FCO.LAMBERTO FONTES
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em JORNALISMO INTERATIVO
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publicado 21/03/2016
Política
Opinião
O povo de Aécio
Quem saiu às ruas
no domingo 13 não representava o conjunto da sociedade.
Era rico, branco e
eleitor
do tucano
André Tambucci/Fotos Públicas
Quem foi às ruas não
espelha nossa sociedade
O sistema político foi dormir
menos sobressaltado, mas ainda preocupado, depois das manifestações do domingo 13.
Nada de verdadeiramente novo aconteceu “nas ruas” e o fato significativo foi de
que algumas nuvens no horizonte ficaram mais escuras.
A mídia
procurou amplificá-las, em manchetes de jornal e na cobertura intensiva na
televisão. Chamou os acontecimentos de “maior ato da história”, em risível
exercício de negação da própria história. Maiores que alguns protestos na
década de 1960, como a Passeata dos 100 Mil, no Rio de Janeiro? Maiores que as
manifestações em favor das eleições diretas nos anos 1980.
Pretender
que eventos tão distantes sejam comparáveis é forçação de barra. Em um Brasil
com um terço da população atual e em plena ditadura, 100 mil cidadãos nas ruas
para protestar significam muito mais do que foi visto agora na Praia de
Copacabana. Os “comícios das Diretas” não foram simultâneos e os participantes
tinham consciência do risco que corriam ao confrontar o regime militar. Como
dizer que foram menores?
Em relação às manifestações, tanto no dia 13 quanto ao longo de
2015, a questão relevante nunca foi de
“quantos”, mas de “quem”. É exatamente o inverso das mobilizações durante a
ditadura, nas quais a quantidade era atributo fundamental, a ponto de aquela
“dos 100 mil” haver se tornado memorável pelo simples fato de atrair tanta
gente.
Embora as pesquisas a respeito das características
dos manifestantes do domingo tenham sido feitas em poucas cidades, revelam um
quadro sempre igual: quem foi às ruas não espelha nossa sociedade.
Seria de
se esperar que a principal diferença entre eles e aqueles que não aderiram às
passeatas estivesse no grau de interesse e de envolvimento com a política: os
motivados saíram de casa e os desmotivados ficaram (ou foram fazer outra
coisa). Mas não é isso que as pesquisas mostraram.
Os
manifestantes não representam a parcela politicamente mobilizada da sociedade,
apenas um segmento dela. Não são “o Brasil que se opõe” a alguma coisa, mas uma
parte que não expressa o todo, nem do ponto de vista socioeconômico nem em
termos político-partidários.
Em São Paulo, 79% dos
manifestantes votaram em Aécio
(Foto: Lula Marques/Agência PT)
Em todas as cidades, as
pesquisas apontaram que os participantes eram mais ricos, tinham mais educação
formal e eram mais brancos que a média da população. Que a proporção de
cidadãos mais velhos era maior, assim como a de empresários e profissionais
liberais.
O mais importante é, porém, o fato de os
manifestantes não exprimirem a diversidade de opiniões existente na sociedade.
Em São Paulo, 79% daqueles que participaram do ato votaram em Aécio Neves em 2014. Em Porto Alegre, 76%. Nas duas cidades,
somente 3% dos entrevistados disseram ter votado em Dilma Rousseff.
Não se trata apenas de ricos e brancos. Quem
desfilou pelas ruas é fundamentalmente rico, branco e eleitor de Aécio Neves. É
esse o perfil de quem atendeu às convocações dos partidos políticos, das
lideranças e dos meios de comunicação claramente oposicionistas.
Ao se considerar o vasto investimento na
organização das manifestações e o esforço da
mídia, em especial do Sistema Globo, para engrossá-las, o acréscimo nos
números, em relação ao início de 2015, foi modesto. Não conseguiram que
crescessem como desejavam e foram incapazes de diversificar e ampliar o
recrutamento de participantes, a fim de torná-los mais representativos.
Além dessa mídia, que pôde perceber que seu poder é
menor do que imaginava, quem deve estar preocupada é a oposição. Se em São
Paulo quase 80% dos manifestantes eram eleitores do PSDB, como justificar as
vaias recebidas por seus expoentes? Como explicar que o antigo eleitorado
tucano prefira opções ainda mais à direita? Quem achava que mais lucraria ao
acender a fogueira saiu chamuscado.
Tanta
coisa aconteceu de domingo para cá que as manifestações parecem longínquas. Mas
é bom ter em mente o que foram efetivamente, para evitar a prevalência de
versões falsificadas capazes de atrapalhar a interpretação do nosso momento tão
delicado.
O “povo brasileiro” não se manifestou, mas os eleitores de Aécio.
Tinham todo o direito de fazê-lo,
mas não são o País.