"
Caso esta forma de ataque não venha a ser bem sucedida, é bom
estar preparado até para a possibilidade de que uma fatia mais aventureira do
poder judiciário seja capaz de uma iniciativa mais drástica – você sabe do que
estou falando.
Como parte desta reação, a bancada de senadores do PT divulgou uma
nota veemente neste fim de semana, onde manifesta sua "inconformidade com
a perversa agenda policial que foi introduzida no cotidiano dos brasileiros,
gerando um ambiente de culpabilização sem apresentação de provas, que atinge
várias forças políticas do país."
Advertindo que a "pauta
policial tem impedido o Brasil de enxergar seus reais problemas e
encontrar soluções," os senadores afirmam que "os ataques contra o
ex-presidente Lula tem um único propósito: dilapidar seu patrimônio político e
minar a confiança nele depositada por dezenas de milhões de brasileiros.
"Com frequência,
manifestações dessa natureza são simples exercícios burocráticos. Neste caso,
representa uma atitude positiva no universo parlamentar, onde a omissão diante
de temas relevantes são infinitamente mais comuns do que o protesto.
Só cabe aguardar que a reação
dos senadores do Partido dos Trabalhadores possa ir além do papel, e que eles
tomem medidas efetivas para estimular uma mobilização necessária e decisiva.
A experiência recente dos brasileiros ensina que a justiça do espetáculo
só pode ser confrontada pela mobilização popular, que permite manter a
soberania de uma nação nas mãos de quem tem direito a escolher quem pode
governar o país – o povo – e assegurar que o destino de cada homem público seja
decidido por um instrumento insubstituível das democracias, o voto popular.
Desde 16 de dezembro, quando centenas de milhares de pessoas foram
as ruas para denunciar uma tentativa de golpe contra Dilma Rousseff, nós
sabemos que a luta em defesa da democracia deixou de ser uma conversa exclusiva
de altos salões jurídicos para se tornar um assunto do povo.
Isso explica por que, em entrevista ao 247, Rafael Marques,
presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, entidade herdeira do movimento
que enfrentou a ditadura e mudou a luta dos trabalhadores a partir da década de
1970, fez a denúncia da ameaça de substituição do Estado Democrático de Direito
por um Estado Policial, como você pode ler em nota anterior neste espaço.
Foi da região do ABC paulista que partiu uma centena de ônibus
lotados de trabalhadores que foram até a avenida Paulista no dia 16. No ABC
também ocorreu uma vigília na casa de Lula e foi dali que saiu um grupo de
operários para protestar contra a explosão de uma bomba no Instituto Lula. Isso
não é produto de uma relação política e histórica, algumas vezes até
sentimental, entre os trabalhadores e Luiz Inácio Lula da Silva. Há uma base
material, também.
Os prejuízos econômicos associados a Lava Jato – que produziu uma
redução de R$ 45 bilhões na massa salarial, além de uma redução de 2 pontos no
PIB – transformaram uma operação jurídica num pesadelo social para boa parte da
população, em especial os trabalhadores e os mais pobres.
Perderam emprego, salário,
crédito, perspectiva. Mais do que prender políticos e empresários acusados de
corrupção, a operação desmontou uma aliança em torno de um modelo que produziu
crescimento e distribuição de renda.
É sintomático, assim, que se queira impedir, de qualquer maneira,
qualquer iniciativa capaz de permitir um respiro a economia. Essa postura
explica o combate absurdo aos acordos de leniência, que procuram preservar um
patrimônio econômico-tecnológico que é obra do conjunto dos brasileiros, que,
mais do que executivos e políticos acusados de corrupção, deram sangue e suor na
construção da sétima economia do mundo.
Faz parte dessa mesma
estratégia nociva tratar com desprezo iniciativas como a recriação do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, onde poderá ser possível
formar um ambiente favorável, mesmo nas difíceis condições atuais, ao debate
para livrar o país da recessão.
A defesa de Lula faz parte dessa resistência, e começa a se
manifestar.
Com apoio do prefeito Luiz Marinho, do sindicato dos
metalúrgicos do ABC e outras entidades da região, ali funciona um Comitê de
Mobilização que prepara novas atividades para as próximos dias, agora com a
defesa de Lula como a maior prioridade.
Ao transformar Lula em alvo, as investigações judiciais cumprem
uma etapa previsível de um processo que tem natureza política desde o início. A
ameaça a Lula deu urgência e gravidade absoluta a uma luta que terá um aspecto
decisivo em relação ao futuro do país.
É correto pensar em termos eleitorais, lembrando que o esforço
para inviabilizar uma possível candidatura de Lula, em 2018, faz parte das
tarefas necessárias a uma oposição que nunca teve votos para vencer eleições
presidenciais desde 2002.
Mesmo hoje, com uma crise de
múltiplas faces e imensa profundidade, ela não consegue firmar uma candidatura
capaz de falar a maioria dos brasileiros. Mas é preciso ir a além neste
raciocínio.
O que está em jogo é a reversão de um processo histórico de
conquistas e benefícios que, mesmo com limites e imperfeições, contribuíram
para uma melhoria inegável na condição dos mais pobres e na ampliação dos
direitos dos mais humildes.
Não custa lembrar que um regime
democrático prevê alternância de poder – o que deve ocorrer dentro das regras
estabelecidas pela Constituição – e raramente produz governos eternamente
invencíveis.
Convém pensar que uma eleição presidencial, dentro de dois anos e
9 meses, irá ocorrer num ambiente diferente do atual. Sem minimizar nenhuma
nova dificuldade que poderá surgir no horizonte, cabe lembrar que em 2018
ambiente político será outro – a começar pelo horário político, que permite ao
governo fazer uma disputa pelo eleitorado numa situação mais equilibrada, em
comparação com o universo construído pelo monopólio dos meios de comunicação.
Mesmo quem enxerga uma grande dificuldade de vitória em 2018 deve
reconhecer que o ataque a Lula tem a finalidade de eliminar o personagem que,
em qualquer caso, terá a função de liderar a resistência popular a uma
restauração reacionária.