domingo, 5 de maio de 2013

Edição 2320 -  8 de maio de 2013

A militância política 
falsa (e paga)
na internet
Renan Calheiros, Aécio Neves e Agnelo Queiroz têm ao seu lado uma rede de militantes que só existem na internet - e na imaginação dos marqueteiros

Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília
TucanosO senador mineiro Aécio Neves (PSDB) trabalha para aumentar sua popularidade de olho na eleição presidencial do ano que vem. Com alguma frequência, a equipe de comunicação do PSDB nacional é incumbida de produzir materiais críticos ao governo Dilma Rousseff. O resultado do trabalho, entretanto, não é publicado em páginas oficiais do partido, nem nos perfis oficiais mantidos no Facebook e no Twitter: chega a uma rede de perfis que, nas redes sociais, podem confundir um observador desavisado. Mas, em bom português, são todos falsos.
Com objetivos diferentes, a militância virtual ganhou um exército de perfis forjados para ajudar na propagação da imagem que os políticos gostariam de alcançar. Eles buscam atingir diretamente o eleitorado ao mesmo tempo em que atacam os rivais: um resultado dificilmente conquistado não fossem as facilidades da internet. Esse serviço durante uma campanha eleitoral para deputado, por exemplo, sai por volta de 25 000 reais. No caso de governadores e presidentes, o valor é um pouco maior.

A prática existe desde que publicitários e marqueteiros perceberam o gigantesco potencial das redes sociais. Inicialmente, a mobilização espontânea de militantes demonstrou ser eficiente. O passo seguinte foi organizar apoiadores pagos para criar uma onda artificial na opinião pública. A prática de usar blogs e plataformas sociais para propaganda dissimulada tem até nome próprio: seeding marketing - o "seeding" vem do verbo em inglês "semear".

O serviço prestado ao PSDB é sofisticado e inclui a criação de personagens virtuais que, apesar de existirem apenas na criativa imaginação de seus idealizadores, comportam-se como pessoas reais. O exército fictício de militantes mantém blogs e perfis nos sites Facebook, Twitter, Google+ e Youtube. Os perfis seguem um padrão: retratam pessoas jovens, de boa aparência e, claro, militantes de Aécio Neves. E, para atrair a confiança dos internautas, fazem comentários sobre esportes, cinema, variedades. Entre um post e outro, embutem um elogio ao senador ou uma crítica ao governo federal. Os publicitários acreditam que, dessa forma, podem conquistar o internauta.

O site de VEJA identificou alguns dos nomes por trás dos militantes falsos pró-Aécio. Um deles é Jorge Lopes Cançado, estudante de publicidade e diretor de Mobilização do PSDB Mineiro. Ele se identifica como "analista de redes sociais". É o mesmo cargo de Guilherme Parreiras, que também trabalha na manutenção dos perfis fictícios. Ambos moram em Belo Horizonte e trabalham na Brasil Comunicação. Ambos negaram qualquer ligação com a guerrilha virtual de Aécio - apesar dos indícios.

A empresa funciona em um escritório na Savassi, região central de Belo Horizonte. O dono da companhia é Zuza Nacif, publicitário ligado ao secretário-geral do PSDB, o deputado federal Rodrigo de Castro (PSDB-MG). Nacif é um nome já conhecido dentro do PSDB. Foi secretário de Comunicação de Lavras (MG) e atuou em campanhas de diversos tucanos, como a do atual governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia. Hoje, com a ala mineira da sigla em evidência, ele tem influência no comando da comunicação social do partido.