sexta-feira, 14 de junho de 2013

POBRE E TRISTE, COMO O PRÓPRIO POVO.

Publicado em 14/06/2013

EDITORIAL: GENTE HUMILDE - Por Geraldo Elísio

Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises

“ (...) São casas simples / Com cadeiras na calçada /  E na fachada / Escrito em cima que é um lar / Pela varanda / Flores tristes e baldias / Como a alegria / Que não tem onde encostar /  E aí me dá uma tristeza / No meu peito / Feito um despeito / De eu não ter como lutar / E eu que não creio / Peço a Deus por minha gente / É gente humilde / Que vontade de chorar.” – 
Gente Humilde – Garoto, Chico Buarque e Vinícius de Moraes


Não duvido em momento algum que alguns profissionais da imprensa, nestes tempos bicudos de emprego, para não perder algum dos minguados lugares ainda existentes, a mando dos patrões ou através de editores e pauteiros carreguem a mão na tinta dando uma amplitude maior aos eventos de rua contra o aumento dos preços do transporte coletivo, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. 

O PIG definitivamente não pode parar. Se for possível enviar um de seus repórteres ao Palácio do Planalto, dotado de algum poder especial para retirar dona Dilma do local que ela ocupa e substituí-la por alguém do interesse deles não haverá o menor escrúpulo em fazê-lo.

Mas igualmente é bom o governo não ignorar a latente fadiga de material, o descrédito popular, as massas populares tristes que trafegam por ruas e praças de todo o Brasil expressando cansaço e desesperança em seus rostos precocemente envelhecidos. Lógico, na última década houve avanços e progressos significativos, mas os políticos e os cientistas da área não podem desconhecer que é natural a cada degrau conquistado o homem ter o desejo de ascender a outro mais alto incentivado pela filosofia e ideologia consumista dos tempos modernos.

Para Milton Friedman, o Papa do neoliberalismo, e Francis Fukuyama, para quem a História acabou, os banqueiros e outros afortunados da sorte tudo pode estar muito bem, mas para o povão a situação difere muito do pensamento deles. Em qualquer auditório de programa televisivo que ofereça um milhão de reais em prêmio a que responder correto quem é Friedman ou John Maynard Keynes certamente as companheiras de trabalho perderão a chance. Porém nos supermercados, elas, em função da prática empírica respondem com o máximo de exatidão se um aumento da passagem de ônibus ou metrô lhes permite, ao final de um mês onde cada vez sobra menos salário, levar ou não para casa onde seus filhos aguardam um pacote de goiabada cascão, no caso desconsiderado com muito queixo, a exemplo do Rancho da Goiabada, de João Bosco e Aldir Blanc.

O rádio de pilha, o fogão jacaré, a marmita, o domingo no bar. Onde tantos iguais se reúnem contando mentiras pra poder suportar. Ai são pais de santo, paus de arara são passistas, são flagelados, são pingentes, balconistas, palhaços, marcianos, canibais, lírios, pirados,dançando dormindo de olhos abertos à sombra da alegoria dos faraós embalsamados.

Os rádios de pilha num misto de verdade e maldade informam que a marmita passa a custar mais caro e coisas mais concretas. Mesmo se contando mentira não dá pra suportar, principalmente pingentes, balconistas, palhaços inclusives se tristes. Nada mais tristonho que um palhaço triste. Marcianos, se existem, lá do alto devem ver tudo com exata incompreensão. 

Vendo canibais, lírios, pirados, sobretudo pirados, dançando, dormindo de olhos abertos à sombra da alegoria dos faraós embalsamados.
E como têm faraós embalsamados, principalmente em Brasília. A Capital Federal não é o Egito, mas ali parece ter um Vale dos Reis ainda maior. No Palácio do Planalto, Palácio da Justiça e Congresso Nacional o que não falta são anacrônicos faraós embalsamados. 

E a turma de fora que pretende entrar igualmente não passa de gente embalsamada a exemplo de Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves – o faraó menino – Geraldo Alkimim, José Serra e tantos outros viciados em ouro, incenso e mirra. Zombies que melhor estariam em filmes de terror de Werner Herzog da escola de cinema expressionista alemã.

E por falar em cinema, nas ruas, a exemplo de filmes violentos do diretor Spike Lee, as polícias militares cumprindo ordens e atirando nos manifestantes que buscam apenas uma lata de goiabada a mais em suas cestas básicas. Eles cumprem ordens! Mas amanhã, quando eles forem para as ruas em outras greves com pautas de reivindicações iguais. Com qual moral farão isto? E se receberem ordens para atirar em seus pais, irmãos e irmãs, primos e primas, noivas e noivos, namorados ou namoradas, irão disparar, ainda que com balas de borracha? 

Paciência, pode até ser de látex, ou seja, espicha até um limite máximo de rompimento. E a isto damos o nome de fadiga de material e esgarçamento social, valendo a rima pobre e triste como o próprio povo.