FCO.LAMBERTO FONTES
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10/03/2017
Plantão
Ciência e tecnologia no Brasil continuam
fora da agenda
Com informações da Agência Fapesp
O Fórum do Conselho
Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) reuniu nesta
semana especialistas de todo o país para discutir ações para conscientizar a
sociedade e os tomadores de decisão sobre a importância do financiamento das
atividades de ciência, tecnologia e inovação.
José Goldemberg,
presidente da FAPESP, destacou três razões pelas quais a ciência e a tecnologia
são importantes para países emergentes, como o Brasil.
A primeira delas é que
mesmo para importação de tecnologias é preciso ter pessoas com capacitação para
escolher a melhor opção que será adotada pelo país. "O setor privado faz
isso o tempo todo e os governos também precisam disso [de pessoas
capacitadas" para fazer suas escolhas", afirmou.
A segunda razão é
que países em desenvolvimento têm algumas características próprias que permitem
implementar tecnologias que efetivamente não foram exploradas adequadamente
pelos países centrais, como foi o caso do Programa Nacional do Álcool
(Proálcool), iniciado em 1975 no Brasil. "Os Estados Unidos iniciaram seu
programa para produção de biocombustível nos anos 2000 com características não
tão boas quanto as do Proálcool", comparou.
Já a terceira razão
pela qual ciência e tecnologia são importantes para o Brasil, de acordo com
ele, é que há pessoas talentosas em todo os lugares do mundo e que avanços
nessas áreas ocorrem também em países que não são centrais.
Produtividade
Mas, por enquanto,
isso parece soar melhor no campo das teorias do que na prática. Na avaliação do
presidente da Finep, Marcos Cintra Cavalcanti, ainda não há uma clara percepção
no Brasil da importância da C, T&I para o desenvolvimento econômico e
social do país.
"Qualquer país
que paralisa seus investimentos em ciência e tecnologia dificilmente irá
conseguir recuperar seu espaço perdido nessas áreas, porque o mundo está
avançando. Se perdermos a visão da fronteira tecnológica mundial estaremos
fadados a ser meras colônias do ponto de vista científico e tecnológico e
caudatários no processo de desenvolvimento econômico", disse ele.
De acordo com dados
apresentados no evento, o Brasil tem aumentado seu hiato tecnológico em relação
ao restante do mundo. A produtividade do país no período de 1990 a 2014, por
exemplo, cresceu apenas 4%. "É absolutamente impossível conseguir atingir
uma trajetória sustentável de crescimento sem que a produtividade do país
cresça. Não é possível gerar bons empregos e bons salários com baixa
produtividade", afirmou Eduardo Moacry Krieger.
Segundo ele, o
fator determinante para o crescimento da produtividade é a inovação
tecnológica, que demanda um forte investimento não só nessa área, como também
em ciência e tecnologia: "A produtividade é um fator decisivo tanto para
os países desenvolvidos como para os em desenvolvimento. E sem um forte investimento
em ciência, tecnologia e inovação, a produtividade do Brasil não vai
crescer".
Desindustrialização
O esforço nacional
em pesquisa e desenvolvimento (P&D) ainda é baixo em comparação com outros
países, situação que foi agravada pela recente crise econômica do país.
Segundo estimativas
apresentadas por Krieger, os dispêndios públicos e privados em P&D no
Brasil caíram nos últimos três anos e voltaram ao patamar de 1% em relação ao
Produto Interno Bruto (PIB): "Já havíamos chegado a 1,2% do PIB e há 15
anos os dispêndios eram de 1,1%.
Agora regrediu, enquanto vários outros países
têm avançado e definido metas mais ambiciosas para aumentar seus gastos em
P&D".
Um dos fatores que
explicam essa retração, de acordo com Carlos Américo Pacheco, foi a forte queda
da participação da indústria no PIB brasileira - que representa a principal
fonte de dispêndio em P&D no país -, o que contribuiu para jogar para baixo
os indicadores privados.