quarta-feira, 22 de maio de 2013

Publicado em 21/05/2013

EDITORIAL I:
TRISTEZA NÃO TEM FIM

Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises 

Por Geraldo Elísio

“Seguro morreu de velho e prevenido assistiu ao enterro dele”.

Apesar de todas as dificuldades que a vida nos antepõe pelo menos uma vantagem existe: ao final reina a verdade soberana, ainda que para a ela se chegar caminhos ásperos tenham que ser percorridos.
Um policial quando detém um sequestrador que invade a casa de um cidadão de bem, imediatamente investe-se da aura de um herói, e de fato no exercício legal de suas funções passa a ser isto mesmo. 

Mas coitado deste mesmo policial se no amanhã ele tiver de envolver as suas mesmas funções legais quanto a uma infração do mesmo “cidadão de bem”. 
Perde o heroísmo e no mínimo transforma-se em “infrator dos direitos humanos”, mesmo sem sequer encostar de leve um dedo no personagem.
No jornalismo a mesma coisa. Eu, como repórter, se noticiar a presença de uma autoridade acompanhado da esposa e filhos em um evento elegante, no mínimo sou “um grande texto”. 
Mas se esta autoridade bater o carro em frente a um motel, ou seja, lá onde for acompanhado de sua amante, na mesma hora recebo o título de “imprensa marrom”. 
Eu e qualquer colega em idêntica situação.
Por isso não me canso de repetir, não tenho nada contra ninguém, no exercício de minha profissão tenho deveres dos quais não posso fugir, principalmente das provas que caracterizam a verdade sem o que a mesma se transforma em calúnia ou difamação. 
Tenho tudo a ver com a verdade dos fatos porque a notícia não pertence a ninguém. 
Vale a pena até ser um pouco lugar comum ao dizer que a notícia é do povo. E como ao final sempre aparece à verdade soberana, nada de mais acrescentar que por isso mesmo toda a censura é burra.
E é por este viés que estão se perdendo o senador Aécio Neves e sua irmã Andréa Neves. 
Nenhum veículo de imprensa foge ao princípio de informar crimes e acidentes com mortes – no caso ocorridas entre 1985 e 2000 – envolvendo o ex-governador de Minas Gerais sem dispor de provas. 
Os inquéritos podem até “estar desaparecidos”, mas Novojornal tem documentação cartorial, obviamente com backups em locais seguros e não obviamente na redação. Inclusive no exterior. 
Da mesma forma o envolvimento de Aécio na década de 80 com uma quadrilha de tráfico de drogas comandada pelo irmão de sua então namorada, resultando na morte de dois policiais civis. 
Inquéritos na mesma situação quanto às provas das quais dispõem o Novojornal inclusive com backups  também no exterior.
E por fim o prontuário médico das diversas internações do senador Aécio Neves por overdose no Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, durante o tempo em que governou Minas Gerais. 
Inclusive tanto o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, quanto a sua irmã Andréa Neves, no cumprimento do dever jornalístico de ouvir todas as partes foram indagados a respeito destes e outros assuntos via Notificação Extra Judicial sem que nada respondessem.
Isto é triste? Não tem a menor dúvida. 
Como é triste a morte de qualquer ser humano e que tem de ser noticiada. 
Como é triste noticiar a morte coletiva em acidentes naturais ou humanos de grandes proporções. Mas é um dever profissional que em todo o mundo onde exista liberdade de imprensa se chama fazer jornalismo.
Com provas inquestionáveis e o direito de resposta antecipadamente oferecido. 
Nos Estados Unidos da America do Norte os jornalistas Carl Bernistein e Paul Woodward, quando eram repórteres investigativos do Washington Post, denunciaram o escândalo envolvendo o então presidente Richard Nixon, ao promover a escuta clandestina de seus adversários no edifício Watergate, quase no final da Pennsiyvania Avenue, em frente a  Casa Branca, prédio onde o ex-governador Itamar Franco tinha um apartamento no quarto andar.
Garganta Funda – Deep Troat em inglês – foi o codinome de quem repassou as informações aos dois jornalistas que desmascararam Nixon em seu propósito de vencer por meio ilícitos os adversários democratas. 
Só em 31 de maio de 2005 é que se ficou sabendo que o “Garganta Funda” era W. Mark Felt, vice diretor número dois do FBI na década de 70. Ele faleceu aos 94 anos de idade em 19 de dezembro de 2008.
É de se supor que a Casa Branca tenha se empenhado em descobrir a fonte, mas nunca “arapongando” o “Washington Post” ou com ameaças a Carl Bernstein e Bob Woodward, porquê lá como cá o sigilo da fonte – nos EUA a Emenda Constitucional nº Um  – é uma garantia constitucional. O que lá impede “empastelamentos” promovidos via promotora Vanessa Fusco à frente do “Coronel Praxedes e seus Arapongas Amestrados”. 
Nos Estados Unidos da América do Norte Richard Nixon renunciou ao seu mandato para não ser cassado e Woodward e Bernstein acabaram se transformando num longa metragem que todas as autoridades e jornalistas deviam ver, chamado “Todos os Homens do Presidente”, um filme de Alan J. Pakula com Dustin Hoffman e Robert Redford estrelando, rodado em 1972.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.
geraldo.elisio@novojornal.com

O palhaço somos nós

Editorial II:
BUSQUEM A CAUSA NÃO A DOENÇA

Por Geraldo Elísio

“No caminho da imprudência sempre haverá uma força à espera de seu dono.” – Edmir de Jesus

Parecem, todos os interessados em descobrir os autores do boato de que o Programa “Bolsa Família” ia ser extinto, provocando rebeliões populares e invasões de agência bancárias. Sem contar o elevado número de saques efetuados nos caixas.
O assunto é lógico, tem a sua gravidade. Porém, me preocupo mais com o seu significado diante do esgarçamento da credibilidade das instituições – todas as comporem o Triângulo de Montesquieu – diante do povo brasileiro. Vejo o episódio como a síndrome da fadiga de material.
Seja lá quem for que tenha dado início ao boato, muito mais que atirar no que viu pretendendo ver, acertou no que não viu, expondo um traço de revolta espontânea gerada por “n” fatores que entre outros “vírus” englobam a impunidade das elites dominantes, a falta da segurança pública, a precariedade dos serviços públicos de saúde e como sempre o descaso para com o sistema educacional.
Fala-se muito de um novo Brasil, superior às nações européias, como se aqui pudesse ser reeditado o novo sonho americano, o american way of life, embora a dependência de um curto salário somente diante de um boato de extinção tenha causado tamanha revolta. Quem espalhou tal boataria beira as raias da sandice, mas é ultrapassar a loucura ignorar o conjunto de fatores que podem desencadear uma rebelião espontânea das massas.
Entre muitos, os romanos legaram à civilização ocidental um ensinamento: Panis et circenses”. Pão e circo. O povo, via preços altos, já foi afastado dos circos modernos, os estádios que passaram a se chamar arenas. A falta de pão levará ao caos total já se prenunciando com o transporte coletivo de qualificação inaceitável, a insegurança pública, a doença do sistema de saúde e educação precária. Quem viver verá. Principalmente diante da falta de perspectiva, com todo mundo plagiando o slogan da vodka Orloff: “Eu serei você amanhã”.
Tendo em algum momento de minha vida sido publicitário, ouso contrariar o criador de tão famoso slogan. Sem paciência para esperar o amanhã, hoje mesmo eles já se igualam e não precisa mais do que uma fagulha próxima a um tanque de gasolina ou um barril de pólvora para o início de um belo incêndio – conceito filosófico do belo trágico – ou uma sonora explosão.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

geraldo.elisio@novojornal.com
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