Evidentemente, não é apenas o caso de Silvana que nos ajuda a entender de qual lado da história está Hugo Motta. Outro episódio, muito bem contado por alguns veículos de imprensa nesta semana, é emblemático.
Mensagens obtidas pela Polícia Federal durante a Operação Lava Jato indicam que Hugo Motta assinava requerimentos e fazia movimentações parlamentares a pedido do então presidente da Câmara Eduardo Cunha, do MDB.
Documentos anexados a inquéritos revelam que Hugo Motta, ainda em seu primeiro mandato, servia como intermediário para Cunha, ocultando o real interessado em determinadas ações legislativas. Entre os exemplos, estão e-mails de assessores de Cunha perguntando se podiam enviar requerimentos para Motta assinar e mensagens do ex-presidente da Câmara instruindo-o a apresentar emendas e propostas em seu nome.
Não é de se surpreender. O novo presidente da Câmara iniciou a vida de congressista em 2011, aos 21 anos, pelo então PMDB. Filho do ex-prefeito da cidade paraibana de Patos, Nabor Wanderley, e neto do ex-deputado federal Edvaldo Motta, o jovem parlamentar rapidamente se destacou como aliado fiel de Eduardo Cunha.
Com apoio de Cunha, ele assumiu relatorias estratégicas e a presidência da CPI da Petrobras em 2015, consolidando-se como um operador do grupo que comandava o centrão naquele momento.
Se o episódio com a diarista revela a intransigência de Hugo Motta diante dos fracos, sua trajetória ao lado de Eduardo Cunha escancara sua disposição para servir aos poderosos. Negociador hábil quando se trata de operar em favor de caciques políticos, Motta não hesitou em emprestar sua assinatura para aliados e manobrar nos bastidores do Congresso.
Agora, no comando da Câmara, terá nas mãos não apenas a caneta para chancelar acordos, mas a prerrogativa de pautar e barrar projetos que moldarão o país nos próximos anos.
A questão que se impõe não é se ele sabe negociar, mas a serviço de quem o fará.