segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013



http://www.novojornal.com/editorial/noticia/editorial-i-as-zebras-04-02-2013.html

EDITORIAL : AS ZEBRAS

Por Geraldo Elísio
“O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia”. - Millôr Fernandes
Foi a partir do Sobrenatural de Almeida de Nelson Rodrigues que passei a imaginar o Imponderável de Souza, ambas as personagens que surgem sem a menor preocupação de avisar criando os imprevistos que se fossem previstos não haveria imprevistos.
E não é que a confirmar o ditado que de onde menos se espera é que sai o deputado federal Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), um parlamentar inexpressivo refulge nas páginas da revista IstoÉ pedindo a expulsão de seu colega Eduardo Azeredo dos quadros tucanos sob a alegação de que os deputados atuais não podem pagar pelos erros cometidos pelo ex-governador e senador por Minas Gerais no passado recente.
Em primeiríssimo lugar é de se ressaltar que Nárcio convalida todas as denúncias formuladas pelo Novojornal envolvendo o alto tucanato. Ou ele é tão irresponsável em nível de formular conceitos tão sérios como declarou a uma das mais importantes publicações brasileiras? Como igualmente é verdade que ele se emaranhou em um imbróglio difícil de resolver.
Por exemplo, Nárcio Rodrigues em sua preocupação moral altamente aplaudível irá igualmente pedir a expulsão do ex-governador e atual senador mineiro Aécio Neves e da sua irmã, Andréa Neves, igualmente envolvidos no mesmo processo onde ele Nárcio também é apontado por práticas irregulares. Sem contar o rosário de irregularidades praticadas. O parlamentar em nome da coerência e da moralidade, num gesto de arrependimento, irá se auto-imolar politicamente. Se o fizer haverá que ser reconhecido que errar é humano, inadmissível é permanecer no erro.
A exemplo do sargento Tainha, um desastrado infante das histórias em quadrinhos Nárcio Rodrigues retirou inadequadamente o pino de uma granada e agora não sabe para onde arremessá-la ficando com o artefato em suas mãos correndo o risco de vê-la explodir causando danos muitos maiores.
Ou existe de fato um suposto acordo entre o PT e o PSDB – o que transformaria as duas legendas nas faces de uma mesma moeda – objetivando sacrificar o ex-ministro José Dirceu e o deputado federal Eduardo Azeredo, deixando na zona sombria outros líderes partidários das agremiações em pauta para fugir aos rigores da Lei frente ao Supremo Tribunal Federal.
Pelas informações tal acordo pode ser extremamente viável desde que a estabilidade do mercado, preconizada pelo ícone dos neos liderais, Milton Friedman seja mantida até que se atinja o fim da história estupidez enunciada por Francis Fukuyma.
O que tem a dizer Luis Inácio Lula da Silva, apontado por Mário Garnero como alguém que tem ligações com gente da CIA, coisa que nem o autor das acusações e o próprio Lula se dignam a responder? O que tem a dizer a presidenta Dilma Rousseff sobre tais posturas fundamentadas no Consenso de Washington? O que tem a dizer José Dirceu apontado como membro integrante do Grupo Bilderberg? O que tem a dizer José Genoino com as suas condenações e sua cara de pau? O que tem a dizer o ministro Fernando Pimentel que num acordo espúrio com o ex-governador Aécio Neves, de graça entregou 16 anos de mando com altos níveis de aprovação da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte ao atual prefeito Márcio Lacerda, o Clóvis Bornay da quarta feira de cinzas (?) o dia dele está se aproximando.
Porque Dilma Rousseff protege Pimentel tentando fazer dele governador de Minas Gerais? Até onde sei nada de mais grave atinge a presidente gerentona, mas tudo atinge Pimentel. Por que ele se mantém intocável? Por que o ex-ministro Patrus Ananias não diz nada, sempre disposto a participar de Contratos de Tiradentes, onde os outros sempre entram com a corda e a forca e ele com o seu próprio pescoço? Nárcio Rodrigues creio sem querer, destampou o caldeirão das bruxas e o caldo de fermento enseja com toda a razão as perguntas formuladas.
Inclusive se é verdade que Eduardo Azeredo dispõe de vasta documentação a deixar feio na fita o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o fraudador da dívida externa brasileira, segundo o delegado da Polícia Federal, Protógenes Queiroz, atual deputado federal pelo PC do B de São Paulo e outras lideranças tucanas, sem falar no ministro Gilmar Dantas segundo o jornalista Ricardo Noblat?
Pelo visto em termos de mago Merlin Nárcio Rodrigues é somente um parlamentar medíocre. Mas ao levantar a ponta do tapete deixou claro que o que está guardado lá em baixo já apodreceu e as dimensões da peça não comporta mais cisco a ser varrido para debaixo dela. E será que Nárcio faria tal declaração sem o consentimento de Aécio Neves?
Imponderável de Souza
O novo Mineirão – mau presságio foi inaugurado com um gol contra de cabeça. Nada mais tenho a ver com o futebol que se já foi um dia hoje não é mais a minha praia. Os clubes e as paixões dos seus torcedores respeito, mas não me interessa. Em Minas Gerais um Estado onde os professores e os profissionais da segurança pública e da saúde pública são mau pagos investiu-se uma fortuna para construir – bastava remodelar – não apenas um mais dois estádios. E o resultado – não o do jogo – foi um fiasco.
Transporte carente, no sábado a forte chuva deixou a prova que o estádio não possui serviço de drenagem eficiente, dificuldade para o torcedor se alimentar e outras mazelas que a vaidade do governador Antonio Anastasia só permitiu ouvir elogios. Fracassou o Palácio Tiradentes, a Secopa e a Minas Arena. Da primeira inauguração participei como repórter e narrador de rádio, sendo tudo perfeito. No mínimo 120 mil pessoas no estádio criado pelo ex-prefeito Jorge Carone Filho e usurpado pelo golpista Magalhães Pinto, líder civil do golpe conjunto com os militares em 64.
Mas quem tocou na ferida mesmo através do Facebook foi o jornalista Walter Freitas, o Pernambuco. Menos de 60 mil pessoas ocuparam o novo estádio. O ingresso mínimo vendido a preço exorbitante o que serviu para expulsar o povo do campo e elitizar o futebol que já foi a maior diversão de massa dos brasileiros. Creio nunca mais o futebol voltará a ser a alegria do povo como nos tempos de Mané Garrincha. Transformado num magnífico filme documentário de Joaquim Pedro de Andrade.
As televisões não puderam mostrar os geraldinos, neologismo criado por Dario Peito de Aço, um dos filósofos do futebol. Se mal recebem salários como poderão eles comparecer a campos de futebol destinados às elites.
Antonio Anastasia, Aécio Neves, Márcio Lacerda, a Secopa e a Minas Arena partem para a Copa de 2014 com um gol contra. Deus se apiede de nós.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.
Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises