Parece que escrevem de Mônaco e não do país em
que 60 milhões de pessoas sofrem com insegurança alimentar, de acordo
com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO).
Cito a fome, mas posso falar do desemprego, dos milhões de desalentados,
do caos nos transportes urbanos, dos baixíssimos índices de vacinação,
das universidades estranguladas e da fuga dos nossos melhores
pesquisadores para outros países.
É preciso dar concretude ao desmonte que o governo de extrema direita
promoveu no Brasil desde 2019. Os ataques à democracia na prática são
políticas que matam, empobrecem, empurram milhões para a miséria. Essa é
a realidade do Brasil hoje. E não se reconstrói um país que se encontra
nesse estado só com belas fotos de políticos sorrindo ou com discurso de
pacificação.
Mas esse é apenas um aspecto dessa relação entre política econômica e
imprensa. A verdade é que durante os anos de Paulo Guedes vimos uma
profunda condescendência com seu desastroso ministério. O ministro
prometeu dezenas de coisas que não cumpriu, falou insanidades durante a
pandemia, desrespeitou líderes de outros países e ainda assim sempre
contou com certa complacência dos grandes veículos. Talvez porque é um
banqueiro? Ou será que porque prometeu centenas de privatizações?
Você pode estar se perguntando: "ora, mas a Nayara acha que o
jornalismo não pode criticar o novo governo Lula?". Cara leitora,
garanto que não é isso!
A chave para entender como o jornalismo deve se pautar em momentos como
esse é muito simples: interesse público. Nada de
imparcialidade ou neutralidade. Jornalismo de verdade, comprometido com a
informação, tem lado. Ele se faz guiado pelo interesse público.
É desse jornalismo que o Brasil precisa mais do que nunca. Não dá para
reportarmos presos a dogmas vazios e chavões como "equilíbrio das
contas públicas". Para falar de economia tem que falar de fome. Para
falar de educação tem que falar de cotas raciais. Para falar de
democracia tem que falar de direitos humanos. Vai cobrir emprego? Tem que
considerar os direitos trabalhistas. Se vai reportar sobre política tem
que ter em conta o que significa a força da extrema direita hoje e suas
inspirações fascistas.
Há alguns dias discutimos aqui no Intercept o que seria
o jornalismo do futuro. Qual o jornalismo que queremos fazer
agora que Bolsonaro deixará o Planalto? Como o jornalismo pode contribuir
com esse novo momento?
As manchetes da semana passada me fizeram pensar que o jornalismo do
futuro precisa começar já. Esse jornalismo não está preso a um político
ou a um partido. Esse jornalismo está alinhado com as urgências da
população brasileira. E essas urgências não são difíceis de
identificar.
O jornalismo do futuro precisa de liberdade, autonomia e ousadia. Ele não
será bancado por patrocinadores e anunciantes, não pode depender de
empresários ávidos por reconstruir o teto de gastos que Paulo Guedes
arrebentou e não pode temer meter o dedo na ferida. O jornalismo do
futuro precisa investigar o que está sob sigilo e trabalhar com firmeza
para responsabilizar a extrema direita. Mas deve também reportar com
responsabilidade e compromisso com tudo que a população brasileira
precisa nesse momento. Não dá para esperar.
Tenho orgulho de neste momento trabalhar no Intercept justamente por
isso. Porque aqui é o lugar do jornalismo do futuro. Esse
jornalismo que começa agora, mas que é base essencial do país que
precisamos reconstruir. É até curioso dizer isso. Pois nos últimos quatro
anos passamos os dias reforçando a importância do jornalismo independente
para frear os desmandos bolsonaristas. Uma pessoa desavisada poderia
pensar: "agora, com Bolsonaro fora do poder, o jornalismo perderá
protagonismo". Grande engano.
As manchetes da semana passada já me deram a senha: é hora do jornalismo
independente brilhar. Não podemos seguir em frente com uma imprensa
descompromissada, acostumada a passar a mão na cabeça do ultraliberal
Guedes, mas desesperada quando se fala em um Orçamento que garanta os
benefícios sociais mínimos para a sobrevivência do grosso da população.
Concorda comigo? Então você tem a chance de fazer o
jornalismo do futuro acontecer hoje. Clique aqui e contribua com o
trabalho do Intercept. Eu garanto que não vamos te decepcionar.
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