terça-feira, 21 de maio de 2013




EDITORIAL: SERÁ QUE O ET VOLTARÁ?

Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises

Por Geraldo Elísio

“Entre Jesus Cristo e o ladrão Barrabas a multidão preferiu a liberdade do ladrão.” – Episódio bíblico.


Em Varginha, cidade do sul de Minas Gerais, famosa no mundo inteiro por um episódio envolvendo supostos extraterrestres, o juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da comarca daquele município, ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a um sujeito preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao delegado: “Desde quando furto é crime neste Brasil de bandidos?” 
O magistrado lavrou então sua sentença em versos.

Insólito, mas no Brasil atual andam acontecendo coisas que até os ETs duvidam, porém o magistrado no mínimo foi didático ao apontar ao Brasil o nível de stress de material a que estamos chegando e com o desabastecimento de peças de restituição maiores que a falta de papel higiênico na Venezuela, embora, no Brasil, o uso deste produto – principalmente nas ditas instituições legais – seja extremamente necessário. Mas vamos à sentença do meritíssimo.

No dia cinco de outubro / do ano ainda fluente,/ em Carmo da Cachoeira,/ terra de boa gente ocorreu um fato inédito / que me deixou descontente.
O jovem Alceu da Costa, / conhecido por 'Rolinha',/ aproveitando a madrugada /resolveu sair da linha,/ subtraindo de outrem / duas saborosas galinhas.
Apanhando um saco plástico / que ali mesmo encontrou / o agente muito esperto / escondeu o que furtou, / Deixando o local do crime da maneira como entrou.
O senhor Gabriel Osório, / homem de muito tato, / notando que havia sido / a vítima do grave ato / procurou a autoridade / para relatar-lhe o fato.
Ante a notícia do crime / a polícia diligente / tomou as dores de Osório / e formou seu contingente: / um cabo e dois soldados / e quem sabe até um tenente.
Assim é que o aparato / da Polícia Militar / atendendo a ordem expressa / do delegado titular, não pensou em outra coisa / senão em capturar.
E depois de algum trabalho /o larápio foi encontrado. / Num bar foi capturado, não esboçou reação. / Sendo conduzido então / à frente do delegado.
Perguntado pelo furto / que havia cometido, / respondeu Alceu da Costa / bastante extrovertido / desde quando furto é crime / neste Brasil de bandidos?
Ante tão forte argumento / calou-se o delegado./Mas por dever do seu cargo o flagrante foi lavrado. Recolhendo à cadeia / aquele pobre coitado.
E hoje passado um mês /de ocorrida a prisão /chega-me às mãos o inquérito /que me parte o coração. / Solto ou deixo preso / esse mísero ladrão?
Soltá-lo é decisão / que a nossa lei refuta. / Pois todos sabem que a Lei / é prá pobre, preto e puta... / Por isso peço a Deus / que norteie minha conduta.
É muito justa a lição /do pai destas Alterosas./ Não deve ficar na prisão /quem furtou duas penosas, / se lá também não estão presos/ pessoas bem mais charmosas.
Afinal não é tão grave / naquilo que Alceu fez. / Pois nunca foi do governo / nem seqüestrou o Martinez. / E muito menos do gás / participou alguma vez.
Desta forma é que concedo / a esse homem da simplória, / com base no CPP / liberdade provisória. Para que volte para casa e passe a viver na glória.
Se virar homem honesto / e sair dessa sua trilha, permaneça em Cachoeira / ao lado de sua família. / Devendo, se ao contrário, / mudar-se para Brasília.

Alguns poderão questionar que editorial é a coisa mais séria do jornal e concordo, embora o humor, principalmente o elegante e ferino, sejam igualmente sérios. Razão pela qual  Henfil,  Nilson Azevedo,  seu legítimo sucessor,  Caulus,  Ricardo, Chico Marinho,  Quinho,  Chico Caruso, Son Salvador, Aroeira,  Erick Fontes e tantos outros são considerados por mim verdadeiros editorialistas do traço.
E para não perder a pose de crítico literário me arrisco a uma correção do poema que encontrei no FaceBook e do qual não tenho certeza se poderá elevar o autor à categoria da imortalidade. Preto e puta são condenados pela Justiça sim e pagam cadeia, mas desde que sejam pobres. Se forem ricos, jamais. Pobre, este sim vê o sol nascer quadrado ainda que seja lourinho igual a dinamarquês. Quanto aos charmosos que estão fora das prisões, aproveitando os inúmeros estádios construídos em torno dos mesmos dever-se-ia envolvê-los em grades e para lá expedir toda esta gente, inclusive quem os construiu, por um direito adquirido em primeiro lugar João Havelange seguido de Ricardo Teixeira. Fica o espaço aberto para quem quiser acrescentar mais nomes de charmosos e sendo politicamente correto as charmosas também.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

geraldo.elisio@novojornal.com