A "nova" equipe de governo do país dos indignados
com a corrupção
Presidente interino também está inelegível por oito anos
por
decisão da Procuradoria Eleitoral de São Paulo
por doação de campanha acima do limite legal
O presidente interino, Michel Temer (PMDB),
anunciou,
pouco depois de ser empossado no cargo, seu ministério.
Além de não ter
nomeado nenhuma mulher, nem representante da população negra do país, o
"novo governo" é recheado de investigados pela Justiça e até mesmo
condenados por crimes como improbidade administrativa e desvio de recursos
públicos.
Com base na Lei da Ficha Limpa, Temer
também foi considerado inelegível pelos próximos oito anos, por decisão da
Procuradoria Eleitoral de São Paulo, por doação de campanha acima do limite
legal. Apesar de poder assumir a Presidência, eventuais candidaturas futuras
podem ser questionadas.
Um dos nomes mais conhecidos do ministério, o senador
José Serra (PSDB) deixa novamente um posto para o qual foi eleito e assume o
Ministério das Relações Exteriores. O tucano tem uma extensa ficha de
acusações, e a mais recente tem a ver com a formação de cartel e o
superfaturamento de obras e licitações no Metrô de São Paulo, que teria
acontecido entre 1998 e 2008, período que coincidiu com o mandato de Serra como
governador (2007 a 2010).
Nesta semana, o STF recebeu uma investigação por improbidade
administrativa contra Serra e contra o também ministro de Temer, Gilberto
Kassab (PSD), sobre o período no qual foram prefeitos de São Paulo. Kassab
assume a pasta da Ciência e Tecnologia e já havia sido condenado por
improbidade e perdido os direitos políticos em 2014, mas recorreu da decisão.
Indicado para uma das pastas mais
importantes do ‘governo’, o deputado federal Ricardo Barros (PP) assume o
Ministério da Saúde depois de ser denunciado por irregularidades em sua
passagem como secretário da Indústria e Comércio do Paraná. É acusado de tentar
fraudar uma licitação de publicidade em Maringá, interior do estado.
Outra pasta importante, a
Educação, ficou com o pernambucano Mendonça Filho (DEM), que aparece na
Operação Castelo de Areia, como suspeito de ter recebido R$ 100 mil da
construtora Camargo Correia de forma irregular. Seu partido, o Democratas, foi
o autor da Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal que
propunha o fim do ProUni, uma das importantes políticas públicas dos governos
Lula e Dilma na área da Educação.
O novo ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, deputado federal
Maurício Quintella (PR) foi condenado por participação em esquema de desvio de
dinheiro destinado ao pagamento de merenda escolar em Alagoas, quando era
secretário de Educação do Estado.
O deputado federal suplente Raul
Jungmann (PPS), que assume como ministro da Defesa, teve problemas com a
Justiça quando foi ministro de FHC, acusado pelo Ministério Público Federal
(MPF) de participar de um esquema de desvio de recursos públicos do Incra
(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Outro
pernambucano, o deputado Bruno Araújo (PSDB) vai ocupar o Ministério das
Cidades. Teve seu nome citado na Operação Lava Jato e teria recebido dinheiro
de caixa 2 da Odebrecht.
O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho (PV), é um dos investigados
pelo Ministério Público por usar passagens áreas para voar ao exterior com a
família. Para o MP, esse e outros casos indicam “sérias irregularidades
cometidas na emissão de passagens aéreas pagas com recursos da Câmara dos
Deputados”.
PMDB denunciado
O ex-ministro do governo Lula e novo secretário de Governo de Temer,
Geddel Vieira Lima (PMDB), é citado na Operação Lava Jato sob suspeita de ter
negociado propina com uma empreiteira. Ex-presidente da Câmara dos Deputados,
Henrique Eduardo Alves (PMDB), também foi ministro em gestões petistas e é alvo
da mesma operação.
Companheiro de partido de Geddel e
Alves, o presidente do PMDB, Romero Jucá está na mira das operações Lava Jato e
Zelotes. Ele, que foi líder dos governos FHC, Lula e Dilma no Congresso, é
acusado de receber propina e integrar um esquema de caixa 2.
O ministro do Esporte, Leonardo
Picciani (PMDB), foi denunciado pela Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) do
Rio de Janeiro, junto com outros sete deputados, por fazerem material gráfico
da campanha de 2014 “por fora” do que consta das notas fiscais, segundo os
procuradores, caracterizando caixa 2.
Indicado para o
ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi (PMDB) foi
investigado por suposta lavagem de dinheiro e corrupção. A apuração foi
iniciada a partir de denúncia de que uma instituição financeira atuava sem
autorização do Banco Central e servia de fachada para a lavagem. A acusação foi
arquivada pelo STF neste mês, por considerar que não havia “indícios
suficientes” de crime.
O deputado Eliseu Padilha (PMDB), novo ministro-chefe da Casa Civil, foi
acusado de fraude no pagamento de dívidas judiciais do Dnit (Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes) quando era ministro dos Transportes
do governo FHC. No escândalo, advogados e procuradores foram acusados de furar
a fila das indenizações e elevar os valores devidos pela União.
Escolhas polêmicas
Mesmo sem denúncias contra si, a
escolha do general Sérgio Etchegoyen como ministro-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional é polêmica. Ele acusou de “leviano” o relatório da
Comissão Nacional da Verdade que incluiu seu pai, o também general Leo Guedes
Etchegoyen, na lista de 377 responsáveis por torturas, assassinatos e
desaparecimentos de presos políticos e ocultação de cadáveres durante a
ditadura militar.
O ministro da Justiça e Cidadania,
Alexandre de Moraes, conhecido por defender a repressão aos movimentos sociais
quando secretário de Segurança do Estado de São Paulo, defendeu uma empresa de
transportes ligada à organização criminosa PCC em mais de 100 ações, e ainda
defendeu Eduardo Cunha (PMDB), ex-presidente da Câmara dos Deputados, em uma
ação sobre uso de documento falso em que conseguiu a absolvição do
peemedebista.
Ligado à Igreja Universal e
presidente nacional do PRB, o Pastor Marcos Pereira foi indicado como ministro
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio após ter seu nome rejeitado para o
Ministério da Ciência e Tecnologia. Sua indicação foi duramente criticada pela
comunidade acadêmica, especialmente depois de ter dito que o evolucionismo
seria uma “opinião a ser respeitada”.
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