EDITORIAL:
SERÁ QUE O ET VOLTARÁ?
Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso
Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises
Por Geraldo Elísio
“Entre
Jesus Cristo e o ladrão Barrabas a multidão preferiu a liberdade do ladrão.” –
Episódio bíblico.
Em Varginha, cidade do sul
de Minas Gerais, famosa no mundo inteiro por um episódio envolvendo supostos
extraterrestres, o juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da comarca daquele
município, ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a um sujeito
preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao delegado:
“Desde quando furto é crime neste Brasil de bandidos?”
O magistrado lavrou então sua sentença em versos.
Insólito, mas no Brasil
atual andam acontecendo coisas que até os ETs duvidam, porém o magistrado no
mínimo foi didático ao apontar ao Brasil o nível de stress de material a que
estamos chegando e com o desabastecimento de peças de restituição maiores que a
falta de papel higiênico na Venezuela, embora, no Brasil, o uso deste produto –
principalmente nas ditas instituições legais – seja extremamente necessário.
Mas vamos à sentença do meritíssimo.
No
dia cinco de outubro / do ano ainda fluente,/ em Carmo da Cachoeira,/ terra de
boa gente ocorreu um fato inédito / que me deixou descontente.
O
jovem Alceu da Costa, / conhecido por 'Rolinha',/ aproveitando a madrugada
/resolveu sair da linha,/ subtraindo de outrem / duas saborosas galinhas.
Apanhando
um saco plástico / que ali mesmo encontrou / o agente muito esperto / escondeu
o que furtou, / Deixando o local do crime da maneira como entrou.
O
senhor Gabriel Osório, / homem de muito tato, / notando que havia sido / a
vítima do grave ato / procurou a autoridade / para relatar-lhe o fato.
Ante
a notícia do crime / a polícia diligente / tomou as dores de Osório / e formou
seu contingente: / um cabo e dois soldados / e quem sabe até um tenente.
Assim
é que o aparato / da Polícia Militar / atendendo a ordem expressa / do delegado
titular, não pensou em outra coisa / senão em capturar.
E
depois de algum trabalho /o larápio foi encontrado. / Num bar foi capturado,
não esboçou reação. / Sendo conduzido então / à frente do delegado.
Perguntado
pelo furto / que havia cometido, / respondeu Alceu da Costa / bastante
extrovertido / desde quando furto é crime / neste Brasil de bandidos?
Ante
tão forte argumento / calou-se o delegado./Mas por dever do seu cargo o
flagrante foi lavrado. Recolhendo à cadeia / aquele pobre coitado.
E
hoje passado um mês /de ocorrida a prisão /chega-me às mãos o inquérito /que me
parte o coração. / Solto ou deixo preso / esse mísero ladrão?
Soltá-lo
é decisão / que a nossa lei refuta. / Pois todos sabem que a Lei / é prá pobre,
preto e puta... / Por isso peço a Deus / que norteie minha conduta.
É
muito justa a lição /do pai destas Alterosas./ Não deve ficar na prisão /quem
furtou duas penosas, / se lá também não estão presos/ pessoas bem mais
charmosas.
Afinal
não é tão grave / naquilo que Alceu fez. / Pois nunca foi do governo / nem seqüestrou
o Martinez. / E muito menos do gás / participou alguma vez.
Desta
forma é que concedo / a esse homem da simplória, / com base no CPP / liberdade
provisória. Para que volte para casa e passe a viver na glória.
Se
virar homem honesto / e sair dessa sua trilha, permaneça em Cachoeira / ao lado
de sua família. / Devendo, se ao contrário, / mudar-se para Brasília.
Alguns poderão questionar
que editorial é a coisa mais séria do jornal e concordo, embora o humor,
principalmente o elegante e ferino, sejam igualmente sérios. Razão pela
qual Henfil, Nilson Azevedo, seu legítimo sucessor,
Caulus, Ricardo, Chico Marinho, Quinho, Chico Caruso, Son
Salvador, Aroeira, Erick Fontes e tantos outros são considerados por mim
verdadeiros editorialistas do traço.
E para não perder a pose
de crítico literário me arrisco a uma correção do poema que encontrei no
FaceBook e do qual não tenho certeza se poderá elevar o autor à categoria da
imortalidade. Preto e puta são condenados pela Justiça sim e pagam cadeia, mas
desde que sejam pobres. Se forem ricos, jamais. Pobre, este sim vê o sol nascer
quadrado ainda que seja lourinho igual a dinamarquês. Quanto aos charmosos que
estão fora das prisões, aproveitando os inúmeros estádios construídos em torno
dos mesmos dever-se-ia envolvê-los em grades e para lá expedir toda esta gente,
inclusive quem os construiu, por um direito adquirido em primeiro lugar João
Havelange seguido de Ricardo Teixeira. Fica o espaço aberto para quem quiser
acrescentar mais nomes de charmosos e sendo politicamente correto as charmosas
também.
Este espaço é
permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e
instituições aqui citadas.