27 / 07 / 2021, DO SÉCULO 21
Extrema-direita:
religião,
militarismo
e neoliberalismo
"Na ausência momentânea de Trump, Bolsonaro é um dos candidatos à liderança da extrema-direita global conforme ficou claro na visita de uma liderança neonazista alemã ao presidente brasileiro nesta semana",
escreve o professor Robson Sávio
A extrema-direita global desfruta de
símbolos do cristianismo para formar uma "milícia religiosa", a
reeditar a guerra do bem contra o mal.
O bem seria tudo aquilo
associado ao pensamento conservador (religião, família tradicional, propriedade
privada, meritocracia, precedência do individual sobre o público). O mal, por
sua vez, está associado à modernidade, ciência, feminismo, esquerdismo, luta de
classe, estado social, etc...).
Montada, como numa CRUZADA
RELIGIOSA, em tradições da "família/moral conservadora", a
extrema-direita une líderes como Bolsonaro; extremistas norte-americanos,
incluindo grupos supremacistas (e lideranças religiosas evangélicas e
católicas, até mesmo junto ao episcopado); Viktor Orban (Hungria); Vladimir
Putin (que se aliou à Igreja Católica Ortodoxa Russa); Le Pen (França); extremistas
da Espanha, Inglaterra e até neonazistas alemães.
No Brasil, além de lideranças
evangélicas neopentecostais (principalmente das grandes igrejas midiáticas -
muitas delas verdadeiras empresas religiosas), a extrema-direita goza de
prestígio junto a membros do clero e do episcopado católicos,
vários padres midiáticos, instituições religiosas (algumas midiáticas),
youtubers famosos e uma bancada de ultraconservadores no Parlamento (de câmaras
de vereadores ao Congresso Nacional.
Essa aliança une o
conservadorismo RELIGIOSO, o poder político ancorado no MILITARISMO (no caso
esse governo militarizado -- que se vangloria na defesa de moralismos à la
Olavo de Carvalho) e no poder econômico alicerçado no ULTRALIBERALISMO,
essa nova versão do neoliberalismo (à la Paulo Guedes e figuras esdrúxulas, do
tipo o Véio das megalojas de produtos variados, Wizzard e outros negociantes
que, segundo dizem, para alcançarem o sucesso INDIVIDUAL E PRIVADO vendem até a
mãe).
Portanto, a base social que
agrega essa massa difusa precisa de um discurso MORALISTA, CRISTÃO,
CONSERVADOR para manter mobilizada uma legião religiosa que tem em
líderes carismáticos radicais, como Bolsonaro, Putin e outros, e para defender
radicalmente uma visão salvacionista e redentora do mundo. Uma recristianização
global, que é a base da Teologia do Domínio presente nos discursos desses
grupos religiosos (a crença segundo o qual a religião deve dominar o poder
político, a cultura, a educação, as artes, os comportamentos...).
A RELIGIÃO é o principal
elemento de constituição dessa base social da extrema-direita global. Mas, são
o MILITARISMO e o ULTRALIBERISMO que caracterizam o domínio do poder estatal
(da extrema-direita) em níveis nacionais, com intentos globais. Não por
coincidência, governos teocráticos, militares e ultraliberais são formas
distintas de autoritarismos.
Por isso, na ausência
momentânea de Trump, Bolsonaro é um dos candidatos à liderança da
extrema-direita global conforme ficou claro na visita de uma liderança
neonazista alemã ao presidente brasileiro nesta semana.
Uma observação final: o Papa
Francisco é a principal liderança global no enfrentamento à extrema-direita.
Por isso, é tão perseguido, inclusive dentro da Igreja Católica.
Estima-se, por exemplo, que dos 240 bispos norte-americanos,
somente uns 40 apoiam explicitamente Francisco. Não ouso afirmar sobre a
situação no Brasil. Mas, certamente o apoio do episcopado brasileiro ao papa
Francisco é bem maior e mais explícito. Vide manifestações da CNBB nos últimos
tempos.
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