FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
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19 DE ABRIL DE 2016
O espetáculo
dantesco da Câmara
pode matar o
golpe.
Uma coisa que não estava absolutamente nos
planos dos golpistas acabou se tornando a mais letal propaganda contra o golpe:
a sessão da Câmara que aprovou o impeachment.
Nada
poderia ser mais revelador sobre o espírito do golpe.
Deputados
e deputados, nos escassos segundos em que estiveram à frente de microfones,
compuseram um teatro do absurdo, da vergonha, da indecência.
Parecia
uma festa no hospício, comandada por um psicopata.
Até a
imprensa internacional está, nestes dias, fazendo piada dos motivos invocados
na Câmara para o sim.
Pela
família quadrangular, pela minha mãe Lucimar, pela minha neta, por remotas
cidades Brasil afora, por Deus, por Deus, por Deus.
Isso
sem contar Bolsonaro, que votou por um torturador de quem se diz que chegou a
colocar ratos em vaginas de presas políticas.
Só
faltou quem dissesse: “Por Eduardo Cunha! Por mim!”
Registre-se
ainda o espetáculo de uma deputada que gritou aos pulos “sim, sim, sim” e citou
como exemplo seu marido, prefeito de Montes Claros, preso no dia seguinte por
desviar dinheiro de hospitais públicos.
Nas
redes sociais, este voto saltitante viralizou.
Foi o
mais acabado retrato não só da Câmara que temos, comprada pelo dinheiro das
grandes empresas via financiamento de campanhas, mas do golpe em si.
É
inevitável que este espetáculo dantesco tenha efeitos imediatos na opinião
pública, que já se dividira antes mesmo que os bufões declarassem seus votos
ridículos abraçados a bandeiras do Brasil usadas da maneira mais baixa
possível.
A
grande sentença do intelectual inglês Samuel Johnson foi provada exaustivas
vezes no plenário-picadeiro:
“O patriotismo é o refúgio do canalha.”
Não.
Não é
possível que o Brasil esteja à mercê de um grupo daquela espécie.
Nas redes
sociais, muitos apoiadores do impeachment confessaram seu choque ao ver quem
defendia a causa deles – e como.
O
desconforto dos que esperavam o sim acabaria sendo ampliado logo depois pelas
informações que começaram a circular segundo as quais, fortalecido, Eduardo
Cunha seria anistiado da roubalheira que promoveu.
Mesmo
antipetistas convictos não contavam com essa: vestir a camisa da seleção, sair
às ruas em nome do combate à corrupção, bater panelas – para depois ver como
grande vencedor do movimento o maior corrupto da história da República.
Não
poderia haver final mais infame.
A
sessão da Câmara haverá de ser um fator importante, talvez decisivo, nos
próximos passos do processo de impeachment.
A
mobilização pela democracia crescerá. Já está desfeita a falácia propagada
pelas empresas de jornalismo de que o impeachment é uma unanimidade nacional.
Não é.
É, sim, uma unanimidade entre os donos da mídia, que enxergam aí uma chance de
meter a mão no dinheiro público.
Temer,
caso o golpe se realize, vai imediatamente satisfazer a sede de dinheiro
público da Globo, da Abril, da Folha.
Isso
ficou claro numa mensagem do presidente da Abril aos funcionários da casa por
causa da sessão infame da Câmara.
Nossa vida vai melhorar, bradou ele.
Numa
tradução livre e fiel, ele estava dizendo: “Os anúncios do governo vão voltar.”
Às 23
horas de domingo, quando o voto que deu a vitória ao impeachment foi anunciado,
a sensação geral era que a história do golpe terminara.
Hoje,
vistas em detalhe as cenas da sessão, está evidente que não.