FCO.LAMBERTO FONTESTrabalha em JORNALISMO INTERATIVOMora em ARAXÁ/MG
23 / 01 / 2022, DO SÉCULO 21
''O Brasil de 2023
será muito mais destruído do que o de 2003''
Trechos da conversa de Lula com a mídia independente
Por César Locatelli
Alguns trechos de fala de Lula, na quarta (19), em entrevista coletiva para a mídia independente, sobre o
combate à desigualdade, seu projeto de poder, violência, instituições, relação
com os EUA, na governança mundial, crise ambiental, governo Bolsonaro,
militares, inovação e desenvolvimento industrial são apresentados na sequência.
O combate à desigualdade
“É preciso que a gente recupere a democracia para
podermos colocar a desigualdade na ordem do dia, como prioridade do governo e
não colocar como prioridade o teto de gastos. Para colocarmos em discussão o
compromisso com a evolução social da sociedade brasileira e deixar em segundo
plano o compromisso fiscalista do governo que tudo faz para garantir dinheiro
para pagar o sistema financeiro e não faz nada para garantir o pagamento da
dívida social que é histórica em nosso país.”
“Esses ignorantes acham que o país vai evoluir se
o povo estiver passando fome, se o povo estiver desempregado, se o povo ganhar
pouco. É essa sociedade que eles querem. Pouco para muitos e muito para poucos.
Essa sociedade não dá certo.”
“Só tem uma razão para eu ser candidato à
presidência da República que é tentar provar que esse povo pode voltar a ser
feliz, pode voltar a sonhar com uma escola técnica, com uma universidade…”
“Para solucionar os problemas do país temos que
por o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda.”
O projeto de poder (Alckmin e centro-direita)
“Eu não terei nenhum problema se tiver que fazer uma chapa
com Alckmin para ganhar as eleições e para governar esse país… Vamos construir
um programa de interesse da sociedade brasileira… Não abro mão que a prioridade
é o povo brasileiro.”
“O Brasil de 2023 será um Brasil muito, muito,
muito mais destruído do que o Brasil de 2003… O que você precisa é de
inteligência política para construir as pessoas que podem querer remar junto
com você para fazer essa travessia oceânica… É para fazer esse país que eu
preciso construir uma relação política mais ampla que o PT. E não mais à
esquerda, mas ao centro e, se for o caso, até com setores de centro direita.”
“Eu ainda quero conversar com mais gente.
Independentemente das pessoas serem de direita ideologicamente, eu quero saber
como essa pessoa pensa humanamente. Tem gente que é conservadora do ponto de
vista ideológico, mas tem uma visão humana mais digna. Essa gente precisa estar
junto para recuperarmos esse país.
“Eu acho, com toda modéstia, que o PT nunca esteve
tão próximo de ganha o governo do estado [de São Paulo] como está agora. Você
sabe que isso não seria pouca coisa.”
Violência
“Nós precisamos mudar o papel do Estado. Quando a gente fala
em violência, a gente pensa na polícia. Aí não tem solução porque mais
violência, mais polícia, mais violência. O problema é que a violência é
originária, na minha opinião, da ausência do Estado no cumprimento de suas
obrigações com a comunidade.
Se o Estado não está lá gerando emprego, se o
Estado não está lá cuidando da água, cuidando da educação, cuidando da saúde,
cuidando do lazer, cuidando da cultura e só aparece lá com a polícia, de vez em
quando, aí não tem solução.”
“Eles têm tanto medo de cultura que acabaram com o
ministério. Pois eu vou fazer uma conferência de cultura e vou criar um comitê
de cultura. Não vai ser mais só um ministro, será um comitê de cultura. A
cultura vai ajudar a construir esse país mais democrático.”
Instituições
“Eu tive a sorte… de provar em vida a farsa que
montaram contra mim. Outros não tiveram. Juscelino até hoje paga por um
apartamento que nunca foi dele no Rio de Janeiro. Eu consegui desmontar o
canalha que foi o Moro no julgamento dos meus processos.”
“Vencer significa que, além de ganhar uma eleição,
nós temos que aprimorar as instituições nesse pais. Elas ainda são compostas
pela plutocracia que fez a Proclamação da República ainda no tempo do império,
que são os desembargadores, os juízes, são os procuradores, essa gente muito
sofisticada. Ainda não tem ninguém do Prouni, ainda não tem ninguém quotas.
Quando essa gente estiver participando das instituições podemos ter certeza que
a democracia estará se consolidando de forma definitiva no Brasil.”
EUA, nova governança mundial e a crise
ambiental
“Nós precisamos rediscutir uma nova governança mundial. A
gente não vai resolver a questão ambiental se deixarmos por conta dos estados
nacionais… É preciso acabar com o poder de veto na ONU. É preciso acabar com o
poder dos Estados Unidos de não respeitarem nenhuma decisão.”
“Como vou tratar os Estados Unidos? Primeiro eu
trato os EUA com o respeito que eu acho que eles merecem. Agora, quero que eles
me tratem com o respeito que o Brasil merece. Eles têm que compreender que o
Brasil é o país mais importante da América Latina. É o de maior população, é o
maior economicamente. E o Brasil tem interesse em crescer junto com todos os
países da América Latina e da América do Sul.”
“Ninguém quer que a Amazônia seja transformada num
santuário da humanidade. As pessoas que moram lá querem ter acesso a bens
materiais, querem produzir. É possível utilizar a riqueza da biodiversidade
para desenvolver a Amazônia? É. Então temos que investir em pesquisa.”
“Estamos reféns das grandes empresas que produzem
esses venenos. Então temos que lutar contra isso. Veja o que nós perdemos
depois do golpe contra Dilma. Você se lembra da quantidade de venenos que foi
autorizada a jogar na agricultura brasileira depois do golpe. Restabelecer isso
significa fazer um chamamento aos empresários que têm consciência de que não
vão progredir muito na venda de seus produtos ao exterior se não estiverem
preocupados com a questão ambiental.”
Governo Bolsonaro e militares
“Bolsonaro é o presidente mais àquilo que há de mais atrasado
na política brasileira.”
“É um descalabro, é um país que está sem governo,
é um país que não tem orientação para absolutamente nada.”
“É o primeiro momento na história desse país que
você não sabe para que existe governo.”
“Esses ignorantes acham que o país vai evoluir se
o povo estiver passando fome, se o povo estiver desempregado, se o povo ganhar
pouco. É essa sociedade que eles querem. Pouco para muitos e muito para poucos.
Essa sociedade não dá certo.”
“Não posso balizar as Forças Armadas pelos que
estão no governo… Essa gente não representa as Forças Armadas. Estou convencido
que hoje você tem um grupo de aproveitadores… O Pazuello jamais poderia ser um
general com a formação que tem, com a grosseira que ele tem, com a ignorância
que ele tem. Não pode, um homem daquele, chegar a general.”
“Eu trabalho com a ideia que esses oito mil
militares que estão trabalhando no governo, na burocracia, certamente irão se
afastar ainda durante o processo eleitoral. E vão percebendo que que têm que
pedir a conta. Vamos discutir o papel da Forças Armadas, que é mais nobre do
que o que estão fazendo agora.”
Inovação e desenvolvimento industrial
“O único desafio que cabe a mim, que sou leigo em muitas das
coisas, é envolver as universidade, os empresários e o Estado para que a gente
possa discutir o que fazer. No tempo que eu era presidente, nós criamos, no
BNDES, vários núcleos para discutir inovação industrial. Essas coisas andam
muito pouco porque os empresários brasileiros não investem em pesquisa. Quem
investia em pesquisa era Petrobras, era o Estado que investia.”
“Nós precisamos, primeiro, fazer uma grande
discussão com a sociedade brasileira sobre o que entendemos sobre uma nova
política industrial. Qual é o mercado que podemos entrar? O que podemos
estruturar? Se a gente pegar nossos cientistas, nossa universidade, nossos
empresários mais jovens e mais modernos e pegar o governo, nós podemos
apresentar [um plano]… Temos que ter consciência que ninguém vai nos ajudar. ‘É
nóis.’ É a nossa inteligência, nossos interesses soberanos.”
* O Mito da Queda em A Queda dum Anjo de Camilo Castelo Branco
Marta Alexandra de Moura
Teixeira
Dissertação realizada no
âmbito do Mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes,
orientada pela Professora
Doutora Maria Luísa Malato da Rosa Borralho.