sábado, 6 de abril de 2013

Publicado em 05/04/2013

EDITORIAL
64 FOI GOLPE NÃO REVOLUÇÃO
Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises

Por Geraldo Elísio
“Um amor, uma carreira, uma revolução: outras tantas coisas que se começam sem saber como acabarão”. - Jean-Paul Sartre

Lamentável que o senador tucano Aécio Neves (PSDB/MG) tenha dito em entrevista que o golpe civil militar de 31 de março de 64 tenha sido uma “revolução”, uma forma de mascarar o movimento golpista na visão daqueles  que operacionalizaram o rasgar da Constituição derrubando pela força das armas um presidente, João Goulart, legitimamente eleito pelo povo, inclusive com o conluio de país estrangeiro que, para as costas brasileira enviou um porta aviões (Operação Brother Sam) e toda a guarnição do mesmo, incluindo aviões bombardeiros.
Para refrescar a “memória” do senador Aécio Neves vamos rever alguns fatos importantes. O major do Exército Brasileiro, Paulo Viana Clementino, meu conterrâneo da cidade de Curvelo (Centro Norte de Minas Gerais) anos depois do jornalista Marcos de Sá Corrêa, da então edição impressa do “Jornal do Brasil”, no início de 1977 ter revelado a “Operação Brother Sam”, a partir de documentos liberados pelo memorial do ex-presidente norte americano Lyndon Johnson, em Austin, no Texas, disse que a “revolução” foi “na verdade um golpe bem dado e mal acabado porque terminou nas mãos da UDN”.
Entrevista gravada eu perguntando democraticamente o que julgava ser conveniente ser perguntado e ele igualmente de forma democrática respondendo o que quisesse. Detalhe: na ocasião do golpe civil militar o major Clementino era “Chefe do Estado Maior do Comando Revolucionário”, escolhido pessoalmente pelo general Carlos Luís Guedes, junto com outro general, Mourão Filho, aliados ao então governador de Minas, Magalhães Pinto, que traiu o seu colega de Pernambuco, Miguel Arraes, liderando a derrubada de Jango.
Obvio entre a “revolução” dita pelo senador tucano Aécio Neves e o golpe expresso pelo major Paulo Viana Clementino as circunstâncias e a lógica pendem a favor do militar. Da mesma forma como em outra entrevista, uma das últimas que ele concedeu antes de morrer o político gaúcho Batista Luzardo, revolucionário de verdade em 1930, nega ao golpe civil militar de 1964 o caráter de revolução. As duas entrevistas eu as tenho comigo até hoje.
Não creio ter sido um ato falho do senador Aécio Neves que inegavelmente dispõe de um bom olfato e dele faz uso constante farejando oportunidades políticas. Talvez o que ele procure é o apoio das casernas para os seus projetos futuros, mas esquecido de que os militares brasileiros de hoje são a resultante de uma nova geração pós Guerra Fria – se é que esta acabou mesmo – e indispostos a apoiar a cobiça internacional sobre as riquezas brasileiras a exemplo do nióbio de Araxá que ele Aécio entregou em desastrada operação a grupos estrangeiros buscando a formação de “caixa de campanha” para atender os seus objetivos.
Aí sim, talvez buscando ensinamentos do avô dele Tancredo Neves que nos palanques das Diretas-Já trabalhou fortemente a favor da Emenda Constitucional nº 5 do ex-deputado Dante de Oliveira, porém nos bastidores teve empenho até maior em viabilizar o Colégio Eleitoral, em conluio com o general Golbery do Couto e Silva e única forma dele chegar ao Poder sem que os militares, confiando no poder de conciliação dele não vissem riscos de revanchismo.
No ano que vem ocorrerá o cinquentenário do golpe civil militar de 64 e o Brasil de hoje segundo o correspondente do jornal espanhol “El País”, no Rio de Janeiro, é muito outro. Para o colega Juan Arias nos falta combater “Os níveis de violência em todo o país com um recorde de 50.000 assassinatos por ano. A insegurança nas grandes cidades, a impunidade de crimes políticos e financeiros e tolerância com a corrupção em todos os níveis”. E acrescento eu exterminar a dengue, reestruturar o sistema de segurança pública que precisa de dignidade para com dignidade poder agir e cuidar da educação sem a qual não teremos o futuro visto pelo jornalista espanhol.
Porquê uma coisa é a publicidade de “Frau Andréa Goebbels Neves”, a “Mãos de Tesoura” e outra a realidade. Muito menos a precária esperteza (?) de seu irmão senador que a cada vez que se cala ganha mais pontos do que quando fala.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.