quarta-feira, 20 de março de 2013


                                                                                                                          Opinião:
O jornalista não pode se deixar levar por preferências políticas
Silvia Bessa
Do mestre José Hamilton Ribeiro, o repórter, li o alerta: “Na hora de escrever profissionalmente, não confie tanto em si próprio”. E é dele a observação sobre o traço psicológico necessário para que um sujeito se torne um bom repórter: este deve, diz, “estar do lado mais fraco, do pequeno, do oprimido, e não do lado mais forte, seja ele econômico, político ou militar”. Porque “o repórter que está do lado mais fraco é capaz de captar um sentimento humano mais autêntico, espontâneo”.

Corri com meus olhos duas vezes sobre a sentença em que Geneton Moraes Neto, ilustre conterrâneo pernambucano, afirma: “Não há assunto desinteressante. O que há são maneiras desinteressantes de contar o que aconteceu”. E gostei de conhecer a lição tirada por ele após entrevistar dois generais: “O jornalista não pode se deixar levar por preferências políticas. O importante era tratar os dois com justiça. Ou seja, ser jornalisticamente justo”.

De Elvira Lobato li que a “boa reportagem é aquela meticulosa, então exige um investimento pessoal”. Tese, aliás, com a qual concordo de ponta a ponta. Marcelo Canellas faz uma defesa sobre o senso ético apurado que vale tanto para iniciantes quanto para iniciados: “O mais importante é você ser ético, fazer um jornalismo livre de preconceitos, respeitar a dor alheia”.

A honestidade do repórter com ele próprio e com fontes é princípio citado por dois outros “mestres da reportagem” – Adriana Carranca e Ernesto Paglia. Adriana defende: “Tenha honestidade com relação ao que te motiva”. Paglia reconhece legitimidade do repórter em admitir “ignorância” diante de entrevistados. Já Eliane Brum é enfática: a qualidade da escuta é “que vai determinar a qualidade da nossa apuração, a nossa capacidade de alcançarmos a história do outro”.

Ricardo Kotscho, Mauri König e César Tralli também estão entre 30 profissionais que contam suas histórias, trajetórias e dão conselhos para quem é foca e para quem já tem sola de sapato gasta na edição de um livro produzido pelos estudantes de jornalismo da Faculdade do Povo (FAPSP, de São Paulo), coordenado pela professora Patrícia Paixão. 

Como uma das entrevistadas, acabo de receber um exemplar de “Mestres da Reportagem” (Ed. In House, 2012) e aproveitei o intervalo entre o dia longo e o sono do final da noite para pinçar dicas dos colegas repórteres e republicar nesta coluna, que, como sabem, se propõe a discutir a função daquele que vai para a rua em busca de notícia. Foi a forma que encontrei para colocar em prática dois aprendizados a que fiz menção durante a entrevista concedida a estudantes do segundo e terceiro anos da FAPSP e usada no livro: Seja honesto quanto ao seu desconhecimento, total ou parcial, sobre determinado tema e busque sempre os mais experientes