O jornalista não pode
se deixar levar por preferências políticas
Silvia Bessa
Do mestre José Hamilton Ribeiro, o
repórter, li o alerta: “Na hora de escrever profissionalmente, não confie tanto
em si próprio”. E é dele a observação sobre o traço psicológico necessário para
que um sujeito se torne um bom repórter: este deve, diz, “estar do lado mais
fraco, do pequeno, do oprimido, e não do lado mais forte, seja ele econômico,
político ou militar”. Porque “o repórter que está do lado mais fraco é capaz de
captar um sentimento humano mais autêntico, espontâneo”.
Corri com meus olhos duas vezes sobre a
sentença em que Geneton Moraes Neto, ilustre conterrâneo pernambucano, afirma:
“Não há assunto desinteressante. O que há são maneiras desinteressantes de
contar o que aconteceu”. E gostei de conhecer a lição tirada por ele após
entrevistar dois generais: “O jornalista não pode se deixar levar por
preferências políticas. O importante era tratar os dois com justiça. Ou seja,
ser jornalisticamente justo”.
De Elvira Lobato li que a “boa
reportagem é aquela meticulosa, então exige um investimento pessoal”. Tese,
aliás, com a qual concordo de ponta a ponta. Marcelo Canellas faz uma defesa
sobre o senso ético apurado que vale tanto para iniciantes quanto para
iniciados: “O mais importante é você ser ético, fazer um jornalismo livre de
preconceitos, respeitar a dor alheia”.
A honestidade do repórter com ele
próprio e com fontes é princípio citado por dois outros “mestres da reportagem”
– Adriana Carranca e Ernesto Paglia. Adriana defende: “Tenha honestidade com
relação ao que te motiva”. Paglia reconhece legitimidade do repórter em admitir
“ignorância” diante de entrevistados. Já Eliane Brum é enfática: a qualidade da
escuta é “que vai determinar a qualidade da nossa apuração, a nossa capacidade
de alcançarmos a história do outro”.
Ricardo Kotscho, Mauri König e César
Tralli também estão entre 30 profissionais que contam suas histórias,
trajetórias e dão conselhos para quem é foca e para quem já tem sola de sapato
gasta na edição de um livro produzido pelos estudantes de jornalismo da
Faculdade do Povo (FAPSP, de São Paulo), coordenado pela professora Patrícia
Paixão.
Como uma das entrevistadas, acabo de
receber um exemplar de “Mestres da Reportagem” (Ed. In House, 2012) e
aproveitei o intervalo entre o dia longo e o sono do final da noite para pinçar
dicas dos colegas repórteres e republicar nesta coluna, que, como sabem, se
propõe a discutir a função daquele que vai para a rua em busca de notícia. Foi
a forma que encontrei para colocar em prática dois aprendizados a que fiz
menção durante a entrevista concedida a estudantes do segundo e terceiro anos
da FAPSP e usada no livro: Seja honesto quanto ao seu desconhecimento, total ou
parcial, sobre determinado tema e busque sempre os mais experientes